Espetáculo investiga os sonhos a partir da perspectiva ameríndia na peça…
Partindo da ideia de que para alguns povos ameríndios, o sonho é incorporado como um fenômeno que incide sobre a realidade das aldeias, e de que a partir do seu compartilhamento, os sonhos podem vir a coletivizar a experiência e permitir transitar entre mundos. Assim, estes podem ser revertidos em ações de cura e até mesmo na transformação da organização social e política daquela comunidade. Deste modo, o coletivo 28 Patas Furiosas, após quatro anos de pesquisas com antropólogos, antropólogas, pajés e lideranças indígenas, criou o espetáculo Um Jaguar por Noite, que reestreia no Espaço 28 (Rua Anhaia, 987, Bom Retiro, São Paulo/ SP), com apresentações entre 14 e 30 de junho de 2024. As sessões são às sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 18h, com ingressos a 30 reais (inteira) e 15 reais (meia).
O coletivo explorou cosmologias dos povos Xavante, Kamayurá e Guarani e acabou por refletir sobre a forma conturbada com que nós, ocidentais, encaramos o sono e os sonhos.
Após os primeiros espetáculos do grupo terem se baseado em literaturas europeias, o 28 Patas Furiosas focou na cultura brasileira. Em *Parede*, inspiraram-se no autor Qorpo-Santo e agora exploram a cultura ameríndia para repensar o cotidiano. “Sonhar como água, rocha, planta, bicho, para vislumbrar outros mundos e atuar sobre o presente”, consta no projeto do grupo.
Numa instalação cênica com painéis de luz, confetes e colchões infláveis, o grupo proporciona ao público uma vivência de 90 minutos, refletindo sobre a dificuldade de se ter um sono de qualidade nas cidades e lembrando de sonhos perdidos.
A trama, ambientada no plano dos sonhos, mostra um grupo (na peça, “Setegente”) que aluga uma casa no campo para uma celebração esquecida. À noite, o encontro se torna onírico, deslocando a casa para um cemitério, cruzando rios e chegando a uma montanha cercada por uma onça.
A pesquisa revelou que a sociedade ocidental perdeu a capacidade de se lembrar dos sonhos. Sidarta Ribeiro destaca nossa desconexão da coletividade e os prejuízos cognitivos e sociais. *Um Jaguar por Noite* posiciona o sonho como central à experiência humana, capaz de criar novos futuros.
A idealização e a realização do espetáculo são do 28 Patas Furiosas, que assina a dramaturgia ao lado de Tadeu Renato. Em cena estão Isabel Wolfenson, Maíra do Nascimento, Pedro Stempniewski, Sofia Botelho e Valéria Rocha. A encenação, cenografia e luz são de Wagner Antônio.
Sobre a encenação
Os mundos da vigília e do sonho se misturam na dramaturgia do espetáculo, que é construído por sobreposição de imagens e palavras, ligando as cenas por conexões simbólicas. Wagner Antônio criou uma ambientação com colchões infláveis, painéis de luz (os chamados “painéis oníricos”, confetes e vasos com água, dentre outros itens.
“A peça é um ritual de entrada no mundo dos sonhos e um caminho de volta à realidade. Quando um sonho é compartilhado, ele se torna política, espiritualidade, filosofia – o que chamamos de tecnologia dos sonhos”, comenta o encenador.
Os espectadores, imersos na narrativa, percebem lentamente que foram capturados pelos sonhos. “O público se acomoda em uma arena, como se estivesse ao redor de uma fogueira”, explica Wagner.
O ponto de partida para *Um Jaguar por Noite* foi a performance-instalação *Parabólica dos Sonhos*, que criou um ambiente para o público compartilhar e gravar seus sonhos, com som, luz, projeções e diversos objetos, contribuindo para um espaço meditativo propício à troca entre performers e participantes.
O espetáculo é parte do projeto “Dos sonhos à vigília: pesquisa, espaço e território em 10 anos de trajetória do 28 Patas Furiosas”, contemplado pela 41ª Lei de Fomento ao Teatro da cidade de São Paulo.
Sinopse
Em “Um Jaguar por Noite”, as atrizes, os atores e a equipe técnica do 28 Patas Furiosas preparam o espaço cênico para dormir, enquanto elaboram reflexões sobre a dificuldade do sono nas cidades e se arriscam ao tentar lembrar de sonhos perdidos em suas memórias.
No plano onírico, um grupo de pessoas decide alugar uma casa no campo para celebrar algo do qual não se lembram mais. Nesta casa, as pessoas são surpreendidas pela noite, e veem o encontro festivo ganhar contornos oníricos que entortam a realidade: a casa se desloca para um cemitério, cruza com dois rios e leva as pessoas para o topo de uma montanha rodeada por uma onça.
Ficha Técnica
Idealização e realização – 28 Patas Furiosas
Dramaturgia: 28 Patas Furiosas e Tadeu Renato
Encenação, cenário e luz: Wagner Antônio
Texto: Tadeu Renato
Atuação: Isabel Wolfenson, Maíra do Nascimento, Pedro Stempniewski, Sofia Botelho e Valéria Rocha
Música: Júlia Ávila
Figurino: Valentina Soares
Colaboração no trabalho vocal: Natália Nery
Arte gráfica: Julia Valiengo
Direção técnica e assistência de direção: Dimitri Luppi
Equipe técnica e assistência de iluminação/ cenografia: Camila Refinetti, Felipe Fly, Leo Sousa, Letícia Nanni e Lucas JP Santos
Registro em foto: Helena Wolfenson
Registro em vídeo: Marcos Yoshi
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques e Daniele Valério
Mídias sociais: Tadeu Ramos
Produção: Lud Picosque – Corpo Rastreado
Um Jaguar por Noite
Espaço 28
Rua Anhaia, 987, Bom Retiro, São Paulo
Temporada: Até 30 de junho de 2024
Dias 21, 22, 23, 28, 29 e 30 de junho: apresentações com interpretação em Libras
Sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 18h
Ingresso: R$30,00 (inteira) | R$15,00 (meia entrada)
Classificação etária: Livre
Duração: 90 minutos
Sobre o 28 Patas Furiosas
28 Patas Furiosas é um coletivo originado em 2013 na cidade de São Paulo que tem como bases a experimentação da linguagem teatral e a criação de espetáculos com dramaturgias autorais. Desde 2013, o grupo gerencia sua sede, o Espaço 28 (atualmente localizado no Bom Retiro, SP) onde, além de conceber e apresentar seus espetáculos, realiza diversas atividades como o m0no_festival – festival de solos em diferentes linguagens, oficinas, concertos, residências artísticas, performances, mesas de debate com convidadas e convidados, além de trocas com diferentes coletivos e com o público.
O 28 Patas Furiosas se encontra em pesquisa continuada desde a sua formação, tendo realizado os espetáculos lenz, um outro (2014), A Macieira (2016), Parede (2019), o experimento audiovisual Parede de Dentro (2021), e a performance Parabólica dos Sonhos (2022).
Foto: Helena Wolfenson
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