Em NGO – o silêncio que antecede o revide, um fenômeno faz pessoas pretas ficarem invisíveis aos poucos até desaparecerem; em muitos casos, ele acontece em até 23 minutos…
Projeto faz parte da 8ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP – Centro Cultural São Paulo
Peça cria discussão sobre a branquitude e possíveis aquilombamentos
Em uma cidade, pessoas pretas são acometidas por um fenômeno em que seus corpos desaparecem em até 23 minutos – menção ao tempo médio que leva para um jovem preto ser assassinado no Brasil. A partir desse evento, a dramaturgia de NGO – o silêncio que antecede o Revide, discute o papel da branquitude nas diversas opressões que persistem na sociedade e também reflete sobre estratégias de aquilombamento e reimaginação da cidade por parte das pessoas pretas. O espetáculo estreia dia 10 de novembro, quinta-feira, 21h, no Centro Cultural São Paulo.
Idealizada pelo ator e dramaturgo Filipe Celestino e com direção de Jéssica Nascimento, a peça tem elenco composto por Evandro Cavalcante, Tay O’Hanna e Vive Almeida. A trama, que reimagina a cidade a partir dessa ausência de pessoas pretas, reflete e escancara como a branquitude lidaria com uma sociedade colapsada, falida, a partir da inexistência dessas pessoas, que são a estrutura que movimenta essa sociedade. Na peça, isso se dá por meio da indignação de moradores de um bairro nobre ao se verem sem jardineiros, empregadas e babás, por exemplo.
“A peça traz uma espécie de lupa que aumenta e revela como a branquitude lida com esses desaparecimentos. Desde o jornalista que pensa na sua reportagem, o prefeito que dialoga com seu assessor, os presídios com celas mais vazias e a cidade entrando em colapso”, conta Filipe Celestino, reforçando que o título da peça metaforiza seu conteúdo, já que suprime da palavra negro as letras E e R.
A peça integra a 8ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP, uma das principais do país, que anualmente lança dramaturgias e dramaturgues potentes no cenário teatral paulistano. A iniciativa, de extrema importância para o teatro brasileiro, viabiliza que dramaturgos negros como Filipe Celestino, fundador do O Bonde, grupo teatral que pesquisa a negritude nas artes e suas diásporas contemporâneas, se projetem na cena.
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O apagamento da população negra / A notícia está se espalhando rapidamente / Jornais internacionais alertam para os últimos casos que aconteceram na cidade de São Paulo / Em nota oficial, a prefeitura de São Paulo / O governador de São Paulo / confirma desconhecer a existência de tais moradores na cidade / “Não há indícios de que esses espaços estavam habitados” / Abandonados / A prefeitura de São Paulo prepara um programa de parceria público-privada / A PPP de habitação / Público-privada / um programa de habitação do município / São Paulo será a primeira cidade brasileira a realizar uma PPP de habitação /
O programa pretende criar novos bairros e aproveitar as casas desabitadas para gerar / Desabitadas / Centenas de novas moradias / Fiquem agora com a nova novela das seis: Senzala
Trecho da dramaturgia de NGO
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Sobre Jéssica Nascimento
Jéssica Nascimento, diretora da montagem, conta que a poesia do texto serviu como base para uma performance que joga com os elementos fabulares trazidos pela trama. “Em resposta à invisibilidade, criamos um sonho preto em cena”, diz. Uma das escolhas fundamentais da peça é a presença, em todo o espetáculo, de uma banda de jazz que apresenta músicas criadas especialmente para NGO.
O cenário, segundo Jéssica, é também um comentário sobre à cidade. Uma discussão sobre a ocupação preta no espaço urbano. “A disposição cênica é imaginada a partir de uma pergunta: “O que é o quilombo hoje? “, diz a diretora.
Filipe Celestino reforça que a proposta da peça parte da ideia de que Palmares não acaba quando Zumbi é morto, e sim quando Palmares é descoberto territorialmente. O trunfo de Palmares era estar invisível. Em paralelo, o autor reflete que, estar invisível em meio a uma sociedade que inibe e silencia pessoas pretas, pode ser um passo para o Revide.
Ficha Técnica
Dramaturgia: Filipe Celestino
Direção: Jéssica Nascimento
Elenco: Evandro Cavalcante, Tay O’Hanna e Vive Almeida
Assistente de direção: Rô da Silva Albuquerque
Preparação corporal: Carol Ewaci
Direção Musical: Alexandre Guilherme
Banda: Alexandre Guilherme, Du Kiddy Artivista, Pedro Vithor Almeida e Thiago Sonho
Cenário: Julio Dojcsar
Figurino: Ailton Barros
Iluminação: Matheus Brant
Operação de luz: Matheus Brant
Pesquisa, produção e operação de vídeo: Gabi Miranda
Fotos e colagens: Filipe Celestino
Designer gráfico | Capa da publicação: Filipe Celestino
Assessoria de comunicação: Canal Aberto
Produção: Corpo Rastreado
Realização: CCSP – Centro Cultural São Paulo
NGO – o silêncio que antecede o Revide
Centro Cultural São Paulo
Sala Ademar Guerra – Porão
Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso
Capacidade: 60 pessoas
Temporada: 10 de novembro a 4 de dezembro de 2022
Quinta, sexta e sábado, 21h
Domingo, 20h
Classificação indicativa: Recomendado para pessoas acima de 14 anos
Duração: 75 minutos
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
À venda pelo site da Sympla
Foto: Filipe Celestino
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