E Lá Fora o Silêncio, com dramaturgia de Ave Terrena, estreia no Sesc Pinheiros

Este é o terceiro trabalho do Laboratório de Técnica Dramática – LABTD, com direção de Diego Moschkovich, que encerra a trilogia “Mural da Memória”, baseado em pesquisas a partir do material documental sobre a ditadura civil-militar…

 

 

 

 

E Lá Fora o Silêncio tem dramaturgia da escritora, diretora, performer e professora Ave Terrena, e direção do pedagogo teatral, diretor e tradutor Diego Moschkovich. A peça encerra a trilogia “Mural da Memória”, baseada em pesquisas documentais sobre a ditadura civil-militar brasileira, e a estreia acontece dia 22 de setembro, no Auditório do Sesc Pinheiros, às 20h, e segue até 15 de outubro.

E Lá Fora o Silêncio retoma a memória da ditadura brasileira a partir da história de Crístofer, que está de mudança e encontra cartas enviadas de dentro da prisão para sua irmã na época em que esteve encarcerado. Escritas em código, como forma de burlar a repressão, essas cartas narram a vida de presas políticas com quem ele convivia no presídio, até que os fragmentos começam a se embaralhar e criam uma confusão entre tempos. “A peça é sobre o encontro entre dois grupos invisíveis, silenciados e perseguidos pela ditadura: as mulheres cisgêneras participantes da resistência política e as pessoas transmasculinas que encontraram com elas no presídio feminino”, revela Ave Terrena. “A peça também é sobre o encontro entre a memória, caracterizada por essas mulheres e o personagem de Crístofer, e o contemporâneo, na figura do sobrinho e no slam de Jessica Marcele”, completa.

A peça tem a forma de uma apresentação de rodada de negócios, em que Cristofer e seu sobrinho tentam vender uma série audiovisual a potenciais financiadores do projeto. Além das cartas apresentadas e lidas para o público, as personagens Silaine, Iucatã e Alice se relacionam com as outras em forma de projeção. Suas histórias foram baseadas nas mulheres que tomaram parte da resistência armada contra a ditadura. “A ideia é que essas personagens apresentem, além do plano poético, trazido pelo texto da Ave, um plano documental-performativo. Elas não são apenas vozes do passado, mas imagens-fantasmas transversais do tempo”, afirma Diego Moschkovich.

 

Pesquisa
Como referência inicial na construção da peça, a dramaturga trouxe a pesquisa da professora Jaqueline Gomes de Jesus (IFRJ), que entende a memória em sua dimensão coletiva e seu caráter de seleção e reconstrução contínua, e o livro “Mulheres na luta armada” (2018), de Maria Claudia Badan Ribeiro. Além disso, o grupo também entrevistou mulheres que integraram organizações de resistência à repressão.

O projeto procurou referências de relatos publicados de pessoas LGBTQIA+ encarceradas, por exemplo “A Princesa”, de Fernanda Farias de Albuquerque (1994). A peça destaca a memória de pessoas transmasculinas, tão invisibilizadas quanto as mulheres cisgêneras da luta armada e pouco reconhecidas como vítimas da ideologia reacionária e patriarcal da ditadura militar. A dramaturgia foi construída com base no livro “A Queda para o Alto”, de Anderson Herzer (1981) e nas entrevistas de História oral de Vida realizadas pela dramaturga com o ator Leo Moreira Sá, que iniciou no projeto como entrevistado e hoje é um dos atores do elenco.

Além do presente trabalho, a pesquisa dramatúrgica do grupo, recriada continuamente em processo colaborativo, já mergulhou anteriormente em documentos históricos como os da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Comissão da Verdade do Estado de São Paulo ‘Rubens Paiva’, em livros como “Ditadura e Homossexualidades”, organizado por James Green e Renan Quinalha, nas edições do jornal Lampião da Esquina, e na História Oral de Vida de Neon Cunha.

A terceira peça do LABTD, Lá Fora o Silêncio, que estreia agora, em processo desde 2019, passou por um longo período de leituras coletivas e entrevistas com mulheres que integraram organizações de resistência à repressão. Algumas delas integram o espetáculo em vídeos gravados nas cenas criadas a partir de seus depoimentos: Ana Maria Ramos, Crimeia Almeida e Dulce Muniz interpretam o texto em versos de Ave Terrena. O contemporâneo tensiona os vídeos de inspiração documentária recriados na cena transtemporal do LABTD.

 

Mural da Memória
Desde 2015, o trabalho do LABTD encenou e publicou as peças O Corpo que o Rio Levou (2017), publicada pela Editora Giostri, e As 3 uiaras de SP city (2018), premiada pela IV Mostra de Dramaturgia do CCSP, ambas com perspectivas sobre o período histórico da ditadura brasileira. E Lá Fora o Silêncio, premiada no edital TUSP Peças em Processo e agora com o Prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de Cultura, encerra a trilogia “Mural da Memória”. As três peças contam com textos de Ave Terrena e direção de Diego Moschkovich.

Ficha Técnica
Idealização: Laboratório de Técnica Dramática
Texto: Ave Terrena
Direção: Diego Moschkovich
Atuação: Ana Maria Ramos Estevão, Criméia de Almeida, Diego Chilio, Dulce Muniz, Jessica Marcele e Leo Moreira Sá
Músicos em cena: Felipe Pagliato e Gabriel Barbosa
Iluminação e cenário: Wagner Antonio
Figurino: Diogo Costa
Criação em Vídeo e Projeção Mapeada: Amanda Amaral
Design visual: Rafael Cristiano
Crítica em processo: Paloma Franca Amorim
Assistente de Direção: Rodolpho Corrêa
Operação de luz: Felipe Fly
Operação de vídeo e Projeção: GIVVA
Assessoria de imprensa e mídias sociais: Canal Aberto
Observadores-documentadores: Carla Miyazaka, Felipe Fly, Oru Florido, Raiane Souza, Rodolpho Corrêa
Estagiária: Thainá Teixeira
Produção Executiva: Lucas Leite
Direção de Produção: Iza Marie Miceli

Este projeto foi contemplado pela 14ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a Cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

 

 

 

 

 

E Lá Fora o Silêncio
Auditório do Sesc Pinheiros
Rua Pais Leme, 195 – Pinheiros
Tel. (11) 3095-9400
Capacidade: 98 lugares
De 22 de setembro a 15 de outubro.
De quinta a sábado, às 20h
Duração: 70 minutos
Recomendação: 12 anos
Ingresso: R$30 (inteira) / R$15 (meia) / R$9 (credencial plena).
Venda online e venda presencial
(https://www.sescsp.org.br/unidades/pinheiros/).

 

Foto: Renato Mangolin

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