A atriz, diretora, dramaturga e ativista Renata Carvalho apresenta o espetáculo Manifesto Transpofágico no Centro Cultural São Paulo entre 15 e 19 de junho de 2022…
Além da temporada, a artista também oferece uma oficina gratuita para corpos dissidentes nos dias 14, 15 e 16 de junho, das 14h às 17h, com inscrições pelo e-mail contato@cororastreado.com; e leva ao espaço exemplares à venda do livro com a dramaturgia do espetáculo Manifesto Transpofágico.
Neste manifesto, Renata convida, em cena, o público a olhar o seu corpo travesti, incansavelmente, e apresenta a historicidade dele. “Meu corpo veio antes de mim, sem eu pedir”, diz Renata. “De certa forma, eu fiquei grávida de mim mesma. Eu me pari”. O solo aborda o “corpo etapa” dos hormônios, silicone industrial e próteses mamárias, o punitivismo, o encarceramento em massa, a censura, a patologia, a AIDS, a diáspora, as violências e assassinatos acometidos aos corpos trans/travestis: “Eu não me descobri travesti, me gritaram”, reforça a artista.
Renata fala baixo, pausada e ao microfone para “acalmar os olhos e os ouvidos cisgêneros” ao verem ou ouvirem a palavra travesti, repetida e iluminada diversas vezes, e pergunta: “Alguém quer me tocar?”.
Manifesto Transpofágico questiona como as pessoas enxergam o corpo travesti e, por isso, Renata não precisa do rosto. Ela explica: “Nós conhecemos as travestis recortadas, de cima do ônibus, a pé, de bicicleta, na moto ou no carro – ninguém chega perto ou conversa, porque somos perigosas – e é dessa fração de segundos que nossas imagens são formadas”.
O espetáculo é dividido em dois momentos: O primeiro é a apresentação do corpo travesti, suas historicidades, “transcestralidade” e as construções que rodeiam corpos trans/travestis. No segundo momento, Carvalho está na plateia e propõe uma conversa com o público expondo questionamentos pessoais e temas como cisgeneridade, passabilidade e perguntas de qualquer ordem.
Sobre Renata Carvalho
Renata Carvalho estuda corpos trans/travesti desde 2007 – mesmo ano do seu percebimento travesti – com o seu trabalho como APV (agente de prevenção voluntária) em ISTs, HIV/AIDS, hepatites e tuberculose – pela secretária municipal de saúde de Santos – trabalhando com travestis e mulheres trans na prostituição por 11 anos.
Inicialmente o estudo era mais voltado para o campo da saúde e política – Carvalho é ativista dos direitos humanos e LGBTs, com foco nas pessoas trans e travestis – e aos poucos, como artista, passa a estudar e recolher histórias, biografias, reportagens, artigos, publicações acadêmicas e produções artísticas com a temática trans/travestis, assim como, temas interseccionais.
No teatro desde 1996, Renata percebeu que a feminilidade do seu corpo dificultava sua presença nos palcos e isto fez com que atuasse na direção durante 10 anos. Em 2012, estreou como atriz no solo Dentro de mim mora outra, em que contava sua vida e travestilidade. Foi a primeira vez que a artista colocou seu corpo como objeto de pesquisa e passou a debatê-lo em cena. Em 2015, continuando esse processo, criou o solo Eu travesti.
____________________
Renata explica: “Em A aula, Roland Roland Barthes nos ensina que a língua é facista, e não porque te impede de dizer, mas sim porque te obriga a dizer. É preciso trapacear a língua, e é isso que eu também pretendo. Em Grande Sertão Veredas, Riobaldo diz: ‘Muita coisa importante falta nome’. Então resolvi nomeá-las, e o mais importante, passei a me nomear.”
____________________
A transpóloga nomeia seu estudo: “Transpologia”, que denuncia a construção social, midiática, patológica, religiosa, criminal e hiper sexualizante que permeia o imaginário do senso comum sobre pessoas trans/travestis. Imagético construído com o auxílio das artes com suas narrativas viciadas, estereotipadas e cheias de arquétipos com conteúdo transfóbico em suas apresentações e representações, a transfobia recreativa e o corpo risível das pessoas trans/travesti na arte e no humor, e por fim, a prática do transfake que exclui corpos trans/travestis dos espaços de atuação e criação artística.
Em março de 2017, Carvalho funda o MONART – Movimento Nacional de Artistas Trans, e dentro dele, o Manifesto Representatividade Trans – Diga SIM ao talento trans, que visa a representatividade, inclusão e permanência coletiva de artistas trans/travestis nos espaços artísticos, assim como, pedem uma pausa na prática do transfake. No mesmo ano funda o Coletivo T, primeiro coletivo artístico formado integralmente por artistas trans.
Manifesto Transpofágico é a continuidade desta pesquisa cênica. A transpofagia de Carvalho consiste em se alimentar das suas e dos seus – da sua transcestralidade – digere- as, devolvendo-as em arte, literatura e/ou educação. Carvalho também é graduanda em Ciências Sociais.
Ficha Técnica
Dramaturgia e atuação: Renata Carvalho
Direção: Luiz Fernando Marques (Lubi)
Luz: Wagner Antônio
Video Art: Cecília Lucchesi
Operação e adaptação de luz: Juliana Augusta
Produção: Rodrigo Fidelis / Corpo Rastreado
Co-produção: Risco Festival, MITsp e Corpo Rastreado.
Difusão: Corpo a Fora e FarOFFa
Manifesto Transpofágico
Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho
Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso
Informações: (11) 3397-4002
Capacidade: 321 lugares
Temporada: De 15 a 19 de junho de 2022
Quarta a sábado, 21h
Domingo, 20h
Ingressos: Grátis
Classificação indicativa: 16 anos
Sinopse
“Hoje eu resolvi me vestir com a minha própria pele. O meu corpo travesti”. Em Manifesto Transpofágico, Renata Carvalho “se veste” com seu próprio corpo para narrar a historicidade da sua corporeidade. Se alimenta da sua “transcestralidade”. Come-a, digere-a. Uma transpofagia. O Corpo Travesti como um experimento, uma cobaia. Um manifesto de um Corpo Travesti. O letreiro pisca TRAVESTI. TRAVESTI. TRAVESTI.
Foto: Danilo Galvão
1 comentário em “Renata Carvalho apresenta seu Manifesto Transpofágico, em curta temporada, no Centro Cultural São Paulo”Adicione o seu →