A Galeria Jacques Ardies inaugura individual de Zica Bergami, sob curadoria de Jacques Ardies. Composta por 50 desenhos em nanquim sobre papel, a mostra apresenta trabalhos raros coloridos e em preto e branco, os quais destacam uma produção da artista datada entre 1987 e 2009, sendo a maior parte do final do século 20…
Autora de grandes sucessos musicais a partir da década de 1950, como “Lampião de Gás” – canção que foi símbolo da cidade de São Paulo de antigamente, gravada por Inezita Barroso, em 1958 -, “O Batateiro”, “Chuvarada”, entre outros, Zica Bergami foi uma artista multifacetada que, além de composições musicais, também escreveu livros de poesia. Começou a desenhar após a morte de seu marido, e seus desenhos conquistaram não apenas o público brasileiro, mas foram expostos também em Paris, Portugal, Tel Aviv, Nápoles e na Holanda. Como descrito no Catálogo POP Brasil: A arte popular e o popular na arte (CCBB – Gama, 2002): “Há muito tempo que ela faz uma boa figura e apresenta excelentes trabalhos nos salões e mostras de arte, revelando sua inconfundível maneira de desenhar com a tinta nanquim. Ela tinha muitas histórias para contar, dos bons tempos no interior, de um passado fulgurante na capital dos paulistas. Em seus desenhos fica patente o olhar cândido para as situações humanas, com um resultado que atinge a universalidade através de simples traços negros sobre a alvura do papel”.
Elisa Campiotti Bergami nasceu em Ibitinga/SP, em agosto de 1913, onde sua família se fixou como imigrantes italianos. Zica se mudou para São Paulo aos 8 meses de idade e morou primeiro na Barra Funda, depois no Bom Retiro. Era uma outra São Paulo, a dos lampiões de gás, das cheias do Tietê, então um dos lugares de lazer e esportes da Capital. “Ah, era uma beleza. Todo mundo se conhecia, todos os vizinhos eram amigos. De noite eles botavam a cadeira na calçada (…). E nós ficávamos brincando na rua de pular corda, brincar de roda, ‘passa-passa três vezes’. Os meninos brincavam de bolinha de gude, roda-peão e cantávamos aquelas músicas (…). E assim ia, a gente brincava até nove, dez horas da noite. Tinha o bonde aberto, que passava de quarenta em quarenta minutos sacudindo a campainha dele. Não tinha movimento nenhum. E a gente se divertia assim, os pais conversavam na calçada e a criançada brincando. Era uma maravilha, era uma beleza”, comenta a artista em entrevista para o Museu de Pessoa (2005).
Nesta mostra inédita, o público paulistano pode ter acesso a esta verdadeira artista naïf, que se dedicou à temática popular, em paisagens não apenas rurais, mas também urbanas como parques, circos, apresentações, festas e cenas do cotidiano. Nos dizeres de Jacques Ardies: “Acredito que está na hora de voltarmos a falar em Zica Bergami. Uma figura interessante, muito delicada – infelizmente não a conheci, é uma pena. Uma grande dama de talento especial, inédito, que nunca frequentou aulas de arte. Espontânea e cheia de poesia, emoção, com uma produção que reflete a alma de um artista, interprestada de maneira muito pessoal”.
Individual Zica Bergami
Artista: Zica Bergami
Curadoria: Jacques Ardies
Galeria Jacques Ardies
Rua Morgado de Mateus, 579 – Vila Mariana
Tel.: 11 5539-7500
Abertura: 26 de março de 2019, terça-feira, às 19h30
Período: 27 de março a 20 de abril de 2019
Terça a sexta-feira, das 10 às 17h30
Sábado, das 10 às 16h
Número de obras: 50
Técnica: Desenhos em nanquim sobre papel
Preços: Sob consulta
A Galeria
A Galeria Jacques Ardies, na Vila Mariana, está sediada em imóvel antigo totalmente restaurado. Desde sua abertura em Agosto de 1979, atua na divulgação e a promoção da arte naif brasileira. Ao longo de 40 anos, realizou inúmeras exposições tanto em seu espaço como em instituições nacionais e estrangeiras, onde podemos destacar MAC/ Campinas, MAM/ Goiânia, Espace Art 4 – Paris, Espaço Cultural do FMI em Washington DC, USA, Galeria Jacqueline Bricard, França, a Galeria Pro Arte Kasper, Suíça e Gina Gallery, Tel-Aviv, ,Israel. Em 1998, Jacques Ardies lançou o livro Arte Naif no Brasil com a colaboração do crítico Geraldo Edson de Andrade e em 2003, publicou o livro sobre a vida e obra do artista pernambucano Ivonaldo, com texto do professor e crítico de arte Jorge Anthonio e Silva. Em 2014, publicou Arte Naïf no Brasil II, que acaba de ser impresso em língua francesa, com textos de Daniel Achedjian, Peter Rosenwald, Marcos Rodrigues e Jean-Charles Niel. A galeria possui em seu acervo obras, entre quadros e esculturas, de 80 artistas representativos do movimento da Arte Naif brasileira.
Foto Zica Bergami, “Praia” (1992): Divulgação
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