Delírio a Dois, de Eugène Ionesco, ganha primeira montagem no Brasil

Com direção de Marcelo Lazzaratto espetáculo é uma peça curta escrita em meados dos anos 60 pelo mestre do Teatro do Absurdo. Em cena, os atores Lia Maria e Gabriel Manetti – casados na vida real – dão vida a um casal isolado dentro de um apartamento enquanto uma revolução/ guerra acontece do lado de fora…

 

 

 

Caracol e tartaruga são o mesmo animal? É a partir dessa discussão entre um casal que o espetáculo Delírio a Dois acontece. A montagem para o texto inédito no Brasil de Eugène Ionesco estreia dia 3 de novembro, quinta-feira, às 20h30, no Espaço LAB do Teatro Aliança Francesa.

Peça curta escrita nos meados dos anos 60 e pouco conhecida no Brasil, Delírio a Dois, assim como outros textos de Ionesco confirma a impressionante contemporaneidade do autor romeno, radicado na França. A primeira montagem brasileira tem tradução de Domitila González, direção de Marcelo Lazzaratto e atuação do casal de atores Lia Maria e Gabriel Manetti.

Delírio a Dois tem início com um homem e uma mulher discutindo se um caracol e uma tartaruga são ou não o mesmo animal. Enquanto disputam quem está certo, em um espaço que poderia ser um apartamento de uma grande cidade e que serve como refúgio do caos e horror que acontece do lado de fora (uma guerra ou uma revolução), o casal começa a desmoronar até se trancar em uma espiral sem saída.

A ideia de trazer à cena o espetáculo surgiu durante a pandemia, quando Lia e Gabriel, recém-casados, receberam da amiga Domitila González a tradução da peça de Ionesco. “A história de um casal isolado dentro de um apartamento, enquanto uma revolução/ guerra acontece do lado de fora, imediatamente reverberou, naquele momento, a nossa própria condição como casal, como brasileiros, como artistas e como seres humanos. Era o autor escrevendo aquelas palavras como se estivesse testemunhando todos os acontecimentos recentes”, conta Gabriel Manetti, que após 12 anos se dedicando a música com o projeto Beatles para Crianças, volta ao teatro.

 

Texto atual
O teatro de Ionesco é uma confluência de temas e em Delírio a Dois isso não é diferente. O texto mostra a solidão e o isolamento do indivíduo, a dificuldade em comunicar-se com o outro, o conformismo mecânico da sociedade, a convulsão do exterior atravessando e degradando a própria personalidade, o sentimento constante de culpa e a certeza da morte. Tudo isso envolto numa fantasia tragicômica mais real que a própria realidade.

Para Marcelo Lazzaratto a discussão desimportante do casal vai sendo invadida pela realidade que acontece fora do apartamento, e mesmo assim não há nenhuma transformação na conduta dos dois, apenas uma inércia. “O texto além de muito atual é um grande recado por abordar a falta de comunicação e entendimento entre as pessoas. É o famoso vejo, mas não quero ver”, comenta o diretor.

Já a atriz Lia Maria acredita que o espetáculo é um convite para refletir com humor sobre o funcionamento da sociedade e a forma absurda e repetitiva das relações uns com os outros, muitas vezes indiferentes a realidade. “Na disputa para saber qual dos dois tem razão, o casal bate e rebate informações e acaba em um jogo de palavras cíclico onde trocam e invertem papéis.”

 

Plateia no centro
Como o espetáculo acontece em uma espiral Marcelo Lazzaratto optou em trazer o público para o centro enquanto os atores circulam por todo o espaço. De acordo com o diretor a montagem ganha potência quando se instala em um espaço não convencional de teatro e ainda fortalece a relação entre as personagens.

“A ideia é que a encenação se adpate a qualquer tipo de ambiente, transformando espaços físicos não convencionais em locais onde os atores podem realizar sua intervenção artística. Nossa intenção é trazer o conceito de site specific, ou seja, voltar o olhar para o espaço incorporando-o à obra, possibilitando sua adequação a qualquer local proposto”, explica Lazzaratto.

A iluminação dinâmica terá cinco refletores de chão móveis, onde o técnico de iluminação seguirá os atores pelo espaço de encenação, garantindo assim atmosferas claras e escuras. A trilha sonora e a sonoplastia criadas por Murillo Leme se alternam entre realidade e loucura. Sons de fora do apartamento, como bombas e marcha de soldados se mesclam com ruídos da descontrução da casa.

Ficha Técnica
Texto – Eugène Ionesco
Tradução – Domitila González
Direção – Marcelo Lazzaratto
Elenco – Lia Maria e Gabriel Manetti
Trilha Sonora e Sonoplastia – Murillo Leme
Iluminação – Marcelo Lazzaratto e Lui Seixas
Figurinos – Silvana Marcondes
Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta

 

 

 

 

 

 

Delírio a Dois
Espaço LAB do Teatro Aliança Francesa
Rua General Jardim, 182 – Vila Buarque
Telefone: (11) 3572-2379.
De 3 a 18 de novembro
Quinta e sexta-feira, às 20h30
Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos
Ingressos: R$ 60,00 e R$ 30,00 (meia-entrada).
Acessibilidade para cadeirantes (dependendo da montagem do espetáculo, é necessário avisar antes para reserva de espaço)
Banheiros adaptados para pessoas com necessidades especiais

Foto: Andreia Machado

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