Obras brasileiras, portuguesas, moçambicanas e caboverdianas, publicadas por 37 diferentes editoras, estão entre as selecionadas. Um dos destaques da seleção é a quantidade e a diversidade de editoras entre os semifinalistas…
O Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa anuncia os 60 títulos semifinalistas da edição de 2024. Neste ano, a premiação contou com 2.619 livros inscritos, submetidos a dois júris especializados, um de prosa e outro de poesia, formados por profissionais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. Após o trabalho de leitura e avaliação das obras, ao fim de mais de quatro meses, cada júri elegeu 30 livros em prosa e 30 de poesia, de autoras e autores de quatro diferentes nacionalidades: Brasil, Portugal, Moçambique e Cabo Verde. Tanto o júri, quanto o resultado desta primeira etapa enfatizam a proposta do prêmio de valorização da língua portuguesa.
Um dos destaques da seleção é a quantidade e a diversidade de editoras entre os semifinalistas: as 60 obras foram publicadas por 37 casas editoriais – das grandes às independentes, de diferentes perfis e nacionalidades, como as brasileiras Aboio e Corsário-Satã, a angolana Kacimbo, a moçambicana Gala-Gala, e a portuguesa Poética, entre outras.
O quesito diversidade também se verifica no perfil dos semifinalistas, composto por escritoras e escritores tanto veteranos com de obras publicadas, quanto por estreantes. Entre os veteranos estão escritores como João Silvério Trevisan (Brasil), Hélia Correia (Portugal) e Mia Couto (Moçambique), na prosa; e Glauco Mattoso e Nei Lopes (Brasil), Adília Lopes (Portugal), e José Luiz Tavares (Cabo Verde), na poesia. Entre os estreantes, para citar alguns nomes entre outros, estão Juliana Slatiner e Ana Johann (Brasil), e Sofia Perpétua (Portugal), na prosa; e Jeremias F. Jeremias (Moçambique) e Vitoria Vozniak (Brasil), na poesia.
Na categoria prosa, foram eleitos 19 romances, sete livros de contos, dois de crônicas e duas dramaturgias. Parte dessa produção atualiza o passado, em narrativas de ambientação histórica que percorrem do século XVI ao século XX, como se verifica nos romances A Capitoa, de João Paulo Oliveira e Costa, e Revolução, de Hugo Goncalves (Portugal), e Os infortúnios de um governador nos trópicos, de Germano Almeida (Cabo Verde). Outra parte dialoga com o presente de um mundo em crise, flagrando a morte, literal ou simbólica; as várias formas de violência, intolerância, fundamentalismo e discriminação; os atentados contra a dignidade humana e animal.
As obras dos brasileiros Airton Souza (Outono de carne estranha), Micheliny Verunschk (Caminhando com os mortos) e Joca Reiners Terron (Onde pastam os minotauros), por exemplo, são expressões dessa contemporaneidade. As tensões sociais, ao lado das grandes questões existenciais, mesclam-se às igualmente várias formas do amor, do desejo, das saudades, e do luto. Todos esses temas são abordados com grande sensibilidade artística pelos semifinalistas.
Quando se considera a poesia, pode-se falar, ainda, de uma outra diversidade, relativa aos estilos. Elas contemplam desde a ressignificação e a subversão do soneto e outras formas tradicionais, como Porca miséria, de Glauco Mattoso (Brasil) e Uma colheita de silêncios, de Nuno Júdice (Portugal), à mescla de gêneros, com poemas em prosa e versos de dicção prosaica ou ainda à maneira de autobiografias, como Ninguém quis ver, de Bruna Mitrano, e Vida e morte de Adília Lopes, de Piero Eyben (Brasil). Pandemia, guerras, as faces da resistência, as trincheiras das identidades, o fazer poético como ficção estão entre os temas presentes nos 30 livros semifinalistas brasileiros e estrangeiros na categoria Poesia.
Vale observar que dois poetas portugueses semifinalistas, Nuno Júdice e Miguel Gullander, faleceram em 2024. O Prêmio Oceanos lamenta profundamente essas perdas, e esclarece que, pelo regulamento, escritores falecidos após a inscrição de seus livros permanecem concorrendo e, caso ganhadores, o prêmio é concedido in memoriam.
Seleção dos finalistas
O prêmio entra, agora, na etapa de seleção dos 10 finalistas entre as 60 obras que chegaram à semifinal. O júri, eleito pelo anterior, é composto, na prosa, pelos brasileiros Carola Saavedra e Cristóvão Tezza; os portugueses António Araujo e Simão Valente; e pela moçambicana Teresa Manjate. Na poesia, pelos brasileiros Ademir Assunção e Luiza Romão; pelos portugueses Helena Buescu e Hugo Pinto Santos; e pela moçambicana Teresa Noronha.
Veja abaixo a lista completa dos semifinalistas:
Mais informações sobre cada obra podem ser conferidas no site da Associação Oceanos: https://associacaooceanos.org/.
Prosa
A Capitoa, João Paulo Oliveira e Costa – Temas e Debates
A valsa com a morte, João Tordo – Companhia das Letras PT
As cinco mães de Serafim, Rodrigo Guedes de Carvalho – Dom Quixote
As filhas moravam com ele, André Giusti – Caos e Letras
Baldeação, Luiz Mauricio Azevedo – Editora de Cultura
Caminhando com os mortos, Micheliny Verunschk – Companhia das Letras
Certas raízes, Hélia Correa – Relógio D’Água
Compêndios para desenterrar nuvens e outros contos, Mia Couto – Leya
Eu era uma e elas eram outras, Juliana W. Slatiner – Aboio
Gambé, Fred Di Giacomo Rocha – Companhia das Letras
História para matar a mulher boa, Ana Johann – Nós
Lila, Gael Rodrigues – Cepe
Mata doce, Luciany Aparecida – Companhia das Letras
Metal de Sacrifício, Luiz Mauricio Azevedo – Figura de Linguagem
Meu irmão, eu mesmo, João Silvério Trevisan – Companhia das Letras
O barulho do fim do mundo, Denise Emmer – Bertrand Brasil
O caçador chegou tarde, Luís Henrique Pellanda – Maralto
O Quartel, A. M. Pires Cabral – Tinta da China
Onde pastam os minotauros, Joca Reiners Terron – Todavia
Os Infortúnios de um governador nos trópicos, Germano Almeida – Leya
Os primeiros, Ricardo Prado – Editora da Ponte
Outono de carne estranha, Airton Souza – Record
Perdeu vontade de espiar cotidianos, Evandro Affonso Ferreira – Nós
Pontas soltas tardes de neblina, Rogério A. Tancred0 – Urutau
Quando chega o nevoeiro, Caio Meira – 7Letras
Requiem por Isabel, Raquel Serejo Martins – Poética
Revolução, Hugo Gonçalves – Companhia das Letras PT
Sem mim não há dia, Fellipe Fernandes F. Cardoso – Urutau
Sempre Paris, Rosa Freire D’Aguiar – Companhia das Letras
Tanque, Sofia Perpétua – Douda Correria
Poesia
Aberto Todos os Dias Portugal, João Luís Barreto Guimarães – Quetzal
As palavras trocadas, Laura Erber – Âyiné
Caminhávamos pela beira, Lolita Campani Beretta – Aboio
Choupos, Adília Lopes – Assírio & Alvim
Coisa de mamíferos, João Mostazo – Editora 34
Criação do Fogo, Álvaro Taruma – Alcance
Dialeto das nuvens, Christian Dancini – Patuá
Doze passos até você, Luciana Annunziata – Urutau
Gelo, Sérgio Nazar David – 7 Letras
Limalha, Rodrigo Lobo Damasceno – Corsário-Satã
Língua Solta, Flora Lahuerta – Urutau
Metamorfoses do fogo, Erick Costa – Cas’a
Ninguém quis ver, Bruna Mitrano – Companhia das Letras
Nos beats do coração de um musaranho, Vitória Vozniak – Sete Letras
O Feiticeiro, Miguel Gullander – Kacimbo
O livro do figo, Lilian Sais – Macondo
O rosto é uma máquina aquosa, Ana Maria Vasconcelos – Ofícios Terrestres
Oitentáculos, Nei Lopes – Record
Órbitas, Paulo Tavares – Assírio & Alvim
Os desertos, Marcos Samuel Costa – Folheando
Perder o pio a emendar a morte, José Luiz Tavares – The Poets and Dragons Society
Porca Miséria!, Glauco Mattoso – Clóe
Ressurgências, José Manoel Ribeiro – Patuá
Rostos desabitados [e] fragmentos do escuro, Jeremias F. Jeremias – Gala-Gala
Teoria da ressecção, Tatiana Pequeno – Patuá
Txaiuirá, Jorgeana Braga – Urutau
Última Vida, Fernando Pinto do Amaral – Dom Quixote
Uma Colheita de Silêncios, Nuno Júdice – Dom Quixote
Uma volta pela lagoa, Juliana Krapp – Luna Park e Fósforo
Vida e morte de Adília Lopes, Piero Eyben – Urutau
O prêmio
O Oceanos é realizado via Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), pelo Ministério da Cultura, e conta com o patrocínio do Banco Itaú, da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa, o apoio do Itaú Cultural, da Biblioteca Nacional de Moçambique e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde; e o apoio institucional da CPLP. O Prêmio Oceanos é administrado pela Associação Oceanos em parceria com o Itaú Cultural.
Foto Fernanda D’Umbra e Santiago Nazarian, Prêmio Oceanos 2023: Agência Ophelia
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