Rolê 22 discute a diáspora africana no (simbólico) dia 13 de maio

O segundo (de três) encontro traz pensadores e artivistas para fazer uma reflexão sobre o legado da Semana de Arte Moderna de 1922 sob outros pontos de vista; corpas, identidades e territórios dissonantes celebram o legado cultural deixado pelos povos indígenas e afro-brasileiros…

 

 

 

No centenário da Semana de Arte Moderna no Brasil, o campo das Artes e da Educação passa por um momento de questionamento profundo da Colonialidade. É aí que o Rolê 22 entra: valorizar fazeres e saberes locais – em territórios pelos danos da herança colonialista.

Depois de reunir artistas e artivistas de origem indígena, o Rolê 22 se volta aos legados africanos. A segunda prosa do Rolé 22 tem como foco as heranças dos povos afro-brasileiros e acontecerá no dia 13 de maio de 2022, a partir das 19h. A data escolhida – dia que foi assinada a Lei Áurea – é para reforçar o dia da invenção da liberdade no Brasil.

O local escolhido é o Quilombo Ivaporunduva, localizado no Município de Eldorado São Paulo, na SP 165, Eldorado/Iporanga, às margens do Rio Ribeira de Iguape. Ali vivem cerca de 80 famílias, perfazendo mais de 300 pessoas.

O encontro será presencial (os convidados do quilombo estarão de forma presencial na data do evento), porém sem a presença de público, que poderá conferir tudo online a partir do dia 9 de julho, no www.role22.com.br e no Instagram do projeto (instagram.com/rolevintedois).

Participam Ditão (agricultor e liderança do Quilombo de Ivaporunduva, também atua no turismo na região de Eldorado/SP); Rodrigo Marinho ((liderança local, regional e estadual dos quilombolas), Giselda Perê (mestre, artista e educadora, fundadora do Agbalá Conta, dedicada à criação na arte da narrativa e atriz no Clã do Jabuti, e diretora artística na Cia Quatro Ventos); Glaucea Helena de Britto (curadora assistente do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e formadora do Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação (NEER/SME-SP); Aline Chermoula (chefe de cozinha, professora e pesquisadora da cozinha ancestral afrodiaspórica, chef proprietária da Chermoula Cultura Culinária, professora na Gastromotiva, colunista na Vogue Brasil e no Site Mundo Negro). A conversa será mediada por Maíra da Rosa (educadora, cantora, vocalista da banda Samba de Dandara, graduada em Letras pela PUC SP, mestre em Educação).

Dessa Ferreira (produtora musical, compositora, cantora, multi- instrumentista, arte educadora, dedicada a linguagem dos tambores) fará intervenções artísticas entre as falas dos convidades.

A terceira e última roda de conversa será no dia “de São João”, 24 de junho, em uma comemoração Junina na Ocupação 9 de julho, em São Paulo.

Se em 1922 os modernistas se reuniram no Theatro Municipal de São Paulo para afrontar a ordem estabelecida e marcar presença nas comemorações do Centenário da Independência do Brasil, em 2022 o Rolê 22 adentra nos territórios ancestrais para esboçar respostas para as perguntas retóricas: “O que temos a celebrar?” “Que modernidade nos atravessou?” “No Bicentenário da Independência deixamos de ser colônia?”. A ideia é contextualizar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Esse é o objetivo do “Rolê 22”, que reunirá uma série de ações para oferecer outras visões sobre o que entendemos por legado.

E esses questionamentos perpassam as práticas institucionais e alcançam a vida cotidiana. E são provocações dirigidas a todes: descendentes dos povos tradicionais e descendentes dos milhares de imigrantes que juntes pintaram esse quadro de cores ainda pouco definidas chamado Brasil.

O projeto tem realização do CPBrazil e Governo do Estado de São Paulo através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.

 

Uma questão de herança
Ainda que a Semana de Arte Moderna de 1922 tenha entrado para a história como sinônimo de ruptura estética do seu tempo, deixou bastante a desejar quanto à representatividade racial e de gênero perpetuando assim traços da Colonialidade do poder e do saber, no mesmo ano em que se comemorava o centenário da Independência do Brasil. Por mais que os seus mentores tenham focado nos esforços de desvelar um “novo caráter provocativo” nas Artes, o grande evento foi conduzido majoritariamente por homens brancos cujos referenciais apontavam para a Europa como centro do pensamento e da produção artística mundial e tendo São Paulo e Rio de Janeiro como eixos dominantes da circulação intelectual e política do país.

O relatório “Inequality Kills” (A Desigualdade Mata) revela que os dez homens mais ricos do mundo viram a sua riqueza mais que duplicar desde o início da pandemia. Por outro lado, os rendimentos de 99% da população mundial diminuíram desde março de 2020 (disponível em https://www.oxfam.org/en/research/inequality-kills).

Isto no âmbito acadêmico, nas práticas institucionais e principalmente nos modos da vida cotidiana, onde – emergem como potências que alteram e desestabilizam a ordem vigente ao mesmo tempo que impulsionam coletivos culturais, produções artísticas independentes e práticas pedagógicas emancipadoras descentralizadas no amplo sentido do termo. Neste momento em que questões globais trazem à tona mais uma vez a necessidade de grupos subalternizados resistirem a antigas opressões do sistema colonial e seus engendramentos estruturais, como o racismo e o sexismo.

Por isso que o Rolê 22 quer provocar a discussão sobre o “não-lugar” das populações minorizadas, principalmente no campo da arte e na vida acadêmica, ao mesmo tempo que oferece ferramentas e pontes para que essas pessoas tenham mais acessos.

 

 

 

 

Rolê 22 – Encontros Artísticos
13 de maio de 2022, Instagram @rolevintedois
Gravação a partir do Quilombo de Ivaporunduva (em Eldorado São Paulo)

Minibios dos Participantes

Aline Chermoula – é chefe de cozinha, professora e pesquisadora da cozinha ancestral afrodiaspórica, chef proprietária da Chermoula Cultura Culinária, professora na Gastromotiva, colunista na Vogue Brasil e no Site Mundo Negro. Há 21 anos trabalha com alimentação e há 13 pesquisa sobre cultura afro-americana. Sua luta é pela valorização da contribuição da cultura culinária dos pretos na formação da cozinha brasileira.

Dessa Ferreira – é produtora musical, compositora, cantora, multi- instrumentista, arte educadora , dedicada a linguagem dos tambores e a produção musical de pessoas negras, indígenas e LGBTQIAP+. Dessa é filha de piauienses, nasceu e cresceu na periferia do DF, e vive no RS desde 2014, onde se formou bacharel em MÚSICA POPULAR pela UFRGS e é uma das fundadoras do grupo Três Marias e do Ngoma (projeto sócio-cultural), além de ser regente e idealizadora do coletivo de mulheres negras e indígenas percussionistas – Pretambor.

Ditão – Benedito, conhecido como Ditão, é agricultor e liderança do Quilombo de Ivaporunduva, além de trabalhar com turismo na região de Eldorado/SP. É liderança nacional e atua em organizações sociais de quilombolas.

Giselda Perê – é mestra em arte/educação pelo Instituto de Artes da Unesp, artista e educadora há mais de 20 anos, dedica-se a criação artística que valorize as sabedorias, as estéticas e a oralidade presente em nossas ancestralidades africanas e afro-brasileiras. Na educação já atuou em sala de aula por mais de 10 anos, e há 12 anos fundou a Agbalá Conta e com ela, dedica-se a criação na arte da narrativa, à formação de artistas e professores que buscam descolonizar o pensamento, e investigar novas epistemologias fundadas nas culturas tradicionais pretas africanas e brasileiras. É atriz no Clã do Jabuti, e diretora artística na Cia Quatro Ventos.

Glaucea Helena de Britto – é curadora assistente do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP ) e formadora do Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação (NEER/SME-SP). É mestranda no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo (PGEHA-USP) e possui certificado em Estudos Afro-Latino-Americanos pela Universidade de Harvard.

Maíra da Rosa – Mulher negra cisgênera, filha de Oxum, iyawo do Ilê Axé Oju Oya/SP, educadora, cantora, vocalista da banda Samba de Dandara, graduada em Letras pela PUC SP, mestre em Educação: Currículo pela PUC SP, educadora de Tecnologias e Artes do Sesc São Paulo.

Rodrigo Marinho – quilombola do quilombo Ivaporunduva região do vale do ribeira município de Eldorado/SP. Liderança local, Regional e Estadual estou como articulador Regional quilombola da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras (EAACONE).

 

Foto: Ditão (liderança do Quilombo de Ivaporunduva); Giselda Perê (mestre, artista e educadora); Rodrigo Marinho (representante da EAACONE); Glaucea Helena de Britto (curadora assistente do MASP); Aline Chermoula (chefe de cozinha, professora e pesquisadora da cozinha ancestral afrodiaspórica); Maíra da Rosa (educadora, cantora, vocalista da banda Samba de Dandara)./Divulgação

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