Comemorando 25 anos do Teatro da Vertigem, a Editora Cobogó lança no dia 19 de agosto, uma publicação que reúne textos de críticos, dramaturgos e pensadores que refletem sobre os modos e meios de criação do grupo…
Ao longo do seu marcante percurso artístico, híbrido de linguagens, entre elas, o site specific e a performance urbana, o grupo liderado por Antônio Araújo abriu espaço em suas criações colaborativas para as possibilidades cênicas e dramatúrgicas em diferentes locações da cidade.
Uma das seções do livro é dedicada a uma entrevista com os integrantes do grupo feita por Beth Néspoli, Kil Abreu, Sílvia Fernandes, Valmir Santos e Welington Andrade. Nela os integrantes discorrem sobre os processos de criação, a relação com o público, a atuação política e os projetos em desenvolvimento. Em outra seção, há os ensaios dos criadores que fazem ou fizeram parte do grupo: Antônio Araújo, Guilherme Bonfanti, Eliana Monteiro, Miriam Rinaldi, Laércio Resende e Antonio Duran.
Além destes ensaios, o livro Teatro da Vertigem traz 115 imagens dos espetáculos, as quais revelam a beleza e a força plástica que as cenas produzem. Esta é maior compilação de registros das montagens do Teatro da Vertigem já feita.
Para o jornalista e cineasta Evaldo Mocarzel, que assina um dos textos do livro, o grande fascínio provocado pelos espetáculos do Teatro da Vertigem está ligado a uma estratégia de linguagem cênica que se desdobra em deslocamentos pela cidade. “Esses deslocamentos vão deflagrando atritos entre os espaços reais e imaginários que convivem de forma latente e explosiva na materialidade arquitetônica das locações, aliás, uma das características mais potentes da arte site specific”, conclui Mocarzel.
Em 1992, quando a companhia estreou com a peça O paraíso perdido, encenada dentro da Igreja de Santa Ifigênia em São Paulo, fanáticos religiosos fizeram protestos dentro da igreja impedindo assim do espetáculo se iniciar. Para a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, esse antagonismo fez com que o grupo passasse a refletir sobre o lugar do teatro na cidade. Depois dessa primeira experiência, a companhia encenou peças em hospitais, presídios, bairros da periferia de São Paulo, e no rio Tietê. “Ao invés de levar ao recuo, o episódio deu forma a uma filosofia interna ao Vertigem, que optou por fazer um teatro da cidade e na cidade”, afirma Lilia.
Com 12 anos de patrocínio ininterrupto da Petrobras – uma parceria longeva – o grupo acumula mais de 15 montagens em sua trajetória, participações em festivais, turnês dentro e fora do país e atuações em residências artísticas, além das mais de 20 indicações e prêmios em diversas categorias. O Paraíso Perdido, ganhou o APCA de 1993 de Melhor Pesquisa de Linguagem; O Livro de Jó, o Prêmio Shell de 1995 de Melhor Espetáculo e Direção, para Antônio Araújo, que também ganhou a premiação por Apocalipse 1,11, em 2000; e BR-3, em 2011, a Triga de Ouro (medalha de ouro) pela Melhor Realização de uma Produção na Quadrienal de Praga, na Tchecoslováquia, além de diversos prêmios de iluminação e outras categorias.
O teatro, por sua natureza, é uma prática coletiva, envolvendo artistas e técnicos em sua criação e execução, além do público, no momento da recepção e, também a produção, como no caso dos ensaios abertos. Porém, aqui o termo “coletivo” diz respeito à quantidade de pessoas envolvidas no fenômeno teatral ou à variedade de funções nele presentes. Em nosso trabalho, contudo, utilizamos o conceito de “coletivo” associado a um modo de fazer, à maneira como as diferentes funções ou atribuições se articulam rumo à criação da obra cênica. Nessa perspectiva é que utilizamos a noção de “dinâmicas coletivas de criação”, cujo acento e foco se encontram em um processo compartilhado, colaborativo e democrático do fazer artístico. Ou seja, não há um criador “epicêntrico” para onde tudo convirja, mas um conjunto de criadores que vão definindo, coletivamente, os rumos, os conceitos, as práticas e as materializações da obra/processo.
Antônio Araújo, diretor do Teatro da Vertigem, em trecho do livro.
O Teatro da Vertigem, segundo o ensaio da professora Vera Pallamin presente no livro, transfigura o espaço urbano num poderoso dispositivo artístico de crítica social, ao mesmo tempo em que opera com relações entre teatro e cidade, cultura e política, de modo singularmente sofisticado. Para o espectador isso significa, dentre outros aspectos, ser afetado em seu corpo pelas contingências de ser colocado em lugares em que a relação entre próprio/impróprio é questionada como fundamento mesmo da experiência artística.
“Numa visão de conjunto, muito da tarefa da arte reside em buscar superar suas fronteiras internas e, nesse movimento, modificar nossa inteligibilidade e afetos, investindo em processos horizontalizantes que ampliem o mundo sensível. É nesses termos que entendo o denso legado de 25 anos de trabalho do Teatro da Vertigem, impresso indelevelmente em nossa história da cultura”, conclui Pallamin.
Editora Cobogó
336 Páginas
R$ 80,00
Lançamento livro Teatro da Vertigem
Sede do Teatro da Vertigem
Rua Treze de Maio, 240 – 1º andar – Bela Vista
Domingo, 19 de agosto, às 17h
Editora Cobogó
Criada em 2008, a Editora Cobogó tem seu foco em publicações sobre arte e cultura contemporâneas. Lançou títulos de autores e artistas como Andy Warhol, John Cage, Hans Ulrich Obrist, Moacir dos Anjos, Cacá Diegues, Adriana Varejão, Mauro Restiffe e Paulo Nazareth, além do livro Arte Brasileira para Crianças, 100 artistas e atividades para você brincar. Em 2016, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Histórias Mestiças, organizado pelo curador Adriano Pedrosa e pela antropóloga Lilia Schwarcz.
O catálogo da editora também se destaca pela publicação de livros sobre música e teatro. A Coleção Dramaturgia, criada em 2012, publica textos de importantes dramaturgos da cena teatral brasileira e internacional. Com 44 publicações, a Cobogó é uma das editoras que mais investe em dramaturgia no país e oferece ao leitor a oportunidade de ter bons livros com textos dramáticos ao alcance das mãos. Entre os títulos publicados estão as peças premiadas Caranguejo Overdrive, de Pedro Kosovski; Por Elise e Mata teu pai, de Grace Passô; BR-Trans, de Silvero Pereira; Conselho de Classe, de Jô Bilac; Não nem nada e Chorume, de Vincius Calderoni; Tom na Fazenda, do franco-canadense Michel Marc Bouchard, com tradução de Armando Babaioff; e O princípio de Arquimedes, do espanhol Josep Maria Miró, que foi adaptado para o cinema por Carolina Jabor. Em 2017, lançou Fronteiras invisíveis: diálogos para criação de A floresta que anda, da autora, diretora de teatro e cineasta Christiane Jatahy.
Fotos dos espetáculos Apocalipse 1,11, Bom Retiro 958 Metros, O Paraíso Perdido e O Livro de Jó / Divulgação
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