Em 19 de agosto de 1983, um movimento encabeçado por mulheres lésbicas no Ferro’s Bar dá início ao que se torna o Dia da Visibilidade Lésbica. Em 2018, um casal de mulheres que estava frequentando um quiosque em Santos sofreu agressões lesbofóbicas e as pessoas ao redor decidem gravar o ocorrido em vez de socorrê-las…
São nestes dois momentos históricos que se passa o enredo de Levante, espetáculo idealizado e escrito por Andrezza Czech, dirigido por Eliana Monteiro, que também assina cenografia, e com elenco composto por Andrezza Czech, Jéssica Barbosa, Tay O’Hanna e Vanessa Garcia. A estreia será dia 14 de outubro de 2022, no Centro Cultural São Paulo.
A peça acompanha a trajetória afetiva e de resistência de dois casais de mulheres que vivem nesses dois tempos distintos, vivendo situações que muitas vezes se assemelham. “Pensar nesses dois momentos com situações e reivindicações tão parecidas é a grande questão do espetáculo”, conta Eliana Monteiro, diretora que optou criar, em sua cenografia, dois espaços bem delimitados para cada casal que situa, a partir do figurino e da iluminação, as suas épocas.
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Vem! Marchamos com a voz e compomos nossa própria história gritando por liberdade! Peço licença para que, de agora em diante, eu possa dançar com vocês as palavras que há centenas de anos gritam nas minhas entranhas e nas entranhas que já foram meu lar. Que o silenciamento que nos adoece acabe aqui! Que eu honre o meu lugar dando melodia à voz da liberdade de ser e amar! Vem!
Trecho da dramaturgia de Levante
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Apesar de nunca haver um encontro entre os casais, partes do texto se mesclam, em uma estrutura de duplas que reforça a violência a que essas mulheres foram expostas. Eliana conta que há uma aproximação factual com os episódios lesbofóbicos ocorridos nessas duas épocas, mas as personagens são fictícias. “Trata-se também de histórias de amor. Essas personagens espelhadas e suas falas simultâneas também apontam para uma narrativa de carinho e presença”, conta a diretora.
Levante também remonta a períodos trágicos da história brasileira, como as ordens de “limpeza” exercidas durante a Ditadura Civil Militar, que sob o nome Operação Sapatão, levava mulheres que estavam em bares para a delegacia e a queima de livros de autoras homossexuais, como Cassandra Rios, que teve 36 de suas 50 obras censuradas durante o governo militar. A costura do enredo também se dá por meio de uma estação mal sintonizada de rádio com informações dos jornais publicados na data da Proclamação da República, em 1889.
Sobre Eliana Monteiro
Mestranda em artes cênicas na ECA – USP. Formada em artes cênicas pela Universidade São Judas, em interpretação pela Escola Superior de Teatro Célia Helena, e em direção pela Escola Livre de Santo André. Encenadora e orientadora artístico-pedagógica de escolas e grupos de teatro.
Integra o grupo Teatro da Vertigem desde 1998, tendo sido responsável pela direção da intervenção urbana A Última Palavra é a Penúltima 2.0 (2008 e 2014), por ocasião da 31a. Bienal de São Paulo, e dos espetáculos Mauísmo, Kastelo e O Filho. Este último, em 2015, foi apresentado em duas temporadas: no SESC Pompeia e no Centro Cultural Vila Itororó. Co-dirigiu o espetáculo Bom Retiro 958 Metros; participou como diretora de cena e assistente de direção dos espetáculos: O Paraíso Perdido, O Livro de Jó, Apocalipse 1,11, BR-3, História de Amor – Últimos capítulos, Dire ce qu’on ne pense pas dans des langues qu’on ne parle pas; e nas óperas Dido e Enéas e Orfeo ed Euridice.
Foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro 2006, na categoria especial, pela direção de cena e logística de apoio à cena do espetáculo BR-3. Desde 2009, coordena o núcleo de encenação do Programa Vocacional da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, e, desde 2013, coordena o Projeto Espetáculo das Fábricas de Cultura do Estado de São Paulo. É formadora convidada do curso de Direção Teatral da SP Escola de Teatro. Em 2015, integrou a 26ª Comissão julgadora de Fomento ao Teatro da cidade de São Paulo, e participou, como uma das curadoras, da Mostra de Teatro do Maranhão.
Em 2017 dirigiu a peça Enquanto Ela Dormia em temporada no Sesi Paulista, tendo circulado em centros culturais em São Paulo. Curadora das atividades pedagógicas da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo em 2018/2019. Curadora das atividades pedagógicas do FIT – Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto em 2019. Participou como artista convidada no III Seminário Internacional de Artes Escénicas: El cuerpo y el espacio (PUC-Peru), onde realizou uma conferência sobre a intervenção A Última palavra é a penúltima, no seminário conduziu o workshop – O que te esgota na sua cidade?.
Na 7° Mostra de Artes do Porto Iracema, em Fortaleza, fez tutoria para a intervenção urbana Mapa do Flaneur em Sobral. Em 2020, a convite da 11th Berlin Biennale, participa da intervenção urbana “Marcha a Ré”.
Sobre Andrezza Czech
Andrezza Czech é atriz, roteirista, dramaturga, diretora e jornalista, formada por Faculdade Cásper Líbero, ELT, SP Escola de Teatro, Roteiraria e Academia Internacional de Cinema. É diretora, roteirista e atriz dos curtas-metragens Casa (2020; prêmio do público na Mostra Cinemulti e indicado a melhor filme LGBT+ no Unified Filmmakers Festival); Fora de Época (2020; menção honrosa do júri no Festival de Cinema de Vitória e seleção oficial de festivais como Mix Brasil, Mostra de Cinema de Tiradentes, Inside Out Toronto, e International Queer Film Festival de Hamburgo); e 62 segundos (2020; vencedor do DepicT Brasil); e dos videoclipes Lua Nova (2021) e Salomé (2021; vencedor do California Music Video & Film Awards).
Em 2022, seu texto Levante foi premiado pelo Edital da 8ª Mostra de Dramaturgia do CCSP, e o projeto “Manual da (não tão) Nova L” foi finalista do concurso de Roteiros na categoria Piloto de Série e recebeu menção honrosa do júri pelo FRAPA. Como dramaturga, teve leitura encenada de seu texto cabra-cega dirigida por Aysha Nascimento no Núcleo de Dramaturgia do SESI-SP (2019) e realizou monólogos autorais nos espetáculos digitais Polaroides Secretas (2020), direção de Renato Andrade, e Fracasso Festival (2021), com direção de Ronaldo Serruya e Fabiano Dadado de Freitas. Também atuou em peças como Fissura (2019), direção de Maria Amélia Farah (Cia. Hiato) e O Espectador Condenado à Morte (2016 a 2017), direção de Thiago Ledier para a Companhia Teatro da Dispersão, da qual é co-fundadora.
Ficha Técnica
Idealização e dramaturgia: Andrezza Czech (@andrezzaczech)
Direção e cenografia: Eliana Monteiro (@lili.moonteiro)
Elenco: Andrezza Czech, Jéssica Barbosa (@onomedelaejessicabarbosa), Tay O’Hanna (@tamirysohanna), Vanessa Garcia (@vanessagarciaonline)
Assistência de direção: Lu Maya (@lu.umaya)
Preparação corporal: Camila Rocha (@sendoarocha)
Desenho de luz: Aline Santini (@performphoto)
Figurino: Lívia Barros (Ken-gá Bitchwear @kengawear)
Trilha sonora original e sonoplastia: Canhestro (@_canhestro – musicista em cena) e Jo Coutinho (@jocoutinhooo)
Fotografia e arte de capa da publicação: Laís Catalano Aranha (@lais.c.aranha)
Vídeo: Yago Nauan (@yaagonauan)
Mapping e operação de vídeo: GIVVA (@ogiwa_) e Morim Lobato (@morim__p)
Produção: Corpo Rastreado (@corporastreado)
Assessoria de imprensa: Canal Aberto (@canal_aberto)
Apoio: Teatro da Vertigem (@teatrodavertigem_)
Realização: Centro Cultural São Paulo (@centroculturalsp)
Levante
Centro Cultural São Paulo
Sala Ademar Guerra – Porão
Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso
Capacidade: 60 pessoas
Temporada: 14 de outubro a 6 de novembro de 2022*
Quinta, sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 20h
*Não haverá sessão dia 30 de outubro, data do segundo turno
Sessões extras: 26/10 e 02/11
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 60 minutos
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
À venda pelo site: Sympla
Fotos: Laís Catalano Aranha
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