Caixa de Fuxico estreia Cabeças Trocadas, da obra de Thomas Mann, na SP Escola de Teatro

O espetáculo Cabeças Trocadas – do grupo Caixa de Fuxico da Cooperativa Paulista de Teatro – estreia no dia 6 de julho na SP Escola de Teatro, onde cumpre temporada até o dia 6 de agosto…

 

 

 

 

Adaptada do romance do alemão Thomas Mann pela atriz Andrea Cavinato, a história aborda sentimentos humanos intensos e a forma como as atitudes podem expressar nossos desejos mais secretos. A direção é assinada por Rosana Pimenta.

No dia 15 de julho, após o espetáculo, haverá debate sobre teatro épico com Samir Signeu Porto Oliveira, coordenador e professor da Escola de Teatro Recriarte e doutor em Artes Cênicas pela USP. Já no dia 05 de agosto, atriz e diretora conversam com a plateia sobre o processo da montagem.

Esta é a primeira montagem do Caixa de Fuxico, atuante desde 1999, destinada ao público adulto. Fruto de um longo processo de experimentação, a partir da densa e complexa narrativa de Mann, a peça expõe questões ligadas ao patriarcado e ao feminino em uma trama carregada de metáforas e ironia.

O enredo se passa em uma aldeia na Índia. Dois amigos – bem diferentes tanto fisicamente como na condição social e na forma de pensar a vida – vivem uma estranha aventura com uma mulher, a bela Sita. Em um momento de desespero, Sita toma a decisão impensada, ajudada pela deusa Kali, de trocar a cabeça do marido com a do amigo. As consequências de suas escolhas são surpreendentes e acabam por custar a vida desse trio amoroso.

Andrea conta que leu o romance, 18 anos atrás, e sempre carregou consigo o desejo de encená-lo. “As Cabeças Trocadas me impressionou pela complexidade como Mann aborda a representação do feminino, a espiritualidade e o poder do inconsciente usando a metáfora; ele é extremamente irônico e mordaz, mas o faz de maneira ambígua”. Ela ainda afirma que, embora adaptado para a sala de teatro, seu texto mantém as características da história original.

Rosana Pimenta, que tem reconhecido trabalho de pesquisa sobre danças indianas, foi convidada, em um primeiro momento, para fazer a preparação corporal de Andrea, mas acabou assumindo a direção da atriz. Segundo ela, “a peça não aprofunda no conhecimento da cultura oriental, mas propõe questionar e refletir sobre a nossa própria cultura, flertando com os códigos do oriente, a partir da nossa perspectiva ocidental com suas amplitudes e amarras”. E Andrea Cavinato destaca como importante aspecto reflexivo da obra o fato da deusa Kali conduzir a realização dos desejos de Sita, subvertendo as regras patriarcais, onde a mulher é propriedade do pai ou do marido não tendo direito a escolhas ou desejos.

O espetáculo Cabeças Trocadas tem sua estética no teatro épico. A encenação usa o recurso da narrativa, do ritual – somado ao teatro de sombras e à música ao vivo – para compor esse enredo filosófico e discutir as relações entre físico e espiritual, desejo e tabu, sagrado e profano. Andrea Cavinato, que está em cena junto com a musicista Estela Carvalho, conduz a história e interpreta todos os personagens.

A música executada ao vivo é propícia aos climas da narrativa, tanto no âmbito mítico dos mantras como no universo pop que já se instala Índia. Estela toca violão, flauta, escaleta, acordeon e percussão, criando uma paisagem sonora paralela, mas que também compõe a cena junto com gestos, imagens e palavras. E o teatro de sombras propõe um jogo metafórico sobre a vida, fazendo a ponte com o universo dos sonhos e da imaginação.

A atriz explica que o processo foi desenvolvido na sala de ensaio, da adaptação à encenação. “Cabeças Trocadas é um teatro de pesquisa do gesto e do movimento corporal para comunicar imagens por meio do experimento nomeado ‘a carne aberta’, no qual o ator cria um corpo que ‘vibra’ para alcançar a integração com o espírito e dar intenção às palavras”. A dança indiana Barathanatyan foi objeto de treinamentos da diretora com a atriz, explorando o viés narrativo desse estilo, caracterizado pela codificação de gestos. Inserido no jogo da encenação, o expectador se posiciona em círculo e desfruta metaforicamente do “sorteio” dos lances da vida. Como um ritual, a encenação leva o público a conhecer segredos sobre a existência humana.

Ficha Técnica
Texto e concepção: Andrea Cavinato – adaptação de As Cabeças Trocadas, de Thomas Mann
Direção: Rosana Pimenta
Interpretação: Andrea Cavinato
Música ao vivo: Estela Carvalho
Direção de arte: Juliana Bertolini
Pesquisa musical: Helena Rosenthal, Juliana Bertolini e Estela Carvalho
Orientação sobre teatro de sombras: Andi Rubinstein
Iluminação: Zhé Gomes
Apoio em produção: Dani Caielli
Fotos: Priscila Reis e Lineu Ko
Costureira: Benê Calistro
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Produção: Carlito Tostes

 

 

 

 

Cabeças Trocadas
SP Escola de Teatro
Sala R1
Praça Franklin Roosevelt, 210 – Consolação
Tel.: 3775-8600
Capacidade: 60 lugares
Duração: 75 minutos
Estreia: Sexta-feira, 6 de julho, às 21h
Temporada: 06 de julho a 06 de agosto
Sextas, sábados e segundas, às 21h
Domingos, às 19h
Ingressos:
R$ 30,00
R$ 15,00 (meia entrada)
Classificação: 16 anos
Bilheteria: 1h antes das sessões
Aceita cartão de débito e dinheiro.

Bate-papo após sessão
15 de julho – Samir Signeu Porto Oliveira: Teatro Épico
05 de agosto – Rosana Pimenta e Andrea Cavinato: Processo criativo
Acesso universal
Ar condicionado

 

 

Thomas Mann (1875 – 1955) foi escritor, romancista, ensaísta, contista e crítico social do Império Alemão. O conto original, no qual se inspirou faz parte dos antigos Vedas, a mais antiga literatura indo-europeia, que são textos escritos em sânscrito, contendo mantras, ensinamentos da antiga Índia e louvor a vários deuses. Ele aparece em Contos do Vampiro: histórias de tradição oral traduzidas do original de Somadeva – estudioso das religiões que viveu no século XI. O conto foi adaptado e romanceado por Mann e publicado como As Cabeças Trocadas, sendo apresentado como uma narrativa erótica, em que o autor constrói um tratado sobre o espiritual e a matéria na busca pela verdade da existência humana. A história, do ponto de vista do narrador europeu, relata como vivia uma mulher na antiga Índia, os costumes, os deuses e rituais. Uma cultura tradicional que preserva segredos, cuja divisão de castas e religião ainda choca e incomoda o Ocidente.

A história parte de Shridaman (brâmane culto e espiritualizado) e Nanda (belo e rude trabalhador da terra), dois jovens amigos inseparáveis. Ambos se apaixonam por Sita, após vê-la tomando o banho de purificação. Nanda, vendo o sofrimento do amigo, ajuda-o a desposar Sita mesmo amando-a. Ela engravida e os três viajam em uma carroça para levá-la até seus pais. Shridamam percebe um olhar de desejo de sua esposa para o amigo e resolve parar no santuário da tenebrosa mãe Kali, onde decepa a própria cabeça para libertar a mulher e o amigo. Nanda vai procurá-lo e percebe que ele está morto; sente-se culpado e resolve seguir seu amigo no suicídio. Sita entra no templo, encontra os dois mortos e decide se enforcar ao perceber sua culpa. A deusa Kali aparece e a impede de cometer o ato, além de lhe dar a chance de tê-los de volta. É quando Sita decide trocar-lhes as cabeças e, a partir daí, terá que viver com as consequências de sua escolha.

 

Andrea Cavinato (adaptação/interpretação) – Atriz, contadora de histórias, pesquisadora e professora de teatro, Andrea é fundadora do grupo Caixa de Fuxico da Cooperativa Paulista de Teatro com o qual atua, desde 1999, sendo indicada ao prêmio FEMSA de atriz coadjuvante por A Menina, o Príncipe e a Noite. Em 2016, com o Núcleo Macabéa, atuou no espetáculo Epístola.40 Carta (Des)Armada aos Atiradores, com direção de Edgar Castro e dramaturgia de Rudinei Borges. Também integrou os grupos Teatro Ventoforte e Os Satyros, além de desenvolver formação-poética imaginativa para a Trupe Sinhá Zózima e o Núcleo Macabéa. É autora de artigos, capítulos e materiais didáticos publicados em revistas, cadernos e livros. Em sua formação estão presentes nomes como Ilo Krugli, Eugenio Barba, Hassane Koyaté, Regina Machado, Jesser de Souza (Lume), Cristiane Paoli Quito, Tica Lemos, Augusto Omolú, Roberto Bacci, Cacá Carvalho, Tião Carvalho, Isadora Prates Dias e outros. É Doutora em Educação pela USP com a tese Processos de Criação: Teatro e Imaginário (publicada em livro pela Editora CRV). Fez doutorado sanduíche com Bolsa da CAPES para frequentar a universidade italiana Bicocca, em Milão, e participar de atividades do grupo Odin Theatret, dirigido por Eugenio Barba, em Milão e Hostelbro, na Dinamarca. É professora convidada no curso de Especialização em Linguagens da Arte: Teoria e Prática da USP.

 

Rosana Pimenta (direção) – Atriz, arte-educadora, dançarina e pesquisadora da cultura popular brasileira. Iniciou no teatro com o grupo Ventoforte, dirigido por Ilo Krugli, processo que legitimou a congruência entre arte e educação. Integrou o Grupo Caldeirão, da Cooperativa Paulista de Teatro, de 2008 a 2011, onde atuou como atriz, produtora e preparadora corporal. Desde 2006, pratica as danças clássicas indianas que estruturam seu trabalho com dança-teatro. Em Chennai, Índia, aprimorou-se em bharatanatyam com a professora Maya Vinaya, da Escola Triveni de Danças Clássicas Indianas. Atualmente, dedica-se à arte-educação, trabalha na formação do Bendita Água de Pesquisa Cênica, coletivo de artistas que pretende a partir do estudos da tradições resignificar matérias primas de matrizes populares procurando, investigando e experimentando novas possibilidades nesse fazer, gerando processos criativos que sejam capazes de alimentar a busca pela brasilidade e sua ponte com a universalidade, que foi duas vezes contemplado com o VAI. É graduanda em Arte-Teatro no Instituto de Artes da UNESP.

 

Estela Carvalho (música) – É musicista, educadora musical e artista têxtil. Licenciada em Música pela Unesp, atuou como arte-educadora, educadora musical e regente coral em escolas, projetos sociais e centros de cultura. Participou de diversos grupos musicais e teatrais como cantora, compositora e instrumentista. Atualmente integra o núcleo de contadores de histórias do Coletivo Agbalá, o grupo Caixa de Fuxico e o núcleo de criação cênica Desabafo Coletivo, além de desenvolver projetos em arte têxtil (bordado).

 

Juliana Bertolini (direção de arte) – É designer, musicista e professora. Estudou violão erudito na Universidade Livre de Música (atual CLEM Tom Jobim) e canto com Carmina Juarez. Participou de diversos grupos musicais como instrumentista e cantora, é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Trabalha com direção de arte para teatro e design de moda, é professora do curso de Desenho Industrial da Universidade Mackenzie.

 

O Grupo – O Caixa de Fuxico da Cooperativa Paulista de Teatro, fundado em 1999, reúne profissionais – sejam eles integrantes ou colaboradores – que têm em comum o interesse pelo ensino de arte e do teatro para crianças e jovens, bem como pela pesquisa da cultura brasileira em suas manifestações musicais dramáticas, folguedos e festas populares. A linguagem teatral do grupo mescla elementos da narrativa, do imaginário, do teatro de animação e da estrutura das festas da cultura popular. A música é realizada ao vivo, aliada ao texto, para criar imagens pelo teatro e pela palavra. Em clima de espetáculo folclórico vem contando histórias através do teatro e da narrativa e está sempre em busca de novos contos que possuam temas universais. A Caixa de Fuxico realizou temporadas em diferentes teatros e espaços como no Teatro Ventoforte (2004), Sesc Pinheiros (2006), Teatro da Vila (2007), Centro Cultural São Paulo (2007), Teatro Paulo Eiró (2008) e Sesc Santana (2009), além de participar do Circuito Cultural Paulista, em 2009. Os espetáculos do grupo são os seguintes: A Dança das Cores (1999), Um Mar de Outras Histórias (2001), A Odisseia (2001), A Fada Oriana (2002), A Batalha dos Encantados (Histórias e Cânticos dos Reinos Yorùbá) (2003), O Grande Teatro de Olhar o Tempo (O Mahabharatha) (2004), A Menina, o Príncipe e a Noite (2007), Lá em Cima do Telhado Tem… (2010), Histórias Avoadas (2013), A História de Budur e Kamar (2017) e Cabeças Trocadas (2018). O grupo também foi indicado duas vezes ao Prêmio FEMSA de Teatro Infantil: Categoria Especial pela pesquisa e resgate de histórias afro-brasileiras por A Batalha dos Encantados e Atriz Coadjuvante (Andrea Cavinato) por A Menina, o Príncipe e a Noite, além de ter projeto aprovado no PAC 22 – Concurso de Apoio à Produção Profissional de Espetáculos Inéditos de Teatro do Governo do Estado de São Paulo.

 

 

Foto: Divulgação

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