Temporada vai de 3 a 15 de novembro na praça da unidade; em cena, dança, música e artes visuais para tempos de festa e guerra, feitiçaria e subversão; uma ‘erupção’ de corpos e cosmologias…
Corpos em revolta agora ocupam novos espaços, buscando em seus próprios ancestrais formas de lidar com o mundo atual.
Corpos em erupção, criaturas, seres que sustentam o Mundo para não acabar. O novo espetáculo da coletivA ocupação – Erupção – O Levante ainda não terminou – fala agora sobre uma nova urgência: a transfiguração de nossos corpos em seres de diferentes tempos e cosmologias. Em um momento de catástrofes de mundos, os performers criam e produzem uma erupção de formas, em uma cena multi-tecnológica, de festa e guerra, feitiçaria e subversão, e através de uma dramaturgia coletiva – da dança, música e artes visuais.
O grupo estreia temporada na capital paulista depois de fazer algumas pré-estreias – como a apresentação na 6ª edição do Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas (em setembro deste ano), uma participação na celebração de nove anos da festa Mamba Negra e na FarOFFa em São Paulo.
As apresentações serão na Praça (Térreo) do Sesc Avenida Paulista, de 3 a 15 de novembro de 2022, quinta a sábado, às 19h30 e domingos, às 17h30. Dia 12 de novembro a coletivA faz uma sessão extra às 16h30. Os ingressos começam a ser vendidos no Portal Sesc SP a partir de 25 de outubro, terça, às 12h e nas bilheterias das unidades Sesc SP a partir de 26 de outubro, quarta, às 17h, e custam de R$ 9 a R$ 30.
Erupção é a segunda criação da coletivA e o processo se iniciou durante a pandemia, em 2020, com laboratórios para corpos em erupção a partir de frentes de pesquisa de dramaturgia, corpo/performatividade, música e visualidades.
A direção é de Martha Kiss Perrone, que também divide a dramaturgia com a Frente de Dramaturgia coletivA, Ícaro Pio e Lilith Cristina. Em cena, 20 artistas – um dos maiores coletivos do Brasil e que permanece atuante, formado por 16 artistas-autores-performers, expressando uma geração formada por várias vivências.
A narrativa do espetáculo é uma ficção científica na qual o presente, o passado, o futuro e as forças ancestrais estão em cena, propondo um trânsito diaspórico de cada corpo-memória dos performers para atravessar o tempo, convocando forças, lutas e produção de vidas ligadas às ancestralidades que constituem o corpo coletivA.
O lado combativo do coletivo continua, até mais forte frente às ameaças atuais. Porém, no novo espetáculo, a questão estética foi mais explorada. A coletivA se coloca agora junto a novas radicalidades em cena, a partir da investigação da linguagem dos próprios corpos dos artistas e no espaço que elus ocupam. Apesar do tema apocalíptico, a coletivA entende que é preciso se repactuar com a chama do combate para continuar (r)existindo.
“A presença quente dessas garotas e desses garotos nesta segunda peça da ColetivA Ocupação projeta-se vibrante e utópica. (…) Em Erupção – O levante ainda não terminou, a trupe chega com carga total de hormônios. E ainda destreza das corpas, ousadia e uma beleza coletiva contagiante, numa mostra de que a vida que importa é poesia, e essa poética se traduz em revolução. A montagem cruza temas como colonialidade, questões ambientais, genocídios e antirracismo. Vida longa e força na luta para a ColetivA Ocupação, de São Paulo e seu espetáculo”. Ivana Moura em crítica no site Satisfeita, Yolanda?
Sobre o espetáculo
Erupção – O Levante ainda não terminou segue o premiado Quando Quebra Queima. Se o primeiro trabalho do coletivA pode ser considerado a urgência de narrar o presente, o segundo é um questionamento sobre quem são esses corpos presentes e o que permanece neles de outros levantes no passado.
Quando Quebra Queima é uma peça construída por artistas que, quando eram estudantes, viveram o processo de ocupações e manifestações do movimento secundaristas em 2015 e 2016. Frutos da primavera secundarista, 14 corpos insurgentes deslocam para a cena a experiência dentro das escolas ocupadas, criando uma narrativa coletiva e comum a partir da perspectiva de quem viveu o dia a dia dentro do movimento.
A estreia de Erupção vem como fruto de seis anos de estrada do coletivo e de uma excursão bem sucedida pela Europa – onde apresentou Quando Quebra Queima em prestigiados festivais – foram três países e cinco cidades (Inglaterra, França e Portugal | Paris, Londres, cidades britânicas de Leeds e Manchester, Porto (MEXE)). E concorreu a prêmios pela temporada no Battersea Arts Center, em Londres, quando o espetáculo foi premiado por melhor direção – Martha Kiss Perrone – pelo The Stage Debut Awards, e indicado na categoria “IDEA Performance” pelo prêmio The Offies.
Erupção traz em seu enredo rebeliões, trazendo à cena levantes ancestrais, mostrando o espiralar do tempo, ao passar por histórias que representam de alguma maneira fragmentos de levantes anteriores.
Trata-se de uma espécie de renovação da linguagem do grupo, uma evolução na estética, mostrando a força do grupo e os rumos. É um espetáculo único porque mistura teatro, dança, música, performance, artes visuais, entre outras expressões artísticas. Caminho que já vinha sendo explorado, num sentido de mudança e de continuidade assim como o sentimento de urgência de relatar os sentimentos presentes.
Celebrar a luta
A cena traz dois opostos que no contexto da peça não são antagônicos: festa e guerra, do ponto de vista da herança ameríndia. Assim, o grupo transfigura seus corpos em criaturas não-humanas, ancestrais e encantados, criando balanço entre festa e guerra.
Apesar de ser uma viagem pelo passado, Erupção é uma festa tecnológica, com lasers, DJ e pista de dança. Ao mesmo tempo, os artistas criadores entendem este tempo atual através do legado de ancestrais. Por isso, a dramaturgia traz pesquisas em várias frentes – música, texto, visualidade. O palco em formato de uma semi-arena, no fundo do coro, é uma house de DJ. A ideia do formato é trazer a rua para a cena.
A narrativa foi construída a partir da sala de ensaio, com a dramaturgia sendo tecida a partir de provocações das dramaturgas. O processo começa quando o coletivo se pergunta como continuar existindo em meio aos dias atuais, quais as ferramentas usar. Os corpos em cena estão em erupção, tentando mostrar e descobrir como ter vontade de vida em tanta pulsão de morte. Daí a vontade da coletivA de se transfigurar em outras cosmologias, extracorpóreas, ancestrais.
O espetáculo traz referências de várias revoltas e revoluções – como Tituba, primeira mulher a confessar bruxaria em Salém, no ano de 1693); a Revolução do Haiti (que levou São Domingos à independência sob a liderança de Toussaint Louverture e Jean-Jacques Dessalines, a partir de 1791); e a Revolta dos Malês (a maior revolta de negros da história do Brasil, na cidade de Salvador, na Bahia, em 1835).
Em uma espécie de escavação arqueológica pessoal, a coletivA recorreu ao passado para saber as origens de cada um e trazer isso pra cena. E para representar esses mundos que acabaram e continuaram existindo, além de procurar caminhos e respostas em seus próprios corpos, os artistas foram entender outras formas de existência, com conceitos de decolonidade (caminho para resistir e desconstruir padrões, conceitos e perspectivas impostos aos povos subalternizados durante todos esses anos, sendo também uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo).
Erupção expande a ideia do que pode ser teatro – se em Quando Quebra Queima o teatro foi pra rua e virou ocupação, é preciso entender o que vem depois e o que permanece, com as possibilidades de criação dentro de tantas mortes. A erupção de quem sobreviveu.
“A existência é luta no trabalho desses jovens artistas que carregam a cena de revolução, festa, guerra, subversão no tempo espiralado entre passado e futuro, numa perspectiva decolonial. As corpas cis e trans fervem e desse calor são traçadas coreografias, experimentados breves virtuosismos da dança urbana, numa insubordinação da Terra que borbulha e gente se revolta.” Ivana Moura em crítica no site Satisfeita, Yolanda?
Ficha Técnica
Performance e criação: Abraão Kimberley, Akinn, Alicia Esteves, Alvim Silva, Ariane Aparecida, Benedito Beatriz, Dj Shaolin, Ícaro Pio, Lara Júlia Chaves, Letícia Karen, Lilith Cristina, Marcela Jesus, Marcéu Maria Fernandes, Mel Oliveira, Matheus Maciel, PH Veríssimo
Direção: Martha Kiss Perrone
Dramaturgia: Ícaro Pio | Lilith Cristina | Martha Kiss Perrone
Iluminação: Benedito Beatriz
Direção de movimento: Ricardo Januário
Colaboração corporal: Castilho
Som: DJ Shaolin | Frente Música coletivA
Colaboração musical: Anelena Toku | Rafael Coutinho
Figurino: Juan Duarte
Assistência de Figurino: Marcela Akie
Coordenação de palco: Jaya Batista
Direção de arte: Frente Visualidades coletivA
Preparação vocal: Abraão Kimberley
Produção: Corpo Rastreado – Gabs Ambròzia | Paula Serra
Difusão: Corpo a Fora
Residência: Casa do Povo
Erupção
Com coletivA Ocupação
SESC Avenida Paulista
Praça – Térreo
Avenida Paulista, 119, São Paulo
Fone: (11) 3170-0800
Capacidade: 120 lugares
De 3 a 15 de novembro de 2022
Quinta a sábado, às 19h30
Domingos, às 17h30.
* Sessão extra no sábado, 12/11, às 16h30
Classificação etária: 12 anos.
Duração: 90 minutos.
Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,00 (Meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$9,00 (Credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Transporte Público: Estação Brigadeiro do Metrô – 350m
Horário de funcionamento da unidade:
Terça a sexta, das 10h às 21h30.
Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30.
Horário de funcionamento da bilheteria:
Terça a sexta, das 10h às 21h30.
Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30
Sobre a coletivA
Criada em 2017 por performers e artistas de diferentes idades e regiões de São Paulo e que se conheceram durante o movimento secundarista das ocupações de escolas públicas, a coletivA ocupação vem desenvolvendo uma prática contínua de investigação de linguagem, dramaturgia própria e formação de uma poética a partir de levantes urgentes de nosso tempo.
Com o seu primeiro espetáculo, Quando Quebra Queima, a companhia esteve em cartaz mais de um ano e meio em São Paulo, criando um vínculo com diferentes públicos na cidade. Sua trajetória foi amplamente acolhida pelo público e crítica, chegando a ter em uma única apresentação, um público de mais de 400 pessoas no Teatro Oficina. O espetáculo circulou nos principais festivais do Brasil, como o Festival de Curitiba, FIT Rio Preto (Festival Internacional de Rio Preto), Cena Brasil Internacional, Festival de Londrina, e viajou para Festivais e Teatros Europeus, como o Festival Transform em Leeds, Contact Theater em Manchester, Festival MEXE na cidade do Porto, Festival Panorama em Paris no Centre National de La Dance, e no Battersea Arts Center, em Londres, onde o espetáculo foi premiado por melhor direção – Martha Kiss Perrone – pelo The Stage Debut Awards, e indicado na categoria “IDEA Performance” pelo prêmio The Offies. Atualmente o grupo foi contemplado na 39ª edição do Fomento ao Teatro da cidade de São Paulo, com o projeto “Festa e Guerra: Entre Levantes”.
Foto: Renato Coelho
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