CCSP recebe Gota D’Água Preta

Gota D’Água Preta reedita o texto de Chico Buarque e Paulo Pontes para a realidade negra, realça a discussão social e de classes e traz protagonismo da mulher preta…

 

 

 

 

A peça Gota D’Água Preta é o novo projeto do premiado ator, diretor e dramaturgo Jé Oliveira, fundador do Coletivo Negro. Na montagem o artista mostra sua versatilidade ao transitar entre o Rap e a MPB. Em seu último trabalho, homenageou os Racionais MC’s com a peça-show Farinha com Açúcar que rodou o país por três anos.

A trama traz para a cena paulistana a realidade negra que perpassa a obra Gota D’Água, escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes, em 1975, mas pela primeira vez tem um elenco predominantemente negro. A reestreia será no Centro Cultural São Paulo a partir de 8 de março. A temporada segue até o dia 24 do mesmo mês.

Inspirado na tragédia Medeia, de Eurípedes, Gota D’Água Preta traz como personagem principal Joana, mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional. Jasão, seu ex-marido, é um jovem vigoroso, sambista que desponta para o sucesso com a composição da canção “Gota D`água”.

O sambista Jasão, agora é noivo de Alma, filha de Creonte, corruptor por excelência e o detentor do poder econômico e das casas, a Vila do Meio-dia, local onde antes morou com Joana e os filhos.

Se em Medeia havia reis e feiticeiros, na tragédia brasileira Gota D’Água Preta temos pobres e macumbeiros, além de um coro negro, em alusão ao grego.

De modo inédito na história do teatro brasileiro Joana, interpretada pela cantora e atriz Juçara Marçal (Metá Metá), e Jasão, vivido por Jé Oliveira, são negros. A escolha política-estética do diretor traz a força da musicalidade ancestral e a influência das religiões de matriz africana.

“É como se estivéssemos realizando a coerência que a peça sempre pediu e até hoje não foi realizada”, destaca Jé Oliveira. “A personagem é pobre e é da Umbanda. Tudo leva a crer, pelo contexto histórico, social e racial do país, que essa personagem é preta. Estamos realizando o que a peça insinua. Estamos de fato enegrecendo a obra de Chico Buarque e concretizando o que ele propõe. ”

A montagem não busca apenas uma reparação histórica para diminuir um hiato sobre a presença negra em papéis relevantes na dramaturgia nacional, mas sobretudo, propõe uma re-atualização, com base na coerência, ainda não realizada por nenhuma montagem, do clássico drama brasiliano.

“Estamos discutindo traição de classe e de raça”, diz Jé citando a metáfora da traição conjugal. “Ele troca Joana por uma mulher mais nova, então discutimos também o feminismo. Jasão também é preto e com ele debatemos a ascensão social e a legitimidade ética disso. ”

“A Joana representa a mulher oprimida desde a formação do Brasil. O grito oprimido desta camada da sociedade. As relações humanas servem de pretexto para questionar essas posições sociais, como se cada um de nós representasse um lugar, um grupo. A Joana é a mulher que foi violentada, agredida. A pessoa sem voz que quer se vingar e não sabe como”, exalta Juçara Marçal.

“Quando o Jé resolveu montar Gota D’Água mais preta a proposta foi trazer o universo da periferia para a cena. Com os acentos, não só os percussivos, mas os da cultura de periferia mesmo”, aponta o músico Fernando Alabê.

O sagrado também está presente na música. “Com pessoas da comunidade negra é natural que as religiões de matriz africana estejam presentes. Tem canto de candomblé, de umbanda e o jongo serve de base. Elementos musicais e sacros, é o sagrado. Tentamos trazer para a peça a maneira que o negro entende sua divindade”, realça Juçara.

Para Alabê, “quando entramos com Dj, percussão e uma instrumentação de saxofone como o diretor musical William Guedes propôs, somado ainda a guitarra, violão e cavaco, temos uma estrutura musical que desfolcloriza a musicalidade de periferia, a musicalidade negra, que é o cerne desta peça”.

Além de Jé Oliveira e Juçara Marçal a montagem traz ainda em cena a atriz, diretora e dançarina Aysha Nascimento (Coletivo Negro), a atriz e MC Dani Nega, a atriz e bailarina Marina Estevez, o ator Matheus Sousa, o ator, diretor e artista-educador Ícaro Rodrigues, o ator e diretor Rodrigo Mercadante (Cia do Tijolo) e o ator, dramaturgo e professor Salloma Salomão.

A direção musical é de William Guedes (Cia do Tijolo) e a música é executada ao vivo por DJ Tano (Záfrica Brasil) nas pick-ups, Fernando Alabê na percussão, Suka Figueiredo no saxofone e Gabriel Longuitano na guitarra, violão, cavaco e voz. O cenário é assinado por Julio Dojczar (casadalapa) e a luz é um projeto do light designer Camilo Bonfanti. Figurinos e assistência de direção de Eder Lopes.Texto e assessoria de Imprensa: Elcio Silva.

 

 

 

 

 

 

Gota D’Água Preta
Centro Cultural São Paulo
Sala Jardel Filho
Rua Vergueiro, 1000 – Vergueiro
Capacidade: 321 lugares
Duração: 150 minutos
Temporada: de 08 a 24 de março
Sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 19h
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 30,00
Vendas: na bilheteria em seu horário de funcionamento (terça a sábado, das 13h às 21h30, e domingos, das 13h às 20h30), e no site Ingresso Rápido

 

Foto: Evandro Macedo / Divulgação

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