Últimas apresentações do espetáculo E Lá Fora o Silêncio no Teatro Cacilda Becker

Terceiro trabalho do LABTD (Laboratório de Técnica Dramática) baseado em pesquisas documentais sobre a ditadura civil-militar brasileira, concebido por Ave Terrena, Diego Moschkovich e Diego Chilio, termina no próximo domingo, dia 13 de novembro…

E Lá Fora o Silêncio, peça baseada em pesquisas a partir do material documental sobre a ditadura civil-militar, coloca em foco grupos perseguidos e apagados da história, como pessoas trans e as mulheres integrantes de organizações de resistência.

Com dramaturgia de Ave Terrena e direção de Diego Moschkovich, a peça É Lá Fora o Silêncio, termina sua temporada de apresentações no Teatro Cacilda Becker (Rua Tito, 295 – Lapa, São Paulo), no próximo domingo, dia 13 de novembro. O espetáculo tem apresentações de sexta a domingo, grátis.

Terceiro trabalho do LABTD (Laboratório de Técnica Dramática) baseado em pesquisas documentais sobre a ditadura civil-militar brasileira, o espetáculo  concebido por Ave Terrena, Diego Moschkovich e Diego Chilio e que encerra a trilogia “Mural da Memória” retoma a memória da ditadura brasileira a partir da história de Crístofer, que está de mudança e encontra cartas enviadas de dentro da prisão para sua irmã na época em que esteve encarcerado.

Escritas em código, como forma de burlar a repressão, essas correspondências narram a vida de presas políticas com quem ele convivia no presídio, até que os fragmentos começam a se embaralhar e criam uma confusão entre tempos. “A peça é sobre o encontro, no presídio feminino, entre dois grupos invisíveis, silenciados e perseguidos pela ditadura: as mulheres cisgêneras participantes da resistência política e as pessoas transmasculinas”, revela Ave Terrena. “A peça também é sobre o encontro entre a memória, caracterizada por essas mulheres e o personagem de Crístofer, e o contemporâneo, na figura do sobrinho, Diego Chilio, e no slam de Jessica Marcele”, completa.

A peça tem a forma de uma apresentação de rodada de negócios, em que Cristofer e seu sobrinho tentam vender uma série audiovisual a potenciais financiadores do projeto. Além das cartas apresentadas e lidas para o público, as personagens Silaine, Iucatã e Alice se relacionam com as outras em forma de projeção. Suas histórias foram baseadas nas mulheres que tomaram parte da resistência armada contra a ditadura. “A ideia é que essas personagens apresentem, além do plano poético, trazido pelo texto da Ave, um plano documental-performativo. Elas não são apenas vozes do passado, mas imagens-fantasmas transversais do tempo”, afirma Diego Moschkovich.

 

Pesquisa
Como referência inicial na construção da peça, a dramaturga trouxe a pesquisa da professora Jaqueline Gomes de Jesus (IFRJ), que entende a memória em sua dimensão coletiva e seu caráter de seleção e reconstrução contínua, e o livro “Mulheres na luta armada” (2018), de Maria Claudia Badan Ribeiro. Além disso, o grupo também entrevistou mulheres que integraram organizações de resistência à repressão.

O projeto procurou referências de relatos publicados de pessoas LGBTQIA+ encarceradas, por exemplo “A Princesa”, de Fernanda Farias de Albuquerque (1994). A peça destaca a memória de homens trans e transmasculines, tão invisibilizades quanto as mulheres cisgêneras da luta armada e pouco reconhecidas como vítimas da ideologia reacionária e patriarcal da ditadura militar. A dramaturgia foi construída com base no livro “A Queda para o Alto”, de Anderson Herzer (1981) e nas entrevistas de História oral de Vida realizadas pela dramaturga com o ator Leo Moreira Sá, que iniciou no projeto como entrevistado e hoje é um dos atores do elenco.

Além do presente trabalho, a pesquisa dramatúrgica do grupo, recriada continuamente em processo colaborativo, já mergulhou anteriormente em documentos históricos como os da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Comissão da Verdade do Estado de São Paulo ‘Rubens Paiva’, em livros como “Ditadura e Homossexualidades”, organizado por James Green e Renan Quinalha, nas edições do jornal Lampião da Esquina, e na História Oral de Vida de Neon Cunha.

A terceira peça do LABTD, E Lá Fora o Silêncio, passou por um longo período de leituras coletivas e entrevistas com mulheres que integraram organizações de resistência à repressão. Algumas delas integram o espetáculo em vídeos gravados nas cenas criadas a partir de seus depoimentos: Ana Maria Ramos, Crimeia Almeida e Dulce Muniz interpretam o texto em versos de Ave Terrena. O contemporâneo tensiona os vídeos de inspiração documentária recriados na cena transtemporal do LABTD.

Ficha Técnica
Idealização: Laboratório de Técnica Dramática [LABTD]: Ave Terrena, Diego Moschkovich e Diego Chilio
Texto: Ave Terrena
Direção: Diego Moschkovich
Atuação: Ana Maria Ramos Estevão, Criméia de Almeida, Diego Chilio, Dulce Muniz, Jessica Marcele e Leo Moreira Sá
Músicos em cena: Felipe Pagliato e Gabriel Barbosa
Iluminação e cenário: Wagner Antonio
Figurino: Diogo Costa
Criação em Vídeo e Projeção Mapeada: Amanda Amaral
Design visual: Rafael Cristiano
Transparências: Carla Miyazaka
Crítica em processo: Paloma Franca Amorim
Assistente de Direção: Rodolpho Corrêa
Operação de luz: Felipe Fly
Operação de vídeo e Projeção: GIVVA
Assessoria de imprensa e mídias sociais: Canal Aberto
Observadores-documentadores: Carla Miyazaka, Felipe Fly, Oru Florido, Raiane Souza, Rodolpho Corrêa
Estagiária: Thainá Teixeira
Produção Executiva: Lucas Leite
Direção de Produção: Iza Marie Miceli
Entrevistas de História Oral de Vida: Amelinha Telles, Ana Maria Ramos, Cida Costa, Crimeia Almeida, Guiomar Lopes e Leo Moreira Sá, além dos diálogos com a pesquisadora Maria Claudia Badan Ribeiro.
Com as vozes em cena de: Amanda Proetti, Sofia Botelho, Sophia Castellano, Fátima Sandalhel, Maria Emília Faganello, Verónica Valenttino, Raiane Souza, Thainá Teixeira, Carla Miyasaka, Ave Terrena, Rodolpho Corrêa, Givva, Kyem Araújo, Kairos Castro, Bernardo Gael, Felipe Fly, Miguel Ângelo, Marun Reis
Intervenção Núcleo Trans: GIVVA, Leo Moreira Sá, Rodolpho Corrêa, Oru Florido, Felipe Fly, Ave Terrena

Este projeto foi contemplado pela 14ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a Cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

 

 

 

 

E Lá Fora o Silêncio
Teatro Cacilda Becker
Rua Tito, 295 – Lapa
Tel.: 11 3864-4513
Capacidade: 198 lugares
Até 13 de novembro de 2022*
Sextas e sábados às 21h
Domingos às 19h
Gratuito – Retirada de ingresso uma hora antes
Duração: 70 Minutos
Recomendação: 12 anos

 

Sobre o LABTD – Mural da Memória
O Laboratório de Técnica Dramática (LABTD) é um grupo de teatro da cidade de São Paulo que existe desde 2015. Atualmente, seus integrantes são a dramaturga Ave Terrena, o ator Diego Chilio e o diretor Diego Moschkovich, com produção de Iza Marie Miceli.

O grupo já encenou as peças O Corpo que o Rio Levou (2017), que também foi publicada pela Editora Giostri, e As 3 uiaras de SP city (2018), premiada pela IV Mostra de Dramaturgia do CCSP, ambas com perspectivas sobre o período histórico da ditadura brasileira. E Lá Fora o Silêncio, premiada no edital TUSP Peças em Processo – agora com o Prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de Cultura – encerra a trilogia “Mural da Memória”. As peças já circularam em teatros, ocupações de luta por terra e moradia, bibliotecas municipais e instituições de acolhimento à população LGBT.

O grupo também participou da Feira Paulista de Opinião, organizada em comemoração aos 50 anos da 1ª Feira Paulista de Opinião, com o texto A Grande Exposição.

A cada trabalho, o núcleo do grupo cria parcerias com artistas convidadas, fincando o pé nos processos colaborativos e ampliando suas metodologias de pesquisa e as intersecções poéticas e política dentro e fora da sala de ensaio.

Até o fim de 2022, o projeto ganha um site que abrigará os materiais de todas as peças do grupo.

 

Cena de E Lá Fora o Silêncio – Foto de Renato Mangolin

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