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Com dramaturgia premiada espetáculo Levante estreia em Santo André

Montagem traz à cena a história de amor e resistência de dois casais de mulheres brasileiras em diferentes tempos e a luta do movimento lésbico-feminista do Brasil. Texto de Andrezza Czech tem direção e cenário de Eliana Monteiro, do Teatro da Vertigem…

 

 

 

 

Vencedor da 8ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo, o espetáculo Levante, texto de Andrezza Czech, surgiu a partir do Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André. Após dois anos da estreia, a montagem finalmente chega em Santo André com apresentações gratuitas dias 9 e 10 de outubro, quarta-feira às 20h e quinta-feira às 18h e 20h, no Teatro Conchita de Moraes.

A sessão das 18h do dia 10 de outubro, quinta-feira, é acessível em libras e audiodescrição e contará com bate-papo do elenco com o público após a apresentação. No dia 2 de outubro, a dramaturga e atriz Andrezza Czech ministra uma oficina sobre dramaturgia na Escola Livre de Teatro de Santo André.

No ano em que se completa 60 anos do golpe militar no Brasil, Levante – direção e cenografia de Eliana Monteiro (vencedora do Prêmio Shell de Teatro de melhor cenografia pelo espetáculo Agropeça, do Teatro da Vertigem) –, mostra a história de amor e resistência de dois casais de mulheres brasileiras em diferentes tempos. Enquanto duas vivem os principais atos do movimento lésbica-feminista nos anos 1980, durante a ditadura civil militar, as outras passam por situações semelhantes nos tempos atuais.

Levante também traz a recuperação histórica de mulheres lésbicas artistas e ativistas do período da ditadura, como Cassandra Rios e Rosely Roth. Cassandra foi a escritora mais censurada durante a ditadura civil militar (36 dos seus 50 livros foram censurados), e ainda assim foi a primeira escritora brasileira a vender mais de um milhão de cópias de livros, superando na época escritores como Jorge Amado e Clarice Lispector. Já Rosely Roth foi uma das mais importantes ativistas lésbicas do período, sendo destaque no Levante no Ferro’s Bar quando subiu em uma cadeira no dia da invasão do bar e discursou contra o preconceito e a violência.

Além de ser a autora de Levante, Andrezza Czech também é a idealizadora da montagem e está em cena ao lado das atrizes Jéssica Barbosa (indicada ao prêmio Shell de Teatro 2023 como melhor atriz por Em Busca de Judith), Julianna Gerais e Sol Faganello. A peça possui uma equipe artística inteiramente formada por lésbicas, bissexuais, pansexuais, transmasculines e pessoas não-binárias.

 

Luta urgente
Para Andrezza Czech, a volta do espetáculo aos palcos em 2024 quando completaram-se 60 anos do golpe civil militar brasileiro, recupera a memória de mulheres que resistiram e lideraram protestos como o Levante no Ferro’s Bar, ocorrido em 19 de agosto de 1983, data que posteriormente deu origem ao Dia do Orgulho Lésbico. O levante no Ferro’s Bar, um dos principais marcos da história do movimento lésbica-feminista é um dos eventos centrais abordados na peça.

Andrezza também enfatiza a importância do espetáculo se apresentar em Santo André, já que foi no Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André, que o texto nasceu. “Inicialmente, o texto tinha o objetivo de recuperar momentos e eventos marcantes do movimento lésbica-feminista do período da ditadura militar brasileira, mas fui ampliando a história para a contemporaneidade, trazendo características como o tempo espiralar e o espelhamento para a narrativa como forma de denunciar o quanto a luta pela nossa existência e nossos direitos ainda é urgente”, destaca ela.

“Levante trata também de histórias de amor. Essas personagens espelhadas e suas falas simultâneas apontam para uma narrativa de carinho e presença”, explica a diretora Eliana Monteiro.

O espetáculo, que integrou recentemente a programação do Festa 66 – Festival Santista de Teatro, na cidade de Santos, também faz apresentações em Ribeirão Preto e Jundiaí. A temporada itinerante acontece com apoio do Edital Lei Paulo Gustavo SP – Difusão Cultural.

 

O Levante no Ferro’s Bar
O Ferro’s era o principal local onde as lésbicas se encontravam entre os anos 60 e 80 em São Paulo. Foi lá que, em 23 de julho de 1983, quando Rosely Roth e outras ativistas vendiam o ChanacomChana (primeiro folhetim lésbico do país), os donos do bar proibiram com violência a venda do jornal. Em 19 de agosto do mesmo ano, as mulheres do GALF (Grupo de Ação Lésbica Feminista) organizaram o que hoje é conhecido como o Levante no Ferro’s Bar, manifestação que foi um marco na luta do movimento LGBTQIAPN+ por seus direitos, considerada o “pequeno Stonewall brasileiro”.

Rosely, assim como outras ativistas, inspiraram a criação das mulheres de Levante. O espetáculo surgiu com o objetivo de relembrar principais atos do movimento lésbica-feminista durante a ditadura militar brasileira a partir do encontro entre duas mulheres: um amor que começa na primeira manifestação LGBTQIAPN+ do Brasil (realizada em frente ao Theatro Municipal de São Paulo em 13 de junho de 1980), resiste à Operação Sapatão (ocorrida em 15 de novembro de 1980, quando a Polícia Militar foi às ruas de São Paulo com o objetivo de prender o maior número possível de lésbicas), e se fortalece na luta do levante no Ferro’s Bar.

Sinopse
Dois casais de mulheres em diferentes tempos, tentando ocupar os mesmos espaços. Enquanto umas passam pelos principais atos do movimento lésbica-feminista durante a ditadura militar brasileira, outras se recusam a sucumbir à violência dos tempos atuais. Da Operação Sapatão e o Levante no Ferro’s Bar nos anos 1980 a um episódio de lesbofobia ocorrido em 2018, LEVANTE traz o amor e a luta de mulheres lésbicas que existem, resistem e insistem em rir onde esperam suas lágrimas.

Ficha Técnica
Direção e Cenografia – Eliana Monteiro. Idealização, Coordenação Geral e Dramaturgia – Andrezza Czech. Elenco – Andrezza Czech, Jéssica Barbosa, Julianna Gerais e Sol Faganello. Músico em Cena/ Trilha Sonora – Riba Canhestro. Direção Técnica e Assistência de Direção – Lu Maya. Desenho de Luz – Aline Santini. Figurino – Lívia Barros (Ken-gá Bitchwear). Mapping e Vídeo – GIVVA e Morim Lobato. Operação de Luz – GIVVA. Operação de Video Mapping – Morim Lobato. Operação de Som – May Manão. Fotografia, Captação de Vídeo e Identidade Visual – Laís Catalano Aranha. Consultoria em Acessibilidade – Vanessa Bruna. Audiodescrição – Bruna Tonso. Redes Sociais – Andrezza Czech. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Produção – Corpo Rastreado (Nathalia Morais e Keila Maschio).

 

 

Oficina de dramaturgia
No dia 2 de outubro, quarta-feira, das 19h às 22h, na Escola Livre de Teatro de Santo André, acontece a oficina Dramaturgia das Dissidências: Criação de uma escrita desviante a partir de autores LGBTs brasileiros contemporâneos em parceria com o Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro, coordenado pelo dramaturgo e roteirista Daniel Veiga. A atividade gratuita ministrada por Andrezza Czech receberá até 20 pessoas selecionadas a partir de formulário com currículo e carta de intenção (será priorizada a seleção de pessoas que se autodeclarem negras, indígenas, amarelas, LGBTQIAPN+ e PcDs). Destinada a amadores, estudantes e artistas da cena (teatro e performance), escritores, jornalistas e outros interessados na escrita dramatúrgica voltada para o tema, a oficina terá duração de três horas, sendo dividida em três momentos: referências/teoria, prática e compartilhamento de criação.

 

 

 

 

 

Apresentação

Levante
Teatro Conchita de Moraes
Praça Rui Barbosa, 12 – Santa Terezinha, Santo André – SP.
Quarta-feira, 9 de outubro, às 20h
Quinta-feira, 10 de outubro, às 18h e 20h (a sessão das 18h é acessível em libras e audiodescrição e contará com bate-papo após a apresentação).
Duração: 50 minutos
Classificação: 14 anos
Gratuito (ingressos distribuídos uma hora antes de cada sessão na bilheteria do teatro).

 

Oficina

Dramaturgias das Dissidências:
Criação de uma escrita desviante a partir de autores LGBTs brasileiros contemporâneos
Escola Livre de Teatro de Santo André
Praça Rui Barbosa, 12 – Santa Terezinha, Santo André – SP.
2 de outubro, quarta-feira, das 19h às 22h.
Duração: 180 minutos
Classificação: 16 anos
Gratuito

 

Sobre Eliana Monteiro
Mestre em Artes Cênicas pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA – USP), formada em Artes Cênicas pela Universidade São Judas, em interpretação pela Escola Superior de Teatro Célia Helena, e em direção pela Escola Livre de Santo André. Vencedora do Shell 2024 de melhor cenário por Agropeça, do Teatro da Vertigem. É encenadora e orientadora artístico-pedagógica de escolas e grupos de teatro e integra o grupo Teatro da Vertigem desde 1998, tendo sido responsável pela direção da intervenção urbana A Última Palavra é a Penúltima 2.0 (2008 e 2014), por ocasião da 31ª Bienal de São Paulo, e dos espetáculos Mauísmo, Kastelo e O Filho. Codirigiu o espetáculo Bom Retiro 958 Metros; participou como diretora de cena e assistente de direção dos espetáculos O Paraíso Perdido, O Livro de Jó, Apocalipse 1,11, BR-3, História de Amor – Últimos capítulos, Dire ce qu’on ne pense pas dans des langues qu’on ne parle pas; e nas óperas Dido e Enéas e Orfeo ed Euridice. Foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro 2006 na categoria especial pela direção de cena e logística de apoio à cena do espetáculo BR-3. Em 2017, dirigiu a peça Enquanto Ela Dormia em temporada no SESI Paulista, tendo circulado em centros culturais em São Paulo. Foi curadora das atividades pedagógicas da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo em 2018/2019, e do FIT – Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto em 2019.

 

Sobre Andrezza Czech
Idealizadora, dramaturga e atriz de Levante é também é roteirista, diretora e jornalista, formada pela Faculdade Cásper Líbero, ELT, SP Escola de Teatro, Roteiraria e Academia Internacional de Cinema. Tem produção artística voltada para o universo LGBTQIAPN+, com enfoque em narrativas sáficas, e estudou dramaturgia com Dione Carlos (Prêmio Shell de Teatro de Melhor Dramaturgia 2023) e Marici Salomão. No teatro, teve leitura encenada de seu texto cabra-cega dirigida por Aysha Nascimento no Núcleo de Dramaturgia do SESI-SP (2019). Atuou em Fissura (2019), direção de Maria Amélia Farah (Cia Hiato), e Interruptor – dispositivos para desligar a corrente (2024), peça do Grupo XIX de Teatro dirigida por Ronaldo Serruya. No audiovisual, é roteirista, codiretora e protagonista da websérie LBT+ Os Signos das Minhas Ex (2023, melhor série de comédia, melhor atriz de comédia e melhor pitching pelo RioWebFest), e atuou nos curtas Casa (2020 prêmio do público na Mostra Cinemulti), Fora de Época (2020, menção honrosa no Festival de Cinema de Vitória), e 62 segundos (2020, vencedor do DepicT Brasil); além do videoclipe Salomé (2021, vencedor do California Music Video & Film Awards). Também roteiriza e atua em Amígdalas, curta com Gilda Nomacce com previsão de lançamento para o segundo semestre. Seu projeto Manual da (não tão) Nova L foi finalista do concurso de Roteiros na categoria Piloto de Série do FRAPA em 2022, maior festival de roteiro da América Latina, recebendo menção honrosa do júri, e semi-finalista do Guiões 2024, maior festival de roteiro de língua portuguesa do mundo.

 

Foto: Laís Catalano Aranha

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