A Milionária faz nova temporada, agora no Teatro João Caetano

Não é de hoje que o ator e produtor Sergio Mastropasqua e o diretor Thiago Ledier têm uma relação muito forte com o autor irlandês Bernard Shaw. Depois de trabalharem em Cândida, O Homem do Destino e A Profissão da Senhora Warren. A Milionária, segue para nova temporada, agora no Teatro João Caetano, a partir de 31 de agosto…

 

 

 

 

 

Com direção de Thiago Ledier, o elenco ainda conta com mais oito nomes: Chris Couto, Cy Teixeira, Priscilla Olyva, Alexandre Meirelles, Caetano O’Maihlan, Guilherme Gorski, Luti Angelelli e Thiago Carreira. Thiago e Sergio também participam da versão final do texto que tem a tradução de Thiago Ledier e Eduardo Tolentino de Araújo, do Grupo Tapa. O projeto foi selecionado pela 6ª Edição do Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo e tem o patrocínio da Secretaria Municipal da Cultura.

A Milionária começa com Epifânia, uma das mulheres mais ricas da Europa, reunindo-se com seu advogado para discutir a possibilidade de seu provável suicídio. Pretende deixar, como forma de punição por infidelidade, toda a sua fortuna para seu marido. Seu casamento fora resultado de um desafio. Seu finado pai, por quem Epifânia tem fixação assumidamente edipiana, impôs uma condição: para se casar com ela o marido deveria receber uma quantia inicial razoável e, em seis meses, transformá-la em uma fortuna. O marido, boxeador e esportista, vence o desafio através de manobras financeiras e – ironia suprema – pela produção de uma peça teatral. Apesar disto, Epifânia desinteressa-se por ele.

Após jogar escada abaixo um amigo que ofendera a memória de seu pai, encontra um médico muçulmano, filho de uma lavadeira, por quem se apaixona. Para sua surpresa, ao propor casamento ao médico, é informada que sua humilde mãe, uma lavadeira, também impôs um desafio como condição à mulher que desejasse desposá-lo: a pretendente deveria receber uma quantia miserável e sobreviver, unicamente através do seu trabalho, durante seis meses. Só assim seria merecedora da mão do filho. Ao aceitar o desafio, Epifânia começa um movimento irresistível, desvendando o modo de agir e pensar de sua classe social, poucas vezes retratada em cena.

A Milionária pode ser definida como uma comédia didática sobre poder e dinheiro. Shaw já havia se ocupado de maneira aguda destes temas em Casa de Viúvos (1892), Major Bárbara (1905) e Pigmalião (1912). Num cruzamento histórico dramático – que com a Segunda Guerra viria a se tornar trágico – Shaw levou quatro anos para escrever o texto, finalizando o trabalho aos quase 80 anos de idade, em 1936.

Escrito em meados dos anos 1930, o texto de Shaw traz temas muito atuais como a concentração de renda e direitos dos trabalhadores, expondo como vivem os poucos milionários que concentram boa parte da renda mundial. Reforçando seu estilo dialético, Bernard Shaw segue sem colocar “a verdade” na boca de nenhum personagem e provoca na plateia um quase desconforto ao se ver na posição de aceitar ou não os pontos de vista dispostos no palco.

 

Fundamentos do teatro a favor do texto
Sergio Mastropasqua e Thiago Ledier estão em sua quarta montagem de um texto de Bernard Shaw (além dessa peça e A Profissão de Senhora Warren, a dupla também esteve em Cândida e O Homem do Destino). Ambos dizem que o que mais encanta na obra do autor é a qualidade do seu texto. “No teatro, o que mais me atraiu sempre foi o texto. E Shaw é um autor inteligente, que trabalha os diálogos como ninguém, deixando os intérpretes com ótimos desafios. Ele usa os elementos do teatro a seu favor e de maneira muito eficiente, oferecendo caminhos que fogem do óbvio. Em suas peças, ele abriu uma série de possibilidades que o teatro desenvolveu mais para frente e também tocou em temas inusitados e, a seu modo, nunca subestimou o fato de que num teatro existe uma plateia e que esse espectador deve, mesmo rindo, ser mobilizado eticamente diante do que presencia”, explica Mastropasqua.

O diretor Ledier explica que Shaw não enxergava o teatro como uma missão messiânica ou catequizadora. “Sua visão de mundo está lá mas, mais do que oferecer respostas para a plateia, ele a convida a pensar junto e levanta questões. Além disso, os diálogos e temas que aparecem em suas peças ajudam o espectador a se revelar para si mesmo. Seus personagens falam o que pensam e são repletos de humanidade (ninguém é totalmente mau ou bom)”, afirma, reforçando que seus espetáculos são para quem gosta de grandes textos. Uma comédia, A Milionária reforça uma frase que era dita pelo irlandês: minha maneira de brincar é dizer a verdade.

Diante de uma dramaturgia repleta de qualidade e riqueza, o papel de Ledier à frente da encenação foi garantir que essas características cheguem aos palcos. Junto com o elenco, ele buscou a melhor maneira de compreender o pensamento do autor, reforçando a relação dos atores com o texto, além de afinar a tradução que foi feita em quatro meses e a seis mãos, pelo próprio Ledier, Sergio Mastropasqua e Eduardo Tolentino.

O cenografia e iluminação da peça são assinadas por César Bento, os figurinos são de Cy Teixeira e a trilha tem a autoria de Gregory Slivar.

 

Bernard Shaw para todos
Com ingressos gratuitos, as duas temporadas de A Milionário fazem parte de um desejo do Círculo de Atores: popularizar o autor irlandês no País. Apesar de ser ganhador de um Oscar de melhor roteiro e do prêmio Nobel de Literatura, Shaw não é muito montado em terras brasileiras.

“Tenho muita vontade de fazer uma mostra com os espetáculos que já montei de Shaw. O Círculo dos Atores foi criado em 2013 e temos no autor nascido na Irlanda um dos nossos eixos de pesquisa. Junto com esse grupo, já estamos no processo de tradução e produção de 4004 AC: A Origem. Numa época de apaixonadas opiniões, o pensamento não maniqueísta e crítico de Bernard Shaw aprofunda questões tão necessárias ao entendimento do nosso tempo”, resume Mastropasqua.

Ficha Técnica
Texto original: Bernard Shaw
Tradução: Eduardo Tolentino de Araújo e Thiago Ledier
Direção: Thiago Ledier
Elenco: Chris Couto, Cy Teixeira, Priscilla Olyva, Alexandre Meirelles, Caetano O’Maihlan, Guilherme Gorski, Luti Angelelli, Thiago Carreira e Sergio Mastropasqua
Trilha original: Gregory Slivar
Cenários e luz: César Bento
Luz e operação: Nicolas Caratori
Figurinos: Cy Teixeira
Fotografia: Ronaldo Gutierrez
Produção: CasaVerde de Teatro e SM Arte e Cultura
Realização: Círculo de Atores
Coordenação de Produção: Selene Marinho
Assistente de Produção: Marcela Horta
Administração: Patricia Pichamone
Pré-Produção: Sergio Mastropasqua
Design Gráfico: Denise Bacellar
Gerenciamento de Mídias Sociais: Gigi Prado

 

 

 

 

A Milionária
Teatro João Caetano
Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino
Tel.: 11 5573-3774
Capacidade: 438 lugares
Duração: 100 minutos
Estreia sexta-feira, 31 de agosto, às 21h
Temporada: De 31 de agosto a 23 de setembro
Sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 19h
Ingressos: Gratuitos (distribuição uma hora antes de cada sessão)
Recomendação etária: 14 anos

 

Fotos: Ronaldo Gutierrez

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