Solo com atuação e direção de Cácia Goulart a partir de texto de Reni Adriano estreia no Auditório do Sesc Pinheiros no dia 09 de junho, às 20h…
O que aconteceria se uma mulher branca de classe média alta realmente se descobrisse branca? A que custo isso se daria, e qual o discurso possível dessa constatação? Foi a partir dessa provocação que o dramaturgo Reni Adriano e a atriz Cácia Goulart conceberam o solo A idade da peste, que estreia dia 09 de junho, às 20h no Auditório do Sesc Pinheiros.
Em cena, Senhora C. assiste ao assassinato do filho da empregada, encurralado pela polícia, dentro da sua casa de classe média alta. O episódio desencadeia um profundo exame de consciência em que os desejos inconfessados da branquitude emergem como um marcador racial aterrorizante, questionando a própria possibilidade de justiça em um mundo feito à imagem e semelhança dos brancos.
Mas engana-se quem espera da atuação de Cácia Goulart uma personagem branca se autoelogiando como “antirracista” ou performando mea culpa e comiseração. “Senhora C. não tem esse complexo de Princesa Isabel; não pretende ser reconhecida como a ‘branca redentora’ da causa. Pelo contrário: ela é consciente da infâmia do lugar racial que ocupa, sabe que esse lugar é indefensável”, reflete Cácia, que também assina a direção da peça. Para ela, o risco da abordagem pelo viés escolhido seria a tentação de redimir a personagem, ou cobri-la de elogios por sua consciência racial. “Mas a desgraça dela é saber que não basta ter consciência: ela está, como branca, submersa na indignidade, uma vez que reconhece seu lugar na branquitude, mas é incapaz de desocupar esse lugar privilegiado”, conclui.
Para o dramaturgo Reni Adriano, esse assunto costuma ser violentamente rechaçado por pessoas brancas, porque instintivamente reconhecem que subjaz a esse tema-tabu uma dose dolorosa de vergonha e infâmia. “Mas o status da branquitude se perpetua e se atualiza justamente nesse silenciamento”, pondera. Além disso, o autor, que é negro, ironiza que escrever para uma atriz branca funcionaria como uma espécie de mascaramento para que brancos possam ouvi-lo de boa vontade. “O fato de sermos um país em que negros não têm um dia sequer de descanso só é possível ao preço de que os brancos tenham uma dignidade muito frágil. Eu quero questionar essa dignidade frouxa dos brancos. Debater racismo com negros é fácil; o que eu quero é racializar os brancos em cena e situá-los no lugar de suas responsabilidades”, crava.
Escrita por um dramaturgo negro, portanto, para atuação de uma atriz branca, a peça mobiliza e tensiona os marcadores identitários raciais de modo a evidenciar que, antes de ser um “problema de negros”, o racismo é um flagelo de brancos. O exercício de franqueza de uma mulher branca sobre a perversão de seu próprio status identitário torna A idade da peste uma assombrosa reflexão em que pensar o racismo é um debate sobre o mal.
Ficha Técnica
Texto: Reni Adriano
Direção e Atuação: Cácia Goulart
Voz Off: Samuel de Assis
Assistente de Direção: Inês Aranha
Desenho de Luz: Wagner Pinto
Música Original E Sound Design: Marcelo Pellegrini
Cenário e Figurino: Cácia Goulart
Colaboradores: José Geraldo Jr./Edmilson Cordeiro
Captação Imagens Vídeo: Nelson Kao
Edição e Videomapping: André Grynwask/Pri Argoud (Um Cafofo)
Fotos: Cacá Bernardes
Operador de Luz: Felipe Miranda
Operador de Som E Vídeo: Pedro Ricco Noce
Assessoria de Imprensa: Márcia Marques (Canal Aberto)
Produção Executiva: José Geraldo Jr.
Direção de Produção: Cácia Goulart
Produção: Núcleo Caixa Preta da Cooperativa Paulista de Teatro
Realização: Sesc
A Idade Da Peste
Com Cácia Goulart
Sesc Pinheiros
Auditório
Rua Paes Leme, 195, 3º andar – Pinheiros
Tel.: 11 3095-9400
De 9 de Junho a 02 de julho de 2022
Quinta, sexta e sábado, às 20h
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (meia-entrada)
R$ 9,00 (credencial plena)
Duração: 70 minutos
Classificação: 16 anos
Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 19h. Domingos e feriados das 10h às 18h.
*Informações sobre venda de ingressos no site www.sescsp.org.br
Cácia Goulart
Representante do Núcleo Caixa Preta da Cooperativa Paulista de Teatro, fundado em 1999 em parceria com Joaquim Goulart e Edmilson Cordeiro. Atriz, diretora e produtora cultural, três vezes indicada ao prêmio Shell na categoria Melhor Atriz, pelos espetáculos Navalha na carne, Bartleby e A morte de Ivan Ilitch, e duas vezes indicada ao Prêmio Aplauso Brasil — Melhor Direção, pelo espetáculo De volta a Reims, e Melhor Atriz e Melhor trabalho de Grupo, pelo espetáculo Hilda.
Reni Adriano
Graduado em Filosofia pela PUC/SP, é autor do espetáculo De volta a Reims (2019), inspirado em relato autobiográfico do filósofo francês Didier Eribon. Pelo romance Lugar (Editora Tinta Negra), recebeu os Prêmios Governo de Minas Gerais de Literatura 2009, na categoria ficção, e o Machado de Assis de Melhor Romance, da Fundação Biblioteca Nacional, em 2010, sendo ainda finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2011.
Foto: Cacá Bernardes
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