O que fez um cidadão do mundo como ele, artista, professor e comunicador, vir parar em Pernambuco? Como ele concilia três profissões que lidam com diferentes públicos? Para conhecer esse cara um pouco mais, resolvi entrevistá-lo e destrinçar sua história que conto a partir de agora…
“O que você quer ser quando crescer”? A pergunta, tão comum para as crianças brasileiras quando se procura saber qual profissão querem seguir no futuro, quando feita para o Armando Fuentes, 51 anos, ele responde de imediato: “quando criança, quis ser médico e também quis ser jogador de tênis, basquete e futebol”. No entanto, sua verdadeira vocação – as Artes – já estava evidente na vida do menino, nascido em Caracas, capital da Venezuela.
Cidadão do Mundo
Nos momentos mais tristes, era na música onde ele se refugiava. E nos momentos felizes, ele celebrava com os familiares, especialmente com a mãe, Dona Flor Natividad e com a avó, Dona Narcisa. Ao crescer, quis ser cidadão do mundo e decidiu estudar Comunicação Social. “Ser jornalista me permite conhecer o mundo, sociedades, costumes, culturas, formas de ser e pensar, formas de agir e se comportar. Além disso o jornalismo complementa meu trabalho de cantar e ser quem sou como artista e compositor”, afirma.
E assim, aos 19 anos, matriculou-se no curso de Jornalismo do Colégio Universitário Siglo XXI, em Ciudad Guayana, a 673 km de Caracas, dando início ao seu objetivo de ser cidadão do mundo. A trajetória não foi fácil e em muitas vezes, a jornada era tripla. “Quando estudava de dia, trabalhava de tudo. Sendo legal, honesto e lícito lá estava eu. Com o dinheiro que ganhava, pagava a faculdade de Jornalismo. À noite havia as aulas e depois, claro, me dedicava à música, com interpretação, atuação e dança”, relata.
Formado no ano de 1994, aos 22 anos de idade, foi trabalhar no jornal Correo del Caroní, na mesma Ciudad Guayana, onde atuou por cinco anos e chegou a trabalhar como correspondente do periódico venezuelano em outros países, a exemplo de Colômbia, Cuba, México, Porto Rico e Estados Unidos. A chegada ao Brasil, no limiar do século XXI trouxe a ele muitos novos conhecimentos. Foi ao Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Belém do Pará e finalmente, radicou-se em Pernambuco.
Raízes Pernambucanas
O motivo de estabelecer-se em Pernambuco foi muito especial, o nascimento do filho, o hoje estudante universitário Pedro Armando, de 20 anos (na foto ao lado, junto a Armando). “Ele é o meu Sol, a quem amo muito. Mesmo tendo me divorciado da mãe dele, jamais me afastei dele, sempre fui e serei um pai presente”, enfatiza. Além dos laços familiares, a identificação com a cultura pernambucana também foi outro fator determinante para se fixar no estado.
“Sou brasileiro por opção. Aprendi o idioma, sua cultura, costumes, aprecio muito sua culinária, a música, e suas particularidades de rua. Pernambuco é um lugar fascinante, bem multicultural. Aqui se encontra um pouco de todo o Brasil. Desejo muito ver esta terra sempre melhor, pois Pernambuco tem muito para dar aos pernambucanos e ao Brasil”.
Além da Música e do Jornalismo, Armando também é professor. Como hispanohablante nativo, já teve experiência em várias escolas de línguas como instrutor de língua espanhola. “São mais de 20 anos dedicados ao ensino de um idioma como espanhol, o terceiro idioma mais falado no mundo, após o chinês e o hindi. Nesse sentido poder passar esse conhecimento adiante a quem aprende a ‘Hablar’ e ganhar a admiração, o respeito e a amizade, guardo dentro de mim como tesouro e que irei levar comigo para a vida”.
Ainda como jornalista, Armando também atua na área de Assessoria de Imprensa. Já atuou em ONGs, órgãos públicos e empresas da iniciativa privada, onde conheceu pessoas e tem boas referências, como Raimundo Lopes (na foto ao lado com Fuentes), que preside a Câmara de Dirigentes Lojistas de Paulista e é secretário de desenvolvimento econômico da cidade.
No Recife, Fuentes também entrou nas ondas do rádio, não só pela música, mas também enquanto comunicador. Apresentou os programas Sabor Latino (Estação Sat 102 FM); Venezuela com Sabor (Atitude 95,5 FM); El Mundo Latino – La Fiesta Internacional (Rádio 89.9 FM). Ainda na Estação Sat, foi redator de notícias repórter e ainda participou do Programa do Mução, interpretando o personagem Machito González.
Fluir como Água
Seu nome de registro é Jesus Armando Rondon Espinoza e como jornalista, a partir de agora ele pretende assinar como Jesus Rondon. Artisticamente falando, o moço é uma fonte de musicalidade, com influência de artistas em vários idiomas como inglês, espanhol e português.
E de onde veio o “Fuentes”? “Fuentes significa Fontes em espanhol. Então fluir como a água nas pessoas é algo muito bom e belo. O nome foi dado por um compositor brasileiro, Chico Estrada, que ao me ver cantar, me fez a pergunta de como se falava Fontes em espanhol, e falou desse significado das fontes. Agradeço essa analogia feita por ele”, relata.
E já que falamos das influências musicais, que artistas o inspiram ao longo da trajetória? Entre os hispânicos, artistas como Júlio Iglesias, Luis Miguel, José Luis Rodriguez, Juan Gabriel, Oscar de León, Guillermo Davila, Yordano, Franco de Vita, Shakira, Thalia, Raffaella Carrá, Célia Cruz, La Índia, Las chicas del Can, Wilfrido Vargas, Willie Colón entre outros.
Já os de língua inglesa, Fuentes cita Frank Sinatra, Elvis Presley, Sammy Davis Junior, Joe Cocker, Michael Jackson, Madonna, Lionel Richie, Donna Summer, Aretha Franklin, Abba, Bee Gees, Metallica e Guns N’ Roses. Dos artistas brasileiros, suas maiores influências são Roberto Carlos, Elis Regina, Gal Costa, Simone, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, José Augusto, Fábio Júnior e Cartola.
Latinidade
Como Armando vê culturalmente o Brasil em relação à América Latina? Para ele, o Brasil pode e deve se integrar mais à região. “O Brasil sabe da importância da cultura ibero-americana onde a influência espanhola está presente. Os artistas que realmente têm feito sucesso no Brasil e no mundo são aqueles que cantam em espanhol e inglês pois entenderam que quando se visita um lugar se deve fazer entender no idioma deles e não impor o nosso”, afirma.
E continua: “Hoje a música brasileira mais atual e moderna busca muita referência da música latina em espanhol que compete de igual para igual com a que é feita em inglês e que domina o mercado mundial, seja na indústria fonográfica ou no cinema. Graças a Deus, o público está mais aberto ao mundo aceitando e reconhecendo o que não e produzido nos Estados Unidos e nos países ocidentais de Europa como algo bom e que tem qualidade. Isso é bom de se ver”.
Fuentes gravou três CDs: Armando Fuentes en viaje por el Caribe, Armando Fuentes y como llevo la vida e Armando Fuentes y Clasicos Latinos. Em sua trajetória, também a participação em festivais, como Na Capital Pernambucana, participou do Festival Nacional da Seresta, da FLIPORTO (Porto de Galinhas) e da FLIPO, em Olinda. Entre suas músicas autorais, as mais conhecidas são Por que será?, Soltero em el Carnaval, Sou Feliz com Você, Latinolindense e Menina Morena.
Persona
Lidar com o público faz com que ele construa uma persona única e quem o vê nos palcos, trajado com um estilo vintage, que chama logo a atenção da plateia. “A referência artística que tenho é dos anos 30 até os dias atuais. Sempre me guiei artisticamente pelos representantes dessa área que interpretassem, dançassem e cantassem, usando da naturalidade e da entrega. O tempo me deu o formato de minha voz. Já a forma de vestir é sempre pensando no público eles desejam ver algo bom, bonito e atraente”, revela.
E como é viver e cantar em Pernambuco, a terra mais latina do Brasil? “Por aqui passaram grandes artistas latinos, que gravaram na Rozenblit, importante gravadora sediada em Recife. E as músicas Pernambucana e Latina têm elementos similares e energias iguais. A percussão é bem marcante e forte em ambas as expressões. Misturar sala, merengue, cumbia, cha cha cha e bolero com ciranda, coco, maracatu, forró e frevo é fantástico! O resultado é uma música que se pode ouvir o ano inteiro, que se pode exportar mundo afora”, finaliza.
Há mais de um ano, a gente vem mantendo contato praticamente diário, através do Jornalismo, com ele mandando sugestões de pauta em textos, dados e fotos. Com o tempo, passamos a ter uma ligação de respeito e admiração mútuos. Eu vejo Armando como um jornalista dedicado, um professor estudioso, um artista talentoso, e acima de tudo, uma pessoa muito decente. E por isso mesmo, decidi dividir a história dele com seus admiradores na música e com os leitores do site.
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