Peça, que marcou a reabertura do Ágora Teatro, faz única apresentação no teatro Flávio Império, no dia 16…
Na história, os espectadores são transportados para o universo dos navios baleeiros no único texto dramatúrgico escrito pelo francês J.M.G. Le Clézio, Nobel de Literatura de 2008
Pawana, peça que marcou a reabertura do Ágora Teatro – fechado desde 2020 por conta da pandemia e das obras do metrô -, espaço dirigido por Celso Frateschi e Sylvia Moreira, encerra sua temporada no Teatro Flávio Império, dia 16 de dezembro. O texto do escritor francês J.M.G. Le Clézio (vencedor do Nobel de Literatura de 2008), traduzido por Leonardo Fróes, contou com a direção de José Roberto Jardim. A peça constrói um relato de viagem em que as memórias de belas paisagens da costa da Califórnia e de violentas agressões à natureza são revisitadas pelos dois personagens em cena, em um acerto de contas com o passado.
Pawana traz dois narradores, interpretados respectivamente por Celso Frateschi e Rodolfo Valente, um experiente capitão, Charles Melville Scammon, e o jovem marinheiro John, da cidade de Nantucket, que embarcam em um navio baleeiro rumo a um refúgio idílico onde as baleias-cinzentas vão parir seus filhotes. O objetivo é conseguir o valioso óleo desse animal, matéria-prima responsável por sustentar boa parte da economia mundial até o final do século XIX, fornecendo, por exemplo, combustível e iluminação. Assim, guiado não somente pela curiosidade e o espírito aventureiro, mas também pela cobiça (o capitão e sua tripulação não se importam em promover uma enorme matança dos animais), o navio Léonore desce a costa da Califórnia em janeiro de 1856.
Quatro relatos entrecortados – dois de Melville, dois de John – exploram a relação entre os protagonistas, e a relação entre cultura e natureza. “A obra é muito mais trágica do que dramática. Na verdade, não existem grandes dramas e, sim, uma tragédia humana planetária. O capitão Melville tem consciência do mal que pratica, mas também sabe que, se não fosse ele, outro o teria feito. A peça trata da matança das baleias-cinzentas, mas serve de metáfora também para descrever outras situações humanas, como as guerras”, afirma Frateschi.
Pawana está filiada às grandes narrativas de aventuras marítimas, como Moby Dick, mas segue por outro caminho. Enquanto no clássico romance de Herman Melville, o capitão Ahab tenta enfrentar seu próprio monstro, mas falha e perde a batalha contra a natureza, na história de Le Clézio, o protagonista, ao invadir o santuário das baleias-cinzentas, está entrando em um embate maior, com toda a vida do planeta.
O escritor francês inspirou-se em uma história real para escrever o livro. Em 1856, na época em que a costa da Califórnia estava sendo colonizada, o capitão Charles Melville Scammon – que também era naturalista (na acepção que o século XIX reservou ao termo) e publicou dois livros sobre a fauna marinha – empreendeu uma violenta caça às baleias-cinzentas, estimulando a matança indiscriminada desses animais por navios que passaram a ir para lá vindos de várias parte do mundo.
“Le Clézio começa a publicar sua obra a partir dos anos 1960, mas não se deixa influenciar pelas experimentações estéticas típicas do período. Sua literatura tem caráter marcadamente sapiencial, estando filiada à tradição das grandes narrativas de aventura. Ao entrar em contato com os povos originários do México, onde morou por um bom tempo, passou a tratar da necessidade existencial e ética de o ser humano se integrar à natureza e respeitar seus ritmos, em vez de olhá-la como uma fonte inesgotável de recursos, comenta Welington Andrade, responsável por conduzir a pesquisa teórica do espetáculo.
Os direitos para a montagem do espetáculo foram conseguidos diretamente com o apoio do Consulado da França.
O trabalho de direção de José Roberto Jardim destaca a essência do aspecto narrativo do texto, explorando as imagens evocadas pelas falas dos dois personagens. A sobriedade dos demais elementos cênicos marca o projeto de encenação. O cenário e o figurino são assinados por Sylvia Moreira, enquanto a iluminação é de Wagner Freire.
“O horror narrado pela evocação da memória dessas duas personagens ocasiona a destruição da ‘possibilidade de beleza no mundo’. No palco, luzes espectrais, faces sombreadas e sons dissonantes e agônicos caracterizam essa atmosfera. O palco converte-se em uma espécie de limbo no qual Celso e Rodolfo verão, gradativamente, esse espaço simbólico se deteriorar até a destruição completa”, conta o diretor.
Sinopse
Dois narradores, um experiente capitão e um jovem marinheiro, embarcam em um navio baleeiro rumo a um refúgio idílico onde ninguém esteve antes. Durante a viagem, ambos entram em contato com o poder de destruição do ser humano, cujo destino parece sempre o impelir a sacrificar, tragicamente, a vida prodigiosa.
Ficha Técnica
Texto: J.M.G. Le Clézio
Tradução: Leonardo Fróes
Direção: José Roberto Jardim
Elenco: Celso Frateschi e Rodolfo Valente
Cenografia e figurino: Sylvia Moreira
Cenotécnico: Zé Valdir Albuquerque
Iluminação: Wagner Freire
Trilha sonora: Piero Damiani
Pesquisa teórica: Welington Andrade
Operação de Luz: Jackson Simão
Operação de Som: Piero Damiani
Programação visual: Pedro Becker
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério, Flávia Fontes
Apoio: Consulat Général de France à São Paulo
Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto e Letícia Alves
Pawana
Teatro Flávio Império
Rua Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaíba, São Paulo
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Dia 16 de dezembro, sábado, às 20h
Gratuito – Ingressos distribuídos na bilheteria.
Foto de Celso Frateschi em Pawana: Lígia Jardim
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