Espetáculo sobre o desespero humano diante de situações limite traz três casais que se encontram diante de uma escolha definitiva sobre seus futuros…
O espetáculo Wastwater segue em cartaz no Teatro Pequeno Ato agora, a partir de 30 de junho, com sessões às quintas e sextas às 21h, até 8 de julho.
O texto do autor inglês Simon Stephens, ganhou os palcos em 2011, em Londres, e obteve boa crítica. A peça estreou no Brasil com direção de Fernando Vilela e elenco formado por Ariel Rodrigues, Filipe Augusto, Fernanda Paixão, Gabriela Gama, Gabriela Moraes e Shirtes Filho.
A peça trata do desespero humano diante de situações limites e de como agimos nas sombras, longe dos holofotes e dos limites da sociedade. Situado ao redor do Aeroporto de Heathrow, Londres, Wastwater é um tríptico do instante onde três casais estão fazendo uma escolha definitiva sobre seus futuros.
Frieda e Harry, mãe e filho que têm uma relação possessiva, se encontram pela última vez antes de uma viagem sem volta. Lisa e Mark, casal de amantes, entram num jogo de sedução e limites, mas deixam transbordar dores e traumas antigos. E Sian e Jonathan, longe dos olhos de todos, estabelecem um acordo terrível e sem saída sobre um tema delicado. Assim como um tríptico, as três cenas estão interligadas.
Com essas três duplas, o autor joga luz sobre ações e desejos escondidos e provoca uma discussão sobre o que define nossos valores visíveis e ocultos e sobre como estamos cada vez mais naturalizados diante da violência cotidiana e diária. Wastwater é o nome do lago mais profundo da Inglaterra. E ele dá nome à peça justamente por essa dualidade entre superfície e profundeza que o autor propõe. Quem somos e nossos papéis diante dos outros são só a capa superficial que nos envolve. A crítica elogiou a montagem inglesa de 2011 por provocar uma sensação de incômodo e tratar, de maneira atraente, crises existenciais.
O texto chamou a atenção do diretor Fernando Vilela pela potência do jogo proposto em cena, mas ganhou novo sentido a partir da pandemia de Covid-19, que aumentou as sensações de solidão e medo. Por isso, ele provoca o público a se questionar como nos comportamos diante de todas essas mudanças de nossa realidade. E o texto de Stephens, mesmo escrito há mais de 10 anos, escancara justamente este incômodo encontro com uma violência silenciosa que se apresenta de diversas formas.
“Como estamos vivendo com a retina sendo bombardeada a todo instante de acontecimentos trágicos? Como estamos vivendo tendo muita morte no ar? Qual a medida que estabelecemos como normal? Em meio a uma escalada brutal do número de mortes e infectados num país que não apresentou planos de controle da doença; em meio às cabeças pretas sendo pisoteadas no asfalto; em meio a protestos, em meio a tudo isso, o texto de Simon Stephens se abre para novas chaves de ressonância”, diz Vilela.
O maior desafio de Vilela na direção e montagem da peça foi adicionar essa carga de atualidade e conexão sem mudar o texto de Simons. Ele optou também por manter o nome original pelo significado que ele traz.
“O mundo mudou muito desde que conheci esse texto. Com a chegada da pandemia, as necessidades, as urgências passaram a ser outras, em escalas maiores. Mas hoje, em 2022, passado o auge da pandemia e com a retomada dos trabalhos, o desafio maior é estar em relação com esse novo mundo, com essa nova configuração – ainda que estranha – de realidade. O texto do Simon Stephens é absurdamente vertiginoso, pois ele dá contorno às perguntas ainda sem respostas. E o que importa não são as respostas e as decifrações, mas os movimentos. As tentativas de movimento. O trânsito entre a superfície e a profundeza. E o reconhecimento de si nesse lugar”, explica o diretor.
O trabalho com os atores se deu em duas partes, uma on-line e a outra presencial. O grupo leu o texto pela primeira vez em março de 2020, “uma sexta-feira, antes do mundo fechar”, conta Vivela. “Passamos dois anos, já que tínhamos tempo, discutindo, lendo muitas e muitas vezes, investigando cada passo, analisando cada frase, cada palavra. E isso ajudou muito quando fomos para o presencial. Estávamos todos muito carregados do texto, querendo testar logo as possibilidades. E a construção, o trajeto do jogo, se deu de forma mais natural, muito por conta desse período extenso de análise”, conta o diretor.
“Eu sempre espero que o nosso trabalho seja uma oportunidade de olharmos para os nossos nós, os nossos vazios, nossas questões, nossos conflitos. Talvez a gente carregue alguma resposta durante esse processo, mas com certeza a gente carrega uma tentativa de início de alguma resposta. E eu espero que a peça consiga, na sua potência máxima, ser um disparador de movimento. Não há lugares estanques. Que a gente consiga ter consciência dos cantos escuros e das tomadas de decisão”, diz Vilela.
Ficha Técnica:
Texto: Simon Stephens.
Direção: Fernando Vilela.
Elenco: Ariel Rodrigues, Filipe Augusto, Fernanda Paixão, Gabriela Gama, Gabriela Moraes e Shirtes Filho.
Cenografia e direção de arte: Fernando Vilela.
Iluminação: Gabryel Matos.
Direção de produção: Daniele Aoki.
Produção executiva: Renata Reis.
Realização: Fresta e Árvore Azul.
Wastwater
Teatro Pequeno Ato
Rua Doutor Teodoro Baima, 78 – Vila Buarque.
Telefone: 11 99642-8350.
Capacidade: 40 lugares
De 30 de junho a 8 de julho
Quintas e sextas às 21h
Duração: 110 minutos
Classificação etária: 16 anos.
Bilheteria aberta com uma hora de antecedência
Aceita cartões.
Venda: Sympla e bilheteria.
Sobre o autor
Simon Stephens é um dos expoentes mais sólidos do cenário atual da dramaturgia inglesa. Com 51 anos, tem mais de 30 peças escritas, entre adaptações de textos clássicos e contemporâneos, como A Casa de Bonecas, de Ibsen, e A Gaivota, de Tchekhov, e peças que pensam o mundo atual e suas grandes questões: violência, paternidade, solidão, racismo. Seu trabalho é muito difundido na Europa e nos Estados Unidos. Venceu o prêmio Tony em 2015 com a peça The Curious Incident of the Dog in the Night-Time.
Sobre o diretor
Fernando Vilela é diretor, designer e artista visual. Formado em atuação pelo Teatro Escola Célia Helena, em Design de Moda pelo Istituto Europeo di Design e em cinema na FAAP, Vilela ministrou aulas de Method Acting/Lee Strasberg com Estrela Straus. Dirigiu as montagens Dolores, de Edward Allan Baker (2019); Tape, de Stephen Belber (2019); O Filho do Moony Não Chora, de Tennessee Williams (2018); Os Sobreviventes, de Caio Fernando Abreu (2016); e a montagem on-line de Tragédia: Uma Tragédia, de Will Eno (2021).
Foto: Gabryel Matos
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