Enquanto Chão reestreia na sede d’A Próxima Companhia

O que duas comunidades distantes (uma em Palmas, Tocantins, e outra em Uberlândia, Minas Gerais) podem ter em comum? O ator Caio Franzolin encontrou esse ponto em um pesquisa de campo realizada em conjunto com Carminda Mendes André (que foi sua orientadora em projeto de pesquisa de campo no Instituto de Artes da UNESP) e leva essas histórias para o palco em Enquanto Chão, monólogo que estreiou no final do ano, no Sesc Ipiranga, reestreia na sede d’A Próxima Companhia, com apresentações entre 12 e 21 de janeiro…

 

 

 

Com direção de Rafaela Carneiro, a montagem d’A Próxima Companhia fala sobre as comunidades de Canela (TO) e Patrimônio (MG), aliando como expedientes teatrais a mímesis corpórea (técnica criada pelo Lume) e conceitos do Teatro-Documentário.

Ao estarem nas duas comunidades durante a pesquisa, Intervenção Urbana como Tática Arte-educativa: Encontro com Foliões, os integrantes do projeto puderam observar que, em comum, mais do as festas populares, personagens incríveis e generosos, as duas localidades passavam pelo apagamento cultural – seja físico ou histórico, de manifestações culturais e até mesmo de histórias pessoais, em prol do progresso, especulação imobiliária e avanço de uma sociedade sem apego com as raízes de um povo.

Foram diversas histórias e personagens encontrados que dialogam com o espetáculo no limite do real e do ficcional, num discurso dramatúrgico entre a denúncia, a reflexão e o signo poético, com dramaturgia de Solange Dias. O texto apresenta transcriações de relatos de habitantes das comunidades, do modo de vida dessas pessoas e busca entender o processo de apagamento desses territórios.

A narrativa segue a mesma linha de uma memória, como explica Caio Franzolin. “Não temos uma narrativa linear. É como se o narrador fosse lembrando das conversas, das pessoas, dos detalhes das histórias e isso fosse sendo apresentado em cena da mesma maneira, em uma narrativa fragmentada povoada pelas figuras em uma grande festa”, afirma o ator.

Quando Rafaela Carneiro entrou no processo de Enquanto Chão, já existia uma versão embrionária da montagem. “Sempre me interessei muito pela técnica da mímesis e por isso achei o projeto muito bacana. Como diretora, acabei fortalecendo o papel do narrador, que faz uma intermediação entre todas as personagens, bem como também o absurdo político da história. Busquei trazer os ricos relatos coletados em Canela e Patrimônio para um âmbito maior, mostrando que aquele não é um problema localizado”, explica.

Rafaela também disse que a intenção da equipe nunca foi ter uma peça contemplativa, numa relação mais frontal e formal com o público. A ideia é que as pessoas sintam-se participando de uma roda de conversa ou de uma festa – o que fica bem claro no cenário assinado por Caio Marinho. “Queríamos reproduzir uma roda de quintal, numa relação mais informal com a plateia e num espaço circular. Teremos distribuição de café e comidas inspiradas nas duas localidades, aproximando ainda mais o ator e o público”, conta o cenógrafo.

Caio Franzolin explica um pouco mais sobre essa relação com o público: “convidamos as pessoas para a arrumação de uma festa que ainda vai acontecer. É isso que vai nos concectar com as nossas raízes. O teatro só é possível pelo encontro. Quer encontro maior do que uma festa e toda a sua preparação?”, questiona.

Ficha Técnica
Concepção original: Caio Franzolin e Carminda Mendes André
Direção e Preparação de Ator: Rafaela Carneiro
Provocação Cênica: Carminda Mendes André
Direção Musical: Rani Guerra
Dramaturgia: Solange Dias
Texto: Caio Franzolin
Preparação Corporal: Gabriel Küster
Cenografia e Iluminação: Caio Marinho
Figurino: Caio Franzolin
Produção: Solange Borelli – Radar Cultural – Gestão e Projetos
Realização: A Próxima Companhia
Núcleo Artístico A Próxima Companhia: Caio Franzolin, Caio Marinho, Gabriel Kuster, Juliana Oliveira e Paula Praia

 

 

 

Enquanto Chão
Sede A Próxima Companhia
Rua Barão de Campinas, 529
Tel.: 3331-0653
Capacidade: 40 lugares
Duração: 70 minutos
Reestreia no dia 12 de janeiro
Apresentações até 21 de janeiro
Sextas-feiras, às 21h
Sábados e domingos, às 19h
Ingressos: Pague quanto puder
Recomendação etária Acima de 12 anos

 

Fotos: Michel Igielka

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