Com direção geral de Bia Szvat e dramaturgia de Leo Lama, espetáculo, que tem como ponto de partida o livro O Adversário, do autor francês Emmanuel Carrère, inaugura a programação teatral da Casa Slamb, novo espaço cultural do bairro de Pinheiros…

 

 

 

 

 

 

No solo Dentro do Adversário, que estreia no próximo dia 2 de novembro, sábado, às 20h30, na Casa Slamb, o ator Alex Slama traz ao centro do palco reflexões sobre a moralidade e a loucura na sociedade contemporânea a partir da obra O Adversário, do autor francês Emmanuel Carrère. A montagem, com dramaturgia de Leo Lama, e direção geral de Bia Szvat, que assina a encenação ao lado de Herbert Richers Jr, joga luz sobre o narcisismo exacerbado, que pode levar à loucura, ao descontrole ou ao crime.

O espetáculo estreia a programação teatral da Casa Slamb, novo espaço cultural do bairro de Pinheiros, inaugurado em abril de 2024. Criado pelos irmãos Artur e Alex Slama, o local oferece práticas integrativas que transitam na união entre arte, cultura, educação e entretenimento, contemplando diversas vertentes dos processos criativos e artísticos, para todas as idades.

Em Dentro do Adversário Jean-Claude Romain vive uma farsa por duas décadas. Todos acreditam que ele é um respeitado médico da Organização Mundial de Saúde, enquanto sua vida é uma construção de mentiras para atender às expectativas de sua família e sociedade. Quando prestes a ser desmascarado, sua pressão psicológica o leva a atos extremos, questionando o que é ser “normal” em um mundo que oprime. O falso médico então assassina seus pais, filhos, esposa e cachorro, novamente para que não se decepcionem com papeis que ele não conseguia mais suportar.

No livro O Adversário, Emmanuel Carrère revela a insólita – e assustadoramente real – história de Jean-Claude, que tenta o suicídio, mas é salvo pelos bombeiros. Intrigado por esse crime brutal, Carrère passou a se corresponder com Jean-Claude (preso desde 1993) antes, durante e depois do seu julgamento.

Para a diretora Bia Szvat a história, que se passa na França, ganha em sua encenação um caráter universal. “Estamos vivendo um estado de normose, onde uma falsa moralidade avança nas urnas e nas igrejas, mas com explosões de casos da banalização do mal”, pontua. Ela também explica, que o solo dá continuidade à sua pesquisa denominada Teatro dos Abismos iniciada na Cia Pau D’Arco de Teatro. “Exploro temas de profundidade emocional e existencial, frequentemente abordando questões de identidade, isolamento e as complexidades da condição humana, com uma linha de atuação onde o ator e o público devem vivenciar camadas sutis de estados humanos”.

 

Monólogo dialogal
Dentro do Adversário exige de Alex Slama uma partitura corporal intensa com marcas específicas, texturas diferentes e até uma dança. O solo é acompanhando por uma percussão ao vivo a cargo do músico Henry Sauer. “Trabalhar com a Bia é precisão, é quase um balé com a expressão corporal muito presente. Já o Herbert Richers Jr incorpora muito voz e intenção, ou seja, é um casamento perfeito. Depois entra o texto do Leo Lama, que é um sonho, mas um baita desafio porque é um monólogo dialogal. Estou em cena em uma conversa direta com outro personagem, que não está presente”, explica o ator.

Alex Slama também acredita que a motivação em aceitar o papel de Jean-Claude foi a oportunidade de tirar todas as máscaras e trazer um personagem à tona que está nu. “Ele acaba ficando nu e se revela como o diabo, como um psicopata, como um homem que amava demais ou simplesmente como um homem que não se realizou”, acredita ele.

Nesse sentido, Bia Szvat crê que o mundo vive uma crise, na qual por um lado existem imensas possibilidades de rupturas de velhos padrões sociais, com questionamentos sobre temáticas como o racismo, etarismo ou a inclusão da diversidade, mas por outro um conservadorismo moral que cobra, cada vez mais, aparências e encaixes em padrões de sucesso. “Nosso personagem é o cara que não conseguiu lidar com a frustração de não atender às expectativas da sociedade e dos pais, e por isso começa a mentir. E para encobrir uma mentira foi construindo outras mentiras e mais outras, criando uma vida fake, onde era respeitado porque todos aprovavam essas mentiras, sem se preocuparem com a verdade”, afirma a diretora.

Já para o dramaturgo Leo Lama quando as questões fundamentais são substituídas por preocupações de status social, ascendência financeira, sucesso, fama, prestígio mundano, a sociedade se isola do que realmente é. “Dentro do Adversário é um alerta para o quanto tais fugas, tais desvios, nos levam à tragédia, ao prejuízo da vida e do amor. Espero que a montagem, junto com o texto, provoque no espectador reflexões formais, ou seja, que se possa enxergar as incontáveis maneiras de lidar com as situações. Estamos contando uma história de muitas camadas, em que um homem, a partir de uma mentira que jurava não ter consequências, se tornou uma criatura descontrolada, perigosa, assassina. É preciso que a plateia viva a experiência desse homem, que está dentro de cada um de nós”.

 

Camadas de verdade
Dentro do Adversário busca gerar uma experiência que provoque a consciência crítica sobre os limites da aparência e a essência do ser humano. Para isso, a direção de arte criou um ambiente que destaca as camadas da verdade que permeiam a narrativa. A cenografia de Cesar Rezende (Basquiat), apresenta uma circunferência de casinhas em referência a armadilhas usadas em rituais para prender o diabo, além de criar uma ideia de cidade-sociedade que amarra as pessoas em verdades morais.

O desenho de luz de Cesar Pivetti trabalha com a questão dos recortes em detalhes e o figurino de Ùga agÚ aponta para a dualidade entre o bem e o mal. A direção musical é de Fabio Cintra, pesquisador sobre a musicalidade como arcabouço do ator.

O espetáculo marca o início de uma colaboração entre a Cia Pau D´Arco de Teatro e a Casa Slamb, com a próxima estreia agendada para junho de 2025.

 

Sinopse
Jean-Claude Romain vive uma farsa por duas décadas. Todos acreditam que ele é um respeitado médico da Organização Mundial de Saúde, enquanto sua vida é uma construção de mentiras para atender às expectativas de sua família e sociedade. Quando prestes a ser desmascarado, sua pressão psicológica o leva a atos extremos, questionando o que é ser “normal” em um mundo que oprime. O falso médico então assassina seus pais, filhos, esposa e cachorro, novamente para que não se decepcionem com papeis que ele não conseguia mais suportar.

Ficha técnica
Direção Geral – Bia Szvat. Encenação – Bia Szvat e Herbert Richers Jr. Dramaturgia –Leo lama. Ator-Compositor – Alex Slama. Direção Musical – Fabio Cintra. Percussão – Henry Sauer. Figurino – Ùga agÚ. Desenho de Luz – Cesar Pivetti. Cenografia – Cesar Rezende (Basquiat). Provocadores – Otacilio Alacran e Antonio Corrêa. Operadora de Luz – Vitória Oliveira. Arte – Artur Slama. Ideia Original – Bia Szvat e Alex Slama. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Produção – Tate Costa. Realização – Cia Pau D´Arco de Teatro e Casa Slamb.

 

 

 

 

 

Dentro do Adversário
Casa Slamb
Rua Mateus Grou, 106 – Pinheiros, São Paulo (metrô Fradique Coutinho – linha amarela).
De 2 de novembro a 16 de dezembro
Sábado e segunda-feira, às 20h30
Domingo, às 18h30 (dia 11 de novembro, segunda-feira, não haverá apresentação).
Duração: 70 minutos
Classificação: 16 anos
Valor: R$ 70,00 e R$ 35,00 (meia-entrada)
Vendas: Sympla 

 

Foto: Caio Camillo