Sesc Pinheiros, exibe filmes do Chinês Wong Kar-Wai

Ciclo dedicado à memória e obra dos cineastas mais representativos da história do cinema mundial, o Tela Clássica, projeto idealizado pelo Sesc Pinheiros, exibe até dia 2 de outubro, todas à terças, 20 horas (exceto dia 28 de agosto), filmes do cineasta chinês de Hong-Kong Wong Kar-Wai (1958)…

 

 

 

 

 

Além do ciclo, está em andamento o curso Silêncios e Fraturas no Tempo: o cinema de Wong Kar Wai, com Vanderlei Henrique Mastropaulo, pesquisador de cinema, geógrafo pela FFLCH/USP e mestre em Comunicação e Cultura pelo PROLAM/USP (Programa de Integração da América Latina). “A atmosfera nostálgica de seus filmes, a construção de um tempo particular e o grande apuro visual se tornaram marcas autorais que intensificam os dilemas amorosos de seus personagens solitários”, comenta Vanderlei sobre o tema do curso e sobre o estilo de Kar-Wai.

Em seu quarto ano de existência, o projeto já exibiu mais de 100 filmes em ciclos de cineastas como Fritz Lang, Buñuel, Eisenstein, De Sica, Fassbinder, David Lean, Pasolini, Kubrick, Jim Jarmush, Spike Lee, Kusturica, Polanski, Herzog, Robert Altman e Andrei Tarkovski.

A depender da relevância do cineasta para a história do cinema e da quantidade de filmes produzidos, os ciclos se alternam entre um mês ou um bimestre. No projeto, é priorizada a exibição de filmes de artistas que inventaram a linguagem fílmica, desbravaram os caminhos da moderna produção cinematográfica e possibilitaram a evolução de uma indústria que une arte, tecnologia e entretenimento.

 

 

Vanderlei Henrique Mastropaulo
Vanderlei Henrique Mastropaulo, pesquisador de cinema, geógrafo pela FFLCH/USP e mestre em Comunicação e Cultura pelo PROLAM/USP (Programa de Integração da América Latina), trabalhou com produção cultural e audiovisual e ministra cursos variados de cinema desde 2015. Dirigiu o curta-metragem Portunhol: um guia prático (2018) e se dedica atualmente à realização do longa-metragem Penso, logo animo, sobre a trajetória do Núcleo de Cinema de Animação de Campinas.

 

Wong Kar-Wai (por Vanderlei Henrique Mastropaulo)
Nascido em Xangai, Wong Kar-Wai emigrou para Hong Kong com seus pais aos seis anos de idade. A dificuldade em se adaptar ao idioma cantonês o impossibilitava de fazer amigos. Sua mãe o levava com frequência ao cinema, que passou a preencher parte da infância, assim como os livros de seu pai. Iniciou os estudos superiores em desenho gráfico, que abandonou quando soube que a TVBHK (Television Broadcasts Limited de Hong Kong) havia aberto um curso de produção para televisão. Aprovado, começou a trabalhar como assistente, logo assumindo a função de roteirista. Após alguns anos, passou a escrever roteiros para cinema, no momento em que jovens cineastas como Ann Hui, Tsui Hark e Patrick Tam mudavam o panorama local com o movimento conhecido como “cinema novo de Hong Kong” (cujo auge foi de 1978 a 1982).

Neste momento, Wong Kar Wai se aproximou de profissionais como Patrick Lam e Jeffrey Lau, escrevendo roteiros de diversos gêneros (kung fu, melodramas, comédias, ação). Em 1987, escreveu filmes de sucesso, como Flaming Brothers, estrelado por Alan Tang e Chow Yun-Fat. Ele e Jeffrey Lau escreveram As tears go by, filme de gângsteres lançado em 1988. O relativo sucesso gabaritou o jovem diretor a realizar um segundo longa-metragem. Assim foi concebido Dias selvagens (1990), cujas filmagens se dão em um longo e improvisado processo. O filme foi muito custoso e fracassou nas bilheterias, tornando-se o clássico “sucesso de crítica e fracasso de público”.

O universo particular do diretor não foi imediatamente aceito e, por conta disso, teve que adiar novos projetos. Kar-Wai e Jeffrey Lau fundaram a produtora Jet Tone e conseguiram financiamento para Cinzas do passado (1994), história de espadachins cujas longas filmagens obedeceram o mesmo processo de Dias selvagens. Com recursos escassos, realizou Amores expressos (1994), narrando duas histórias de desencontros amorosos em uma metrópole colorida, veloz e multifacetada. Cinzas do passado foi mal de público, mas conquistou o prêmio de melhor fotografia no Festival de Veneza (para Christopher Doyle). Já Amores expressos fez a sorte do diretor mudar – foi exibido no Festival de Estocolmo, onde ganhou o prêmio de melhor atriz (Faye Wong) e caiu no gosto de Quentin Tarantino, que convenceu a Miramax a comprar os direitos de filme e distribuí-lo nos EUA.

Wong Kar Wai deu continuidade a seu estilo pessoal em Anjos caídos (1995), que havia sido pensada como a terceira parte de Amores expressos. Uma vez aclamado como diretor internacional, conseguiu a consagração definitiva com Felizes juntos (1997), crônica sobre um casal de homossexuais imigrantes vivendo em Buenos Aires em uma nova história de frustrações amorosas. O filme conquistou o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes e o inseriu definitivamente no circuito do cinema de arte. Em Amor à flor da pele (2000), definiu seu estilo em um drama intimista sobre o amor platônico de dois vizinhos que descobrem, ao mesmo tempo, a infidelidade de seus cônjuges. O filme rendeu prêmios ao diretor e à equipe (o diretor de fotografia Christopher Doyle, Tony Leung e a atriz Maggie Cheung) nesta obra-prima presente em inúmeras listas de melhores filmes de todos os tempos.

Em 2004, lançou A mão (episódio do longa-metragem Eros), retomando a atmosfera consagrada de Amor à flor da pele, e 2046, que elevou seu estilo a outros patamares ao intercalar momentos passados nos anos 1960 (como em Dias selvagens e Amor à flor da pele) e uma trama futurista criada pelo protagonista escritor. A ótima acolhida de 2046 propiciou a realização de Um beijo roubado (2007), que traslada um universo de expectativas e frustrações em torno do amor para um road movie nos EUA. Apesar do elenco de estrelas (a cantora Norah Jones, em seu primeiro papel no cinema, Jude Law, Natalie Portman, Rachel Weisz e David Strathairn), o filme dividiu opiniões e não teve a adesão esperada.

Kar Wai então lançou Cinzas do passado redux (2008), retomando o projeto fracassado de 1994. A remontagem e o tratamento digital deram vida nova a este filme subestimado, apresentado ao público mundial 14 anos depois. Este retorno ao wuxia pian (filmes de artes marciais muito populares na China, Hong Kong e Taiwan) foi o primeiro passo para a realização do ousado O grande mestre (2013), que levou seis anos para ser concluído. A mítica história de Ip Man, o mentor de Bruce Lee, mistura incríveis sequências de ação com a poética refinada do diretor, marcando seu retorno ao centro do cinema mundial em grande estilo e após muita expectativa.

 

 

 

 

Tela Clássica
O cinema de Wong Kar Wai, com Vanderlei Henrique Mastropaulo
Sesc Pinheiros
Auditório
Rua Paes Leme, 195, 3º andar – Pinheiros
Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10h às 18h.
Tel.: 3095-9400
Capacidade: 98 lugares
Grátis (Retirada de ingressos com 1h de antecedência na bilheteria).
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h30; Sábado, das 10h às 21h30; domingo e feriado, das 10h às 18h30. Taxas / veículos e motos: para atividades no Teatro Paulo Autran, preço único: R$ 12,00 (credencial plena do Sesc) e R$ 18,00 (não credenciados).
Transporte Público: Metrô Faria Lima – 500m / Estação Pinheiros – 800m

 

Programação

Anjos Caídos (Duo Luo Tian Shi)
Dia 4 de setembro, terça-feira, 20h

Hong Kong, 1995, 96 min. Colorido. Drama. Romance. Comédia. Projeção digital
Duas histórias que se passam em Hong Kong e acabam se cruzando. A primeira acompanha a estranha relação entre um assassino e sua parceira que quase nunca se veem. E a segunda, a relação entre um ex-presidiário mudo e uma jovem abandonada pelo namorado. Com Leon Lai Ming, Takeshi Kaneshiro, Charlie Young

 

Felizes Juntos (Chun Gwong Cha Sit)
Dia 11 de setembro, terça-feira, 20h

Hong Kong, 1997, 96 min. Colorido. Drama. Romance. Projeção digital.
A relação conturbada de dois rapazes chineses que vão para Buenos Aires em férias, mas acabam ficando sem dinheiro. Enquanto um encontra trabalho e leva uma vida regrada, o outro segue errando em constante decadência. Com: Tony Leung Chiu Wai, Leslie Cheung, Chang Chen.

 

2046 – Os Segredos do Amor (2046)
Dia 18 de setembro, terça-feira, 20h

Hong Kong, 2004, 126 min. Colorido. Drama. Projeção Digital.
Em um quarto de hotel em Hong Kong, um jornalista escreve um livro de ficção científica enquanto recorda seus relacionamentos do passado e se envolve com suas vizinhas de quarto. Com: Tony Leung Chiu Wai, Gong Li, Takuya Kimura.

 

Amor a Flor da Pele (Fa Yeung nin wa).
Dia 25 de setembro, terça-feira, 20h

França/Hong Kong, 2000, 98 min. Colorido. Romance. Drama. Projeção Digital.
Na década de 60, um jornalista e sua esposa se mudam para Hong Kong. Enquanto, ela esta sempre envolvida com o trabalho, ele faz amizade com uma vizinha também casada e ambos aos poucos descobrem que seus parceiros estão tendo um caso. Com: Tony Leung Chiu Wai, Maggie Cheung, Rebecca Pan.

 

Amores Expressos (Chong Qing Sen Lin)
Dia 2 de outubro, terça-feira, 20h

Hong Kong, 1994, 102 min. Colorido. Mistério. Romance. Projeção Digital.
Filme composto de duas histórias contadas em sequencia, cada uma com um policial de Hong Kong e seus estranhos relacionamentos amorosos. Com: Brigitte Lin, Takeshi Kaneshiro, Tony Chiu-Wai Leung.

 

Foto: Divulgação

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