O espetáculo “Tudo em volta está deserto”, dirigido por Christian Landi e com dramaturgia de Vitor Julian. Ambientada em 1971, em São Paulo, a peça reúne 14 artistas no elenco para contar a história de jovens brasileiros que lutaram contra a ditadura militar…
Utilizando o exílio forçado como fio condutor, a obra explora a resistência contra o regime opressor e a luta pela democracia e liberdade de expressão.
Em 2024, completam-se 60 anos desde o golpe militar de 1º de abril de 1964, um evento que ainda reverbera na sociedade brasileira, especialmente à luz dos acontecimentos recentes, como a ascensão da extrema direita ao poder em 2018 e a tentativa de golpe de estado em 8 de janeiro de 2023.
A repressão brutal iniciada pelos militares em 1964 logo se intensificou, com prisões arbitrárias, torturas, cassações e exílios daqueles que se opuseram à ditadura. A radicalização do regime veio em 1968, com o AI-5, que institucionalizou a tortura e o assassinato sistemático de militantes políticos. Segundo o livro “Direito à Memória e à Verdade”, 475 militantes políticos morreram sob tortura ou tiveram suas mortes simuladas, e muitos outros continuam desaparecidos até hoje.
Embora a ditadura tenha terminado em 1985, os setores reacionários que a sustentaram continuaram ativos e chegaram novamente ao poder em 2018, com Jair Bolsonaro. Em 2023, uma nova tentativa de golpe foi frustrada pela mobilização da sociedade civil e movimentos populares.
O teatro, em sua essência, oferece um espaço para reflexão sobre a sociedade e suas relações. “Tudo em volta está deserto” destaca a importância de discutir e relembrar a ditadura militar no Brasil, sob a perspectiva de jovens que enfrentaram o exílio por lutarem contra o sistema repressivo. Durante aquele período, estudantes de todo o Brasil organizaram a resistência política, combatendo nas ruas o retrocesso imposto pelo golpe.
A obra pretende renovar o compromisso com os valores democráticos e a memória coletiva, ajudando as novas gerações a compreender os eventos que marcaram o país e a importância de resistir à opressão. Ela serve como um lembrete de que todos têm a responsabilidade de defender e fortalecer as instituições democráticas, garantindo que os horrores do passado nunca se repitam.
O espetáculo estará em cartaz às sextas e sábados, às 20h30, e aos domingos, às 18h, até o dia 1º de setembro.
A dramaturgia e a encenação
Inspirada em eventos de 1971, a peça narra a história de um grupo guerrilheiro que assassina um empresário financiador da ditadura em resposta à prisão, tortura e massacre de subversivos pelo sistema. Combinando drama e narratividade, a obra explora as consequências desse ato para os membros do grupo e a atmosfera repressiva dos ‘anos de chumbo’.
Criada por Vitor Julian com a colaboração do diretor Christian Landi e dos 14 artistas do elenco, a dramaturgia aborda temas como resistência armada, censura e exílio, refletindo sobre como um estado autoritário suprime vidas e culturas. Embora baseada em eventos reais, a peça permanece no terreno da ficção, utilizando referências que capturam o espírito da época.
A encenação busca uma conexão profunda entre o público e o tema, através de uma atmosfera emocional conduzida pelo jogo de cena dos atores. A dramaturgia é composta por quadros independentes que mostram diferentes facetas do exílio em 1971, com unidade na mise-en-scène proposta pela direção.
Iluminação, trilha sonora, cenário e figurino colaboram para potencializar o fluxo narrativo e a tensão dramática. A trilha sonora mescla músicas emblemáticas da época com sons de sirene, tiros e manifestações populares. O cenário utiliza poucos objetos cênicos essenciais, enquanto o figurino destaca características dos personagens. A iluminação dialoga com a repressão dos anos de chumbo e a vibração da juventude à frente do movimento contracultural.
Sobre o diretor
Christian Landi é ator e diretor, bacharel em Interpretação Teatral pela UNIRIO. Integrou a equipe de professores da SP Escola de Teatro, vencedora do Prêmio Shell São Paulo 2017, na categoria especial, pela inovação e excelência no ensino das Artes Cênicas. No audiovisual, participou das séries “Cidade de Deus” como Aranha, da segunda temporada de “Manhãs de Setembro” como Pablo, e “Todxs Nós” como Ivan. Atuou no longa-metragem “Enterre seus Mortos” como Assunção. No teatro, idealizou, atuou e co-escreveu o espetáculo “Tubarões”, com direção de Michel Blois. Também atuou em “Realismo”, de Anthony Neilson, “Não Existem Níveis Seguros para o Consumo destas Substâncias” e “Tudo É Permitido”, ambas de Daniela Pereira de Carvalho e com direção de Tato Consorti, além de “Rock’n’Roll”, de Tom Stoppard, com direção de Felipe Vidal.
Sobre o dramaturgo
Vitor Julian é ator e dramaturgo paulistano. Recentemente, atuou no espetáculo “Delírio Macbeth”, adaptação da tragédia “Macbeth” de William Shakespeare, dirigida por Eric Lenate. Participou também dos espetáculos “A Resistível Ascensão de Arturo Ui”, dirigido por Kleber Montanheiro; “Oceano”, do Grupo XPTO, dirigido por Oswaldo Gabrielli; “Galileu”, dirigido por René Piazentin; e “O Sismo”, dirigido por Eric Lenate. Estreou no cinema com o longa-metragem “7 Prisioneiros”, de Alexandre Moratto (Netflix/2021), pelo qual foi indicado ao 27º Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro na categoria “Revelação Masculina”. Como dramaturgo, teve seu texto “A História do Gato” encenado pelo grupo Os Satyros em 2022.
Sinopse
“Tudo em volta está deserto” inspira-se em eventos ocorridos no ano de 1971 para contar a história de um grupo guerrilheiro que assassina um empresário financiador da ditadura em resposta à prisão, tortura e massacre daqueles que foram considerados subversivos pelo sistema. Revezando drama e narratividade, a peça aborda os antecedentes e as consequências do ato para as pessoas do grupo. Essa “história principal” é atravessada por outras personagens e situações vividas na cidade de São Paulo, que permitem explorar a atmosfera repressiva dos ‘anos de chumbo’ com maior amplitude. Mesmo tendo muitas correspondências com o real, a peça se mantém no terreno ficcional. Não pretende ser documentária, mas busca capturar aquele tempo e provocar interesse por um período recente e tão importante para a história do Brasil.
Ficha Técnica
Dramaturgia: Vitor Julian
Direção: Christian Landi
Elenco: Ana Malta, Camilla Flores, Caroline Andrade, Deni Marquez, Fernanda Heitzmann, Gabriel Gonzalez, Gabriela Coniutti, Giovana Leonel, Igor Montovani, João Filho, Laura Hanek, May Oliveira, Tom Freire E Vinicius Patricio
Cenário, Figurino E Visagismo: Gabriela Moreira
Iluminação: Felipe Mendes
Trilha Sonora E Sonoplastia: Juh Navarro
Provocação De Interpretação/Vocal: Camilla Flores
Assessoria De Imprensa: Diego Ribeiro
Programação Visual E Fotos De Cena: Ítalo Iago
Técnico De Palco: Pedro Máximo
Produção Executiva: Christian Landi E Fernanda Heitzmann
Idealização: Christian Landi
Tudo em volta está deserto
SP Escola de Teatro – Unidade Roosevelt
Praça Franklin Roosevelt, 210, Consolação, São Paulo
Capacidade: 40 lugares
Até 1º de setembro de 2024
Sextas e sábados, às 20h30
Domingos, às 18h
Ingressos: R$40,00 inteira / R$20,00 meia
Vendas somente pela internet via Sympla SP Escola de Teatro –
https://acesse.one/tudoestadeserto
Duração: 110 minutos
Classificação: 16 anos
@tudoestadeserto
Foto: Divulgação
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