Não te Pareço Vivo?, novo trabalho do coletivo Màli Teatro Casa Livre

Com direção de Marcos de Andrade, novo trabalho do coletivo faz temporada na Casa Livre, em São Paulo, até 17 de dezembro…

 

 

 

 

 

Não te Pareço Vivo?, novo trabalho do coletivo Màli Teatro, quer estabelecer relações entre as tragédias gregas e o tempo presente. O espetáculo parte do mito de Electra, em particular na peça de Sófocles, estabelecendo pontes com os percalços e conflitos políticos e civilizatórios vivenciados no Brasil dos últimos anos. A temporada acontece até  17 de dezembro de 2023 na Casa Livre (R. Conselheiro Brotero, 195 – Barra Funda), com sessões aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h.

Na trama do espetáculo, a história milenar é apresentada ao público em paralelo à descrição de uma tragédia que não deixou sobreviventes ocorrida em uma comunidade não tão distante de nós. “Nos dois casos, a morte deixa de ocupar a esfera particular e se torna um evento público, às vezes morbidamente banalizado em praça pública, como vimos aqui no Brasil nos últimos anos. As terríveis e ambíguas relações entre poder e morte são uma condição perene da humanidade.”, comenta o diretor Marcos de Andrade.

A peça evoca um ritual de luto para superar um trauma coletivo, além de um chamado por justiça. Dessa forma, os personagens/atores vagueiam pelo espaço imaginário de um território destruído, transitando entre a vida e a morte e dando pistas de um cotidiano que outrora existiu.

O grupo segue, como marca herdada do CPT de Antunes Filho, onde os integrantes do coletivo se conheceram, o desejo de tornar a função dos intérpretes o centro absoluto da cena. O ator é o rei do palco. A função do ator é quase religiosa e dele, por contiguidade, emana toda e qualquer sensação espetacular de uma apresentação para público. “Limamos tudo aquilo que não consideramos essencial. Pensamos em uma encenação crua, em que a presença viva importa mais do que qualquer outra coisa. Tanto é que nosso cenário é formado por uma mesa, algumas cadeiras e poucos objetos. E o figurino é sóbrio e muito próximo do que usaríamos em ensaios. O que de certa maneira, remete ao modo franciscano de produção, característico do Prêt-à-Porter, outra influência da nossa convivência com Antunes”, conta o diretor.

O público é convidado a participar de uma experiência intimista, na qual um grupo de intérpretes em coro está ansioso para compartilhar histórias, como a de Electra, a mulher que nunca esquece o assassinato de seu pai, o rei Agamêmnon. Na narrativa clássica, cabe ao seu irmão Orestes vingar essa morte.

O trabalho também representa uma declaração de amor ao teatro. “Sofremos muito como classe durante a pandemia. E depois dela, como coletivo, nos acostumamos a conviver intensamente com a ameaça de extinção. Mas essa é a hora de dizer SIM! Apesar dos obstáculos e percalços, falta de apoio e da dificuldade incomensurável que é produzir um espetáculo de teatro de forma independente, a palavra da hora é SIM! Continuamos lutando firmes e fortes pela nossa arte ”, afirma Andrade.

No elenco estão Anísio Serafim, Carol Marques da Costa, Chrystian Roque, Guta Magnani, Marcelo Villas Boas e Maria Clara Strambi. Já a dramaturgia é assinada colaborativamente e contou com a parceria de Rogério Guarapiran na adaptação do texto de Sófocles.

Para o Màli Teatro, a tragédia de Sófocles faz um alerta sobre a atual construção dos espaços de diálogo e ação na sociedade, que cada vez mais se firmam na extinção da complexidade e na cega defesa de ideologias herdadas. Impulsos atávicos típicos do universo trágico se misturam e se confundem com questões urgentes e contemporâneas, e parecem nos perguntar: poderá haver algum sonho coletivo de futuro em que construiremos um novo destino?

Assim, o espetáculo pretende ser um espelho, uma catarse, em que as certezas humanas se revelam em crise constante.

 

Processo criativo
O processo criativo de Não te Pareço Vivo? começou em janeiro de 2020, logo no início da pandemia. Ao longo desse tempo, o grupo fez uma ampla pesquisa no universo das tragédias, da filosofia ao contexto histórico das peças.

Por meio de encontros virtuais, o coletivo também aprofundou na iconografia estética, tendo como influências não só o mito de Electra como o conteúdo literário relacionado a ele. As principais referências nesse sentido foram a Oresteia, de Ésquilo, as obras de Eurípedes e Sófocles, escritos e conceitos de Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche, Simone Weil e Miguel Rio Branco.

As reuniões presenciais acontecem desde fevereiro de 2022 com o objetivo de manter viva a investigação histórica que culminou com a produção do espetáculo. Nessas ocasiões, o Màli foi construindo uma gramática em comum, composta pelas mais variadas referências, desde a literatura à fotografia, e por um trabalho técnico, vocal, corporal e mental, que pretende solidificar uma base para o trabalho interpretativo.

Parceiros criativos de outras áreas do conhecimento contribuíram para aprofundar as discussões levantadas pela obra teatral. Foram eles o promotor Flávio Farinazzo, a advogada criminalista Eleonora Nacif, a doutora em letras clássicas Karen Amaral Sacconi, a psicanalista lacaniana Camilla Guido, o ator e diretor Emerson Danesi, o ator Antonio Salvador e o pesquisador e advogado Thiago Britto.

Ficha Técnica
Texto: baseado em Electra de Sófocles
Direção: Marcos de Andrade
Elenco: Anísio Serafim, Carol Marques da Costa, Chrystian Roque, Guta Magnani, Marcelo Villas Boas e Maria Clara Strambi
Assistência de direção: André Mourão
Dramaturgia: Màli Teatro
Adaptação Electra de Sófocles: Rogério Guarapiran
Cenografia e figurino: Lívia Loureiro e Màli Teatro
Desenho de luz: Aline Santini
Operação de luz e som: André Mourão, Ivo Leme e Marcos de Andrade
Fotos: Caio Oviedo, Marcelo Villas Boas e Nicolle Comis
Vídeo: Caio Oviedo e Marcelo Villas Boas
Produção executiva: Carol Marques da Costa e Marcos de Andrade
Produção: Màli Teatro, Ivo Leme e Corpo Rastreado – Lud Picosque
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques
Arte Gráfica: Anísio Serafim
Realização: Màli Teatro

 

Sinopse
A história milenar da família dos Átridas e o mito de Electra são apresentados ao público em paralelo à descrição de uma tragédia que não deixou sobreviventes ocorrida numa comunidade não tão distante de nós. Os rituais fúnebres deste coro de mortos e a obra clássica de Sófocles se fundem em um chamado por justiça. Orestes retorna do exílio de volta para a casa para vingar a morte do pai, rei Agamêmnon, cujo assassinato é compulsivamente lamentado por sua irmã Electra, aquela que não esquece.

 
Não te Pareço Vivo?
Casa Livre
Rua Conselheiro Brotero, 195 – Barra Funda, São Paulo
De 11 de novembro a 17 de dezembro, aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h
Valor: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada)
Link para compra de ingresso: Sympla  | Também é possível adquirir o ingresso direto na bilheteria do teatro
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos

 

Sobre o Màli Teatro
O Màli Teatro foi fundado em 2017 por artistas que se encontraram no Centro de Pesquisa Teatral, CPT-SESC, dirigido por Antunes Filho, como atores, atrizes, dramaturgo, cenógrafa e pesquisadores. Em 2018, foi contemplado pelo edital Laboratório de Cena para uma ocupação artística na FUNARTE – SP e, em dezembro de 2019, o Màli estreou sua primeira peça no SESC Avenida Paulista: “45 GRAUS”, baseada na novela “A Dócil”, de Dostoiévski, com direção de Marcos de Andrade. Desde então, o Màli se constitui como um grupo de pesquisa continuada, formado por artistas de diversas gerações que mantêm em suas trajetórias larga experiência voltada ao trabalho de pesquisa e se dedicam a aprofundar questionamentos relacionados ao mundo contemporâneo através da arte.

 

Foto: Caio Oviedo

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