Com curadoria de Claudinei Roberto da Silva, exposição “‘Viver até o fim o que me cabe!’ – Sidney Amaral: uma aproximação” chega à capital paulista e apresenta conjunto de obras do artista, falecido em 2017, que evidencia a sua versatilidade no contexto das produções contemporâneas…
Versatilidade artística e experiência cotidiana se encontram, a partir da perspectiva de uma subjetividade negra, na exposição “Viver até o fim o que me cabe!” – Sidney Amaral: uma aproximação, fruto da curadoria de Claudinei Roberto da Silva, que fica em cartaz de 26 de outubro de 2022 a 26 de fevereiro de 2023. A mostra, que esteve no Sesc Jundiaí em 2021, chega ao Sesc Belenzinho para promover e ampliar o diálogo do público com o trabalho de Sidney Amaral (1973 – 2017), artista contemporâneo que faleceu de forma precoce, mas deixou um legado que alarga a reflexão sobre a diáspora africana.
Por meio de técnicas e materiais variados – como desenhos a grafite, pinturas com acrílica, aquarelas e esculturas –, Sidney aponta para a aspereza de uma sociedade marcada pelo trauma da escravidão, do genocídio das populações negras e do racismo estrutural. Seu amplo repertório plástico é estratégico para a proposição de tensões, como se observa em O pão nosso (2014), escultura feita de bronze que conjuga o pesado e o leve, a banalidade e a nobreza.
Um dos caminhos bastante explorados pelo artista é o do autorretrato, que, em seu projeto, aciona uma identificação simbólica com os interlocutores negros, tradicionalmente sub-representados nas artes e historicamente pintados em posição subalterna, como se observa na produção do século XIX. Ao colocar o próprio corpo no centro de suas investigações – um corpo negro –, o artista faz frente à violência racial que assombra o país e disputa um espaço que foi negado também no sistema de arte aos escravizados e seus descendentes.
O corpo se apresenta ainda a partir de seus fragmentos. Na série de desenhos a grafite intitulada Mãos (2009), Sidney representa o manuseio de pequenos objetos que remetem a um conjunto de habilidades e vivências, proporcionando uma conexão entre a parte, uma espécie de close, e o todo, o contexto do qual esse close deriva.
Sobre o modo como o compromisso crítico se alia ao estético, o curador Claudinei Roberto da Silva comenta: “Sidney Amaral não esteve alheio às urgentes demandas do nosso tempo nem se omitiu diante dos problemas que mais diretamente afetam as ‘maiorias minorizadas’ do Brasil, notadamente negras e negros assediados pelo histórico e estrutural racismo, porém o grau de engajamento do artista com essas questões prementes não ofuscou ou tornou secundário seu compromisso com a arte à qual se dedicou com afinco durante sua curta existência”.
A exposição, composta de 74 obras, traz também alguns estudos e cadernos de desenho que possibilitam entrever o processo de criação do paulistano. Com o objetivo de estreitar a vinculação entre os visitantes e o trabalho desse artista, a expografia optou por uma distribuição com bom espaçamento entre as obras, para que o público tenha intervalos de respiro e reflexão diante da potência de Sidney Amaral. Além disso, durante todo o período expositivo, o Sesc também oferece atividades paralelas, ações formativas e visitação guiada.
Sobre o artista
Nascido em 1973, na periferia da zona norte de São Paulo, Sidney Amaral foi um educador e artista visual formado pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Estudou também pintura acadêmica e fotografia no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE), onde foi aluno de Ana Maria Tavares.
Produzindo intensamente desde o final da década de 1990 e com um Prêmio Funarte de Arte Negra na bagagem, o artista participou de expressivas mostras nacionais e internacionais, entre as quais Afro Black Identity in America and Brazil; Latin America – A Contemporary View, Galeria Zane Bennett, Novo México, EUA; Risco 2 – Paisagem, no Sesc Belenzinho; e Nova escultura brasileira: heranças e diversidades, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Em 2014, integrou a 11ª Bienal de Dakar e histórias mestiças, no Instituto Tomie Ohtake.
Em 2015/16, foi a vez de Territórios: artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, mesma instituição que abrigou sua última mostra em vida, em 2017, intitulada Metrópole: experiência paulistana. Antes disso, ainda em 2015, como resultado do Prêmio Funarte de Arte Negra recebido em 2012, apresentou no Museu Afro Brasil sua maior exposição individual: O banzo, o amor e a cozinha de casa, com curadoria de Claudinei Roberto da Silva. Postumamente, sua obra foi apresentada em 2018 na mostra Histórias afro-atlânticas, no Museu de Arte de São Paulo e Instituto Tomie Ohtake, e em A vontade foi demais, na Galeria Pilar em São Paulo.
Como importante reconhecimento pelo seu trabalho, as obras de Sidney Amaral foram para acervos de relevantes instituições públicas e privadas: Museo de La Solidaridad Salvador Allende, Chile; Museu Afro-Brasileiro, Salvador; Museu Afro Brasil, São Paulo; Pinacoteca do Estado De São Paulo; Instituto Itaú Cultural, de São Paulo; e o Acervo Sesc de Arte, coleção permanente do Sesc São Paulo.
Sobre o curador
Claudinei Roberto da Silva já assinou a curadoria de projetos como a exposição PretAtitude – Emergências, insurgências e afirmações na arte afro-brasileira contemporânea, nas unidades do Sesc Ribeirão Preto, São Carlos, Vila Mariana, Santos e Rio Preto (2018/21); 13ª Bienal Naifs do Brasil, Sesc Piracicaba (2016/17); o simpósio Presença africana no Brasil, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo (2015); Audácia concreta – as obras de Luiz Sacilotto, Museu Oscar Niemeyer (2015); e O banzo, o amor e a cozinha da casa, Museu Afro Brasil (2014).
Coordenou também núcleos de educação da exposição Orun, Sesc Carmo (2019); do simpósio Presença africana no Brasil, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo (2015); do projeto A Journey through African Diaspora, do American Alliance of Museums, em parceria com o Museu Afro Brasil e Prince George African American Museum (2014); do Museu Afro Brasil (2012/14); do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (2009/10); e da 27ª Bienal de São Paulo – Como viver junto (2007).
“Viver até o fim o que me cabe!” – Sidney Amaral: aproximação
Sesc Belenzinho
Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho
Telefone: (11) 2076-9700
sescsp.org.br/Belenzinho
Abertura: 25 de outubro, às 20h
Período expositivo: 26 de outubro de 2022 a 26 de fevereiro de 2023
Horário de funcionamento: Terça a sábado, das 10h às 21h. Domingos e Feriados, das 10h às 18h
Acessibilidade: Rampas, elevadores, pisos tátil, banheiros adaptados e outros equipamentos acessíveis
Classificação indicativa: Livre
Entrada gratuita
Estacionamento: De terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h
Valores do estacionamento: credenciados plenos do Sesc: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional.
Transporte Público
Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)
Sobre o Sesc São Paulo
Com 76 anos de atuação, o Sesc – Serviço Social do Comércio – conta com uma rede de 45 unidades operacionais no estado de São Paulo e desenvolve ações com o objetivo de promover bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio, serviços, turismo e para toda a sociedade. Mantido pelos empresários do setor, o Sesc é uma entidade privada que atua nas dimensões físico-esportiva, meio ambiente, saúde, odontologia, turismo social, artes, alimentação e segurança alimentar, inclusão, diversidade e cidadania. As iniciativas da instituição partem das perspectivas cultural e educativa voltadas para todas as faixas etárias, com o objetivo de contribuir para experiências mais duradouras e significativas. São atendidas nas unidades do estado de São Paulo até 30 milhões de pessoas por ano. Hoje, aproximadamente 50 organizações nacionais e internacionais do campo das artes, esportes, cultura, saúde, meio ambiente, turismo, serviço social e direitos humanos contam com representantes do Sesc São Paulo em suas instâncias consultivas e deliberativas. Saiba mais em sescsp.org.br/sobreosesc.
Foto da obra de Sidney Amaral – Embate (O Eu e O Outro) 2010: João Liberato
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