Depois da temporada de sucesso, em 2017, o espetáculo Sutil Violento, da Companhia de Teatro Heliópolis, reestreia no dia 5 de maio, na Casa de Teatro Maria José de Carvalho, no bairro Ipiranga…
Com texto de Evill Rebouças e encenação assinada por Miguel Rocha (diretor e fundador do grupo), a montagem trata da violência sutil – visível ou comodamente invisível – presente em nosso cotidiano.
A encenação de Sutil Violento – com elenco formado por Alex Mendes, Arthur Antonio, Dalma Régia, David Guimarães, Klaviany Costa e Walmir Bess – começa com um frenesi cotidiano, as pessoas correm. Não param. Mal se percebem. Desviam umas das outras, em alguns momentos se esbarram e, em átimos de atenção, reparam que exitem outros, tão próximos e tão parecidos (ou tão diferentes?). Ali, logo ali, há um corpo caído no chão. Será um homem ou um bicho? Apenas se cansou ou não respira mais? Queria comunicar algo, mas será que conseguiu? Um olhar mais atento ao entorno começa a revelar abusos, agressões, confrontos e opressões diárias: formas de coerção privadas ou públicas. Sutis violências do nosso tempo, tão sutis que se tornam invisíveis, naturalizadas.
O diretor Miguel Rocha explica que o espetáculo aborda o tema microviolência por meio de uma estrutura fragmentada, tanto na cena quanto no texto. “A dramaturgia é composta por um conjunto de elementos: ações físicas, movimentos, música ao vivo e texto”, diz. Na encenação não há personagens com trajetórias traçadas, mas figuras cujas relações com o contexto social estão em foco, a exemplo da mulher que é silenciada e do jovem que usa sapatos de salto diante de olhares atravessados. “As microviolências se revelam a partir dessas relações que se estabelecem entre essas pessoas e a sociedade”, argumenta.
A encenação tem trilha sonora de Meno Del Picchia, executada ao vivo (guitarra, violoncelo e percussão). A música também tem sua carga dramatúrgica em Sutil Violento e ajuda a estabelecer as tensões entre as figuras, muitas vezes a força do discurso está na musicalidade ou na própria canção interpretada. Outro ponto importante é o espaço cênico: a Companhia de Teatro Heliópolis optou pela instalação (de Marcelo Denny) ao invés da cenografia. Nada convencional, o cenário cedeu lugar a um ambiente todo em vermelho (piso, paredes e arquibancadas) que, ao primeiro contato, já propõe sensações diversas.
Miguel Rocha conclui que o espetáculo quer pontuar as microviolências do nosso tempo, do Brasil de hoje, quer mostrar que as pequenas ou sutis violências se potencializam mediante suas naturalizações. “Sutil Violento é muito mais provocação que denúncia. Cada um vai compreender o espetáculo pela perspectiva pessoal. Por isso acho importante trabalhar com símbolos em cena, que reverberam sempre de forma diferente para cada pessoa. O espectador vai se deparar com alguns deles em Sutil Violento. É importante fazê-lo pensar, e um artifício bom para isto é mesmo a provocação.”
“Acostumada a jogar a partir da noção da falta – premissa existencial de quem vive na periferia sul da cidade –, a companhia se fia na materialidade dos corpos que vibram e vagam. A atualização das formas de tortura não é sádica, mas tampouco alivia a face contundente dessa experiência que repercute desde a epiderme da alma do ser urbano até o coração em disparada nessa hora da nação.” (Valmir Santos)
Sutil Violento é resultado do projeto Microviolências e Suas Naturalizações, contemplado pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Uma série de atividades foi realizada, em 2016, durante o processo de pesquisa. Além de entrevistas com pessoas da comunidade de Heliópolis, o grupo promoveu encontros para discutir a “Naturalização da Violência” com importantes pensadores e ativistas: Leonardo Sakamoto, Marcia Tiburi, Zilda Iokoi e Bruno Paes Manso. Os debates, mediados por Maria Fernanda Vomero (também provocadora no processo), foram fundamentais para a construção do trabalho. O projeto teve ainda Alexandre Mate e Marcelo Denny como provocadores teatrais, Lúcia Kakazu na direção de movimento e Samara Costa na criação do figurino, entre outros.
Ficha técnica
Encenação: Miguel Rocha
Texto: Evill Rebouças (criação em processo colaborativo com a Cia de Teatro Heliópolis)
Elenco: Alex Mendes, Arthur Antonio, Dalma Régia, David Guimarães, Klaviany Costa e Walmir Bess.
Direção de movimento e preparação corporal: Lúcia Kakazu
Oficinas de dança: Nina Giovelli e Camila Bronizeski
Direção musical e preparação vocal: Meno Del Picchia
Oficinas de voz e canto: Olga Fernandez, Sofia Vila Boas e Lu Horta
Músicos: Giovani Bressanin (guitarra), Eduardo Florence (violoncelo) e Luciano Mendes de Jesus (percussão)
Sonoplastia: Giovani Bressanin
Provocação teórica e prática: Maria Fernanda Vomero
Provocação / teatro épico: Alexandre Mate
Provocação / teatro performático: Marcelo Denny
Mesas de debates: Marcia Tiburi, Leonardo Sakamoto, Bruno Paes Mando e Zilda Iokoi
Mediadora/debates: Maria Fernanda Vomero
Organização de textos do programa: Maria Fernanda Vomero
Cenografia/instalação: Marcelo Denny
Assistente de cenografia: Denise Fujimoto
Figurino: Samara Costa
Iluminação: Toninho Rodrigues e Miguel Rocha
Assistente de iluminação: Raphael Grem
Operação de luz: Gabriel Igor
Direção de produção: Dalma Régia
Designer gráfico: Camila Teixeira
Fotos: Geovanna Gellan
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Realização: Companhia de Teatro Heliópolis
Apoio: 31ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, AGC Vidros, Schioppa, Arno e Tonlight
Sutil Violento
Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, 1533 – Ipiranga
Tel: 2060-0318
Capacidade: 48 lugares
Duração: 90 minutos
Reestreia: Sábado, 5 de maio, às 20h
Temporada: Até 8 de julho (dias 26 e 27 de maio e 24 de junho não haverá apresentação)
Sábados, às 20h
Domingos, às 19 h
Ingressos: Pague quanto puder (bilheteria 1h antes das sessões)
Classificação: 14 anos
Não possui acessibilidade
Não possui estacionamento.
Fotos: André Murrer
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