Coletivo paulistano idealizador do projeto Teatro de Janela, que apresenta espetáculos a partir da janela de um prédio no Elevado Presidente João Goulart no centro da capital paulista, ocupa as janelas do Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo. Pela primeira vez, em 11 anos de atuação, o Grupo Esparrama idealiza e encena uma montagem em uma janela diferente da localizada em frente ao Minhocão…
Três palhaços denominados “acordadores de cidades” juntam-se com as crianças “especialistas em janelas”, que conseguem ver o que sonham as janelas, quem mora nelas e que histórias elas guardam, para cumprir a incrível missão de despertar prédios que estão adormecidos para voltarem a ser utilizados produzindo novas memórias. Esse é o fio condutor de Acorda!, nova montagem do Grupo Esparrama, que a partir de 5 de julho, ocupa as janelas do primeiro e terceiro andares do Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo.
Acorda! integra o projeto Teatro de Janela, proposta inusitada do Grupo Esparrama, que de forma poética e sem precedentes ocupa e debate a cidade, com a plateia acomodada no espaço público para assistir uma peça teatral e com isso se apropriar da cidade de uma forma diferente. Após três peças e 25 mil espectadores na janela do prédio no Minhocão (Elevado Presidente João Goulart), o Esparrama muda de cenário e pela primeira vez encena um espetáculo em uma janela inédita.
Na nova montagem com direção de Iarlei Rangel, três palhaços “acordadores de cidades” (Kleber Bianez, Lígia Campos e Rani Guerra) precisam acordar um prédio que está roncando e se não for despertado a tempo vai dormir para sempre. Pela intensidade do ronco os “especialistas” conseguem saber quanto tempo resta para que o prédio não caia no sono eterno e marcam esse tempo em uma ampulheta gigante.
Acorda! também é marcado pela presença de Petrônio e Pedruska, duas gárgulas que habitam uma das janelas do prédio. Na montagem, as personagens são bonecos que contam as histórias e memórias do prédio, seu entorno e da própria cidade de São Paulo. Com muita diversão, os palhaços tentam muitas maneiras de acordar o prédio até despertarem um dragão que habitou o local.
Cidade ocupada
Iarlei Rangel, diretor do Grupo Esparrama conta que para criação deste espetáculo, o coletivo reuniu cinco grupos de crianças que, durante um passeio pelo quarteirão do Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo, observaram, com seus olhos atentos de especialistas, as janelas do centro da cidade. “Elas nos revelaram histórias e personagens que habitam ou habitaram aquelas janelas aparentemente vazias. Algumas dessas histórias estão em Acorda! e outras tantas, junto com seus personagens, nos serviram de inspiração. As crianças guiaram nossos olhares para as coisas mais incríveis da cidade, coisas para as quais os nossos olhos de adultos geralmente estão fechados. ”
Acorda! é fruto dessa pesquisa continuada do Grupo Esparrama que usa a janela como suporte para convidar o público a ocupar as ruas e olhar a cidade. Na vida real já existem muitos “acordadores de cidades” que, com muita coragem, vivem ocupando, dando vida e criando novas histórias para espaços que perderam a sua função social. São grupos de mães que dão novos ares a pracinhas abandonadas, são moradores que transformam ruas em lugares de brincar aos finais de semana e famílias que ocupam prédios abandonados para transforma-los em lar.
“Na nossa história inventada, os nossos palhaços assumem essa função de ‘acordadores de cidades’ para, junto com os ‘especialistas de janelas’ de cada apresentação, lembrar ao público que cidade vazia fica desmemoriada e que o segredo é mantê-la sempre bem ocupada”, pontua o diretor.
Cenas envolvem todo o prédio
A encenação propõe um ritmo marcado pela tensão proposta pela ampulheta e pelas gárgulas, que representam o tempo limite para que o prédio possa ser acordado, em contraste com o deslumbramento provocado pelas cenas das memórias despertadas. Conduzindo essa pulsação entre planos abertos – cenas que envolvem todo o prédio – e planos fechados – cenas em uma única janela – estão os palhaços que usam o riso como forma de engajar o público com o conflito da montagem.
Por fim, as crianças são convocadas para ajudar a resolver a grande questão de Acorda!. A cena de construção de um novo habitante do prédio é a materialização de um sonho antigo do Grupo Esparrama: o de trazer a ‘escuta de/com crianças” (que até então era utilizada apenas como inspiração) como elemento cênico/dramatúrgico do próprio espetáculo.
Como se fossem cortinas de um teatro, as janelas do prédio do Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo se abrem para revelar o mais novo espetáculo do Grupo Esparrama. “Há algum tempo sonhamos com a possibilidade de experimentar outras janelas, que nos trouxessem novas histórias, novos desafios e novas cidades. E estamos muito felizes pelo CCBB SP ter imaginado conosco a possibilidade de acordar o seu prédio, abrindo suas janelas e deixando que elas sonhassem diante dos olhos da plateia”, enfatiza Iarlei Rangel.
Ao realizar esse projeto, o Centro Cultural Banco do Brasil apresenta uma forma inovadora de utilização de seu espaço cultural, contribui com a revitalização e ocupação do centro da capital paulista, incentiva a formação de novas plateias e reafirma seu compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura.
Teatro de Janela
A ideia do Teatro de Janela nasceu de uma forma bastante despretensiosa. Naquela época, 2013, o Esparrama ensaiava o primeiro espetáculo – 2POR4 – na sala do apartamento de dois dos integrantes do grupo, que fica exatamente em frente ao Minhocão. Os integrantes então perceberam que a música do quarteto de cordas que escapava pela janela chamava a atenção das pessoas que passavam pelo viaduto e, para aguçar ainda mais esta curiosidade, os palhaços apareceram na janela para fazer uma pequena interação com aqueles, que a partir de então, se transformaram em público de uma intervenção fugaz. Foi a partir deste acontecimento inesperado que o grupo passou a considerar aquele espaço enquanto uma oportunidade de ação cultural.
Após oito meses de pesquisa o grupo estreou o espetáculo Esparrama pela Janela, que deu origem a uma sequência de três montagens. A peça ganhou destaque relevante de público, crítica e mídia pela forma poética e inusitada com que ocupou e discutiu a cidade. Vencedora dos prêmios FEMSA de Teatro Infantil e Jovem nas categorias revelação pela direção e Sustentabilidade e Cooperativa Paulista de Teatro de melhor ocupação de espaço, a peça foi um projeto precursor para a revitalização simbólica do Minhocão, se tornando referência para diversas pesquisas nas áreas de artes e urbanismo.
Em 2015 o grupo estreou Minhoca na Janela em 2018 foi a vez de Navegar, que foi finalista do Prêmio APCA 2018 na categoria Teatro Infantojuvenil e finalista em oito categorias (produção, direção, autoria de texto original, atriz, ator coadjuvante, cenografia, figurinos e sustentabilidade) do Prêmio São Paulo de Incentivo de Teatro Infantil e Jovem.
Por conta de todo este histórico, o Grupo Esparrama recebeu o reconhecimento do DPH – Departamento de Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo, por meio de uma placa afixada no prédio onde são realizadas as apresentações, destacando a contribuição desta experiência para formação das identidades e memórias dos diversos grupos sociais existentes em São Paulo. “Abrimos a janela para nos apresentar e a própria cidade nos invadiu com todas suas questões, se impondo enquanto tema e cobrando de nós artistas a coragem de responder cenicamente a estas provocações. Com isso, vieram os espetáculos seguintes completando a trilogia”, explica Iarlei Rangel.
O prédio do CCBB São Paulo
Construído em 1901, o prédio do Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo virou agência bancária em 1927 e Centro Cultural em 2001. O edifício foi comprado pelo Banco do Brasil em 1923 e após a reforma do arquiteto Hippolyto Pujol, se tornou o primeiro prédio em imóvel próprio do Banco do Brasil na cidade de São Paulo.
Graças ao restauro do arquiteto Hippolyto Pujol, o espaço ainda preserva características arquitetônicas do início do século da Belle Époque Paulista, período de influência francesa, como platibandas (faixas horizontais no superior do prédio) e mansardas (janelas sobre o telhado). Também são notáveis a estrutura de concreto armado (uma inovação na época), a grande área das janelas emolduradas por pilastras monumentais e o vão interno que atravessa todos os andares, iluminado por uma claraboia. Um dos destaques do prédio é o busto do deus grego Mercúrio, o deus do comércio, embaixo das iniciais “BB” do banco.
Ficha Técnica
Concepção – Grupo Esparrama. Dramaturgia – Bobby Baq e Grupo Esparrama. Direção – Iarlei Rangel. Elenco – Lígia Campos, Kleber Brianez e Rani Guerra. Manipuladores – Evelin Cristina (Pedruska/Dragão/Famílias e Habitante Inventado pelas crianças) e Paulo Henrique (Petrônio/Dragão/Famílias e Habitante Inventado pelas crianças). Direção musical, Trilha Musical e Músicas Originais – Tô Bernado e Rani Guerra. Produção Musical – Estúdio Indlu. Bonecos e Adereços Cênicos – Eliseu Weide. Criação de Figurino – Marcela Donato. Cenotécnico – Andreas Guimarães. Assistentes de Figurino – Katia Naiane e Judite de Lima. Contrarregra, Assistência de Manipulação e de Som – Venâncio Ramos e Dega. Técnica de Som – Carol Andrade. Narração da Cena Janete – Paloma Alves. Design Gráfico – Marina Faria. Direção de Produção – Paloma Alves | Obará Produções. Produção Executiva – Fabiana Carqueijo. Assessoria de Imprensa – Frederico Paula | Nossa Senhora da Pauta. Patrocínio – Banco do Brasil. Realização – Ministério da Cultura e Centro Cultural Banco do Brasil.
Espetáculo Acorda!
Com o Grupo Esparrama
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico, São Paulo – SP
Funcionamento CCBB SP: Aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças
Informações: (11) 4297-0600
Temporada: De 5 a 28 de julho, sexta-feira a domingo, 15h.
De 3 de agosto a 1º de setembro, sábado e domingo, 15h.
Entrada Gratuita
Duração: 40 minutos
Classificação indicativa: Livre
Estacionamento: O CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas – necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento e funciona das 12h às 21h.
Van: Ida e volta gratuita, saindo da Rua da Consolação, 228. No trajeto de volta, há também uma parada no metrô República. Das 12h às 21h.
Transporte público: O Centro Cultural Banco do Brasil fica a 5 minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista.
Táxi ou Aplicativo: Desembarque na Praça do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m).
Foto: Bruna Arjona
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