Dois irmãos, que recebem como herança um milhão de enciclopédias, é ponto de partida de O Que Fazer com o resto das Árvores?, nova montagem do Coletivo Binário, que estreia dia 26 de outubro, sexta-feira, às 21 horas, na unidade da Praça Roosevelt da SP Escola de Teatro…
Em O Que Fazer com o resto das Árvores?, a partir da história de dois irmãos que herdam algo incomum e cheio de significados, o jovem dramaturgo roraimense Elder Torres fala sobre as heranças que o tempo e as pessoas nos deixam e das dificuldades em lidar com elas e fazer das mesmas instrumentos para construção do porvir, numa fábula que traz à tona questões primordiais como: identidade, moral, ética e legado.
Carlos e Frederico são filhos de um homem que passou mais de 40 anos escrevendo uma enciclopédia. Sem que os dois soubessem, seu pai se desfaz de todos os bens pessoais, inclusive a casa onde os irmãos cresceram, emprega o dinheiro acumulado durante a vida na impressão da primeira edição da sua obra e morre, deixando como herança mais de 1 milhão de livros, partes de uma enciclopédia “analógica” em plena era virtual. Sem saber o que fazer com essa montanha de conhecimento impresso e com um prazo curto para entregar a casa da infância, entupida de livros por todos os lados, os irmãos tentam encontrar um modo de lidar com tudo que esses livros significam para suas vidas.
Velocidade das mudanças
Para o dramaturgo e ator Elder Torres O Que Fazer com o resto das Árvores? é um espetáculo sobre pais e filhos, sobre escolhas, sobre verdades, mentiras e sobre livros. “Mais do que propor uma reflexão sobre esses novos tempos, a era da tecnologia, queremos dialogar com o público sobre o que fazemos com as diversas heranças que recebemos ao longo da vida, que vão além de itens materiais. É uma reflexão sobre o que fazemos com as memórias, com os hábitos, com os livros que herdamos ou abandonamos na estrada do tempo”, explica ele.
O autor, que também atua na montagem, conta ainda que escreveu o texto durante as aulas do curso de dramaturgia da SP Escola de Teatro como uma metáfora dos hábitos que os pais passam inconscientemente aos filhos e que toda história começa a partir de outra história.
Já o ator Nando Motta acredita que a montagem é o ponto de partida para uma reflexão sobre a velocidade das mudanças de paradigmas na contemporaneidade. “Vivemos numa época em que o novo se torna obsoleto em velocidade recorde. Falar de objetos como CDs, disquetes e telegramas, que a pouco mais de 15 anos estavam presentes e se faziam fundamentais aos nossos cotidianos, parece citar um passado distante não mais existente. O que dizer então das enciclopédias impressas? A tentativa de compilar todo conhecimento humano, tidas como objetos fundamentais para a formação intelectual dos indivíduos no passado e hoje condenadas ao ostracismo praticamente desde a criação da internet”, conclui ele.
Fusão de linguagens
Primeira direção profissional de Larissa Matheus depois de assinar algumas assistências de direção para espetáculos como O Monstro, Vocês que me Habitam e o infantil Carmen, O Que Fazer com o resto das Árvores? traz ao palco referências do teatro digital, das estéticas e estruturas do cinema documental, além de técnicas de Vídeo Mapping e Live Cinema, para compor uma encenação composta de múltiplas camadas sensoriais e visuais, recheada de sutileza e agressividade.
“A montagem é um grande movimento antropofágico para contar, de forma sensível e bem-humorada, uma história sobre o passado herdado por todos nós e o futuro que construímos a partir dele. O grande desafio da direção foi abarcar a fusão de linguagens e as criações de todos os parceiros envolvidos”, conta a diretora.
Larissa explica também que o disparador para a encenação foi a união de duas pessoas pela ausência de outra. “O peso do passado, o acúmulo emocional e o volume das mágoas pontuam o embate entre os personagens. Além de refletir na atuação, o conflito, entre os dois irmãos, reverbera igualmente no espaço cênico, que diminui conforme os confrontos aumentam.”
Instalação
O cenário de O Que Fazer com o resto das Árvores? é uma grande instalação com estantes de partituras de música e muitos livros. O fotógrafo cinematográfico Rodrigo Tavares, dos longas Bellini e o Demônio, Rinha e Colegas (vencedor do 40º festival de Gramado, além de diversos prêmios na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo), assina os vídeos projetados em uma tela formada por páginas de livros. Numa espécie de documentário, as imagens trazem informações importantes da história não encenadas no palco.
Ficha Técnica
Texto – Elder Torres
Direção – Larissa Matheus
Elenco – Elder Torres e Nando Motta
Cenografia – Cesar Bento
Figurinos – Guilherme Iervolino
Iluminação – Marina Artuzzi
Trilha Sonora – Barulhista
Designer Gráfico – Estúdio Renata Moura e Bisnaguinha de Ideias
Fotógrafo e Cineasta – Rodrigo Tavares
Coordenação de Projeto e Produção – Nando Motta e Elder Torres
Imagem Material Gráfico – Alice Ricci
Produção Executiva – Michele Serra
Fotos – Samuel Mendes
Operador de Luz – Cesar Bento, Pati Morim Lobato e Ricardo Barbosa
Operador de Som e Projeção – Renato Hermeto
Cenotécnica – Thays do Valles
Realização – Coletivo Binário
O Que Fazer com o resto das Árvores?
Com o Coletivo Binário
SP Escola de Teatro
Sede Roosevelt
Praça Franklin Roosevelt, 210 – Consolação
Tel.: 3775-8600
Capacidade: 60 lugares
Duração: 60 minutos
Estreia: sexta-feira, 26 de outubro, às 21h
Temporada: Até 26 de novembro
Sexta, sábado e segunda-feira, às 21h
Domingo, às 19h
Ingressos:
R$ 40,00
R$ 20,00 (meia-entrada)
Vendas: Sympla (ingressos comprados antecipadamente pela internet tem preço único promocional de R$ 20,00)
Classificação etária: Recomendado para maiores de 12 anos
Coletivo Binário
Quando dois corpos celestes orbitam em torno de um centro de massa comum, para quem os observa, eles aparentam ser um corpo único. Esse fenômeno celeste é classificado pela astronomia como sistema binário. Quando vários artistas se unem em torno de um só objetivo, trazendo consigo todas suas referências, desejos, urgências e inquietações, com um pensamento horizontal e sem pudores estéticos ou linguísticos, surge então o teatro que interessa. Nesse caminho, surgiu o desejo de criar o Coletivo Binário. Um espaço de criação nascido da vontade dos amigos Elder Torres e Nando Motta de buscar um ambiente profícuo para a produção colaborativa e experimental. Um lugar onde, por meio de uma ideia comum, outros artistas também se aproximem e comecem a trabalhar com um objetivo comum: criar. Fruto desta inquietação, o Coletivo Binário possui em repertório o drama contemporâneo 180 Dias de Inverno, baseado na obra do multiartista Nuno Ramos com direção de Nando Motta e a comédia musical Rodolfo e a Crise, com direção de Nando Motta e texto e atuação de Elder torres. Em 2018, o coletivo estreou seu mais novo trabalho, a comédia dramática O Que Fazer Com o Resto Das Árvores?, com direção de Larissa Matheus, texto de Elder Torres e atuação de Nando Motta e Elder Torres. Estes espetáculos já foram agraciados com mais de 10 prêmios e 15 indicações, além de terem se apresentado em diversas cidades e festivais no Brasil, para um público de mais de 50 mil pessoas.
Fotos: Samuel Mendes / Divulgação
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