Com direção de Inez Viana, o grupo estreia Último Ensaio e reencena Nem Mesmo Todo o Oceano (inédita em São Paulo) e Mata teu Pai, ambas sucessos de público…
Criada em 2009, a Cia OmondÉ celebra seus 15 anos de existência por meio de uma série de atividades. O grupo ocupa o Sesc Pompeia com três espetáculos, incluindo o inédito Último Ensaio, um bate-papo e uma oficina. As atrações acontecem entre os dias 8 de agosto e 1º de setembro de 2024 (veja a programação completa abaixo).
O grupo abre as comemorações com a estreia de Último Ensaio, que ganha 12 apresentações entre 8 e 25 de agosto, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 17h. É o quarto texto escrito por Inez Viana, que também assina a direção da obra, e o primeiro criado especialmente para a Cia OmondÉ.
Com forte traço metalinguístico, a dramaturgia aborda, sobretudo, a falta de comunicação entre as pessoas e o caos exacerbado vivido numa metrópole num futuro próximo. O pensamento mais nebuloso vem à tona, revelando o pior da condição humana, anestesiada por barbitúricos e a falta de perspectiva. “As pessoas perderam a capacidade de sentir empatia, o que deturpou os valores morais”, comenta Inez.
Nesse cenário distópico, um elenco de nove atrizes e atores está preso em uma espécie de bunker teatral, para onde os espectadores vão com a intenção de se divertir, já que o mundo está em ruínas e violento. Por isso, os intérpretes passam e repassam as várias cenas, revelando ao público como funciona o processo de um ensaio.
Em um determinado momento, uma atriz revela que viu, à caminho do ensaio, uma mãe ser baleada com seu bebê no colo. A artista salva a criança, mas comete um delito ao levá-la para esse lugar onde ensaiam. O conflito se estende pelo elenco, que não quer se responsabilizar por aquele ser.
“O teatro é o lugar do encontro, da elaboração de memórias, da reflexão. Epifanias são geradas através desse encontro presencial e único e, apesar do evento em si não se repetir, ciclos da nossa História tendem a se recontar, se reiterar e se espelhar. Temos como exemplo recente, o vilipêndio e desmantelo da nossa Cultura no desgoverno Bolsonaro, que flertou com o fascismo. Portanto, vimos a necessidade de valorizarmos as/os artistas e a própria arte em si, traçando um paralelo com o fazer teatral. Propomos também um jogo para a plateia, para que ela possa pensar em que sociedade prefere viver e se faz algo para modificá-la”, explica Inez Viana.
A luz é de Sarah Salgado, destaque na iluminação cênica paulistana, com vários prêmios e indicações, e a direção de movimento é de Denise Stutz, artista co-fundadora do Grupo Corpo, de Belo Horizonte/MG.
Dão vida aos personagens os artistas da OmondÉ Carolina Pismel, Debora Lamm, Iano Salomão, Júnior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes e Zé Wendell, e as atrizes convidadas Jade Maria Zimbra e Lux Négre. “A ideia é eles se alternarem nos papéis”, comenta a diretora.
Ao fruir ficção e realidade, Último Ensaio sobrepõe várias camadas, criando uma linguagem que permite que as relações se estabeleçam de forma horizontal, como se cada uma/ume/um fosse responsável por fazer existir aquela companhia teatral.
Ao mesmo tempo, o espetáculo está dividido em três movimentos: o ensaio, o desejo e o ensejo. Ou seja, a projeção do que importa fazer, como queremos realizar e o caminho que nos resta.
Outros espetáculos da Mostra
Nos dias 29 e 30 de agosto, quinta e sexta, às 20h, acontecem as sessões de Nem Mesmo Todo o Oceano, uma peça de 2013 inédita em São Paulo e inspirada no livro homônimo de Alcione Araújo.
Adaptado e dirigido por Inez Viana, o espetáculo narra a história de um rapaz do interior de Minas Gerais que vai para o Rio de Janeiro com o sonho de exercer a medicina. No entanto, ele se torna um médico legista do DOI-Codi.
Definido pelo grupo como um thriller contemporâneo, o relato aproxima o público da história do Brasil, retratando os instantes que antecederam o golpe militar e o surgimento da repressão do regime.
Já Mata teu Pai é uma peça de 2017 escrita por Grace Passô. Na trama, a trajetória de Medeia é recontada de maneira a estimular uma reflexão sobre os nossos tempos. A protagonista icônica fala para suas vizinhas e cúmplices: a síria, a cubana, a paulista, a judia e a haitiana.
Dirigido por Inez Viana, o trabalho conta com a performance de Débora Lamm, que divide o palco com um coro de senhoras de mais de 65 anos. As apresentações acontecem nos dias 31 de agosto, sábado, às 20h, e 1º de setembro, domingo, às 17h.
Atividades paralelas
Para encerrar a comemoração, a Cia OmondÉ também realiza o bate-papo Como a arte contribui para resgatar a história de um país?, no dia 28 de agosto, às 19h. Para participar, basta retirar o ingresso gratuitamente.
A oficina gratuita De Encontro à Cena, destinada ao público com mais de 18 anos, acontece nos dias 13, 14, 20 e 21 de agosto, das 17h às 20h.
Sobre a Cia OmondÉ
Criada em 2009, a partir de um encontro teatral que resultou na montagem de “As Conchambranças de Quaderna”, de Ariano Suassuna, a Cia OmondÉ é a concretização de um desejo que a atriz e diretora Inez Viana nutriu por mais de duas décadas. Naquela ocasião, movidos pela vontade de compartilhar processos e criar em colaboração, nove atores de diferentes lugares do Brasil e Inez, iniciaram uma pesquisa, dialogando com diferentes recursos do teatro e da dança contemporâneos, que se mantêm presentes nas obras atuais da companhia.
Com 15 anos, a OmondÉ tem em seu repertório nove peças, todas de autores brasileiros, clássicos e contemporâneos – como Ariano Suassuna, Nelson Rodrigues, Grace Passô, Jô Bilac, Alcione Araújo e Inez Viana – e segue na busca de uma linguagem cênica que dialoga com temas vigentes, contribuindo para a reflexão sobre nosso papel na sociedade.
Mostra da Cia OmondÉ
Sesc Pompeia
Rua Clélia, 93 – Água Branca
De 8 de agosto a 1º de setembro de 2024
Ingresso (valor de todos os espetáculos):
R$60,00 (inteira), R$30,00 (meia-entrada) e R$18,00 (credencial plena)
Último Ensaio
Data: 8 a 25 de agosto, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 17h
Classificação: 14 anos
Duração: 80 minutos
Sinopse: Que perguntas nós fazemos para continuar seguindo nesse mundo em ruínas? Essa é a questão colocada, para que nove atrizes e atores revelem o processo de um ensaio teatral de uma peça, onde fazem palavras cruzadas e buscam dar algum sentido para suas vidas, enquanto não podem sair do local de apresentação, afinal, lá fora tudo está inconcebível. A ação se passa numa espécie de bunker teatral, onde o público aparece para respirar um pouco e se divertir, apesar do mundo fora dali estar caótico e violento.
Ficha técnica – Dramaturgia e direção: Inez Viana | Elenco Cia Omondé: Carolina Pismel, Debora Lamm, Iano Salomão, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes E Zé Wendell | Elenco convidado: Lux Negre E Jade Maria Zimbra | Direção de produção: Bem Medeiros e Luis Antônio Fortes | Direção de Arte: Carla Costa | Direção De movimento: Denise Stutz | Iluminação: Sarah Salgado | Produção executiva: Matheus Ribeiro | Fotos e programação visual: Rodrigo Menezes | Assessoria de imprensa: Canal Aberto | Realização: Eu + Ela Produções Artísticas e Fortes Produções Artísticas
Nem Mesmo Todo O Oceano
Data: 29 e 30 de agosto, quinta e sexta, às 20h
Classificação: 16 anos
Duração: 80 minutos
Sinopse: Espetáculo inédito no Estado de São Paulo, essa adaptação de Inez Viana para o teatro,do romance homônimo de Alcione Araújo, narra a história de um rapaz do interior de Minas Gerais que, com o sonho de exercer a medicina no Rio de Janeiro, acaba se tornando um médico legista do DOI-Codi. Ambientado nos “Anos de Chumbo”, entre os instantes que antecederam o golpe militar e os primeiros momentos de repressão do regime, este relato nos aproxima da história do Brasil, sob o olhar de um personagem contraditório e complexo.
Ficha técnica – Autora: Alcione Araújo | Adaptação direção e idealização: Inez Viana | Elenco: Carolina Pismel, Iano Salomão, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes e Zé Wendell | Iluminação: Renato Machado | Direção de arte: Flávio Souza | Direção musical: Marcelo Alonso Neves | Consultoria dramatúrgica: Pedro Kosovski | Assistentes de direção: Carolina Pismel, Debora Lamm e Juliane Bodini | Direção de produção: Bem Medeiros | Coprodução: Luis Antonio Fortes | Realização: Cia OmondÉ
*texto publicado pela editora Cobogó
Mata Teu Pai
Data: 31 de agosto e 1º de setembro, sábado, às 20h, e, domingo, às 17h
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos
Sinopse: Grace Passô reconfigura, à luz do mito de Medeia, a trajetória desta mulher e somos convidades a visitar diferentes territórios, numa reflexão sobre nosso tempo e suas fronteiras. “Preciso que me escutem!”, é o que diz Medeia em sua primeira fala na peça. E entre expatriados e imigrantes, em estado febril, ela fala. Suas vizinhas e cúmplices – a síria, a cubana, a paulista, a judia, a haitiana – a escutam.
Ficha técnica – Texto: Grace Passô | Direção e idealização: Inez Viana | Performance: Debora Lamm | Participação: Coro de senhoras + 65 | Iluminação: Ana Luzia de Simoni e Nadja Naira | Cenário: Mina Quental – Atelier da Gloria | Figurino: Sol Azulay | Direção de movimento: Marcia Rubin | Direção musical: Felipe Storino | Caracterização: Josef Chasilew-| Direção de produção: Bem Medeiros | Coprodução: Luis Antonio Fortes | Realização: Cia OmondÉ
*texto publicado pela editora Cobogó
Bate-Papo: Como a Arte contribui para resgatar a memória de um país?
Data: 28 de agosto, quarta-feira,às 19h
Valor: Grátis | Retirada de ingressos no local
Classificação: Livre
Oficina: De Encontro à Cena
Data: 13, 14, 20 e 21 de agosto, terças e quartas, das 17h às 20h
Valor: Grátis – Inscrição Online
Classificação: 18 anos
Foto do espetáculo inédito Último Ensaio: Rodrigo Menezes
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