Redes de deitar que badalam sinos; camas com tubos que emitem sons harmônicos; um neon com um verso da música Divino Maravilhoso, de Caetano Veloso, e um cheiro de alecrim que remete à canção Tanto Mar, de Chico Buarque, integram a exposição Solfejo, aberta para visitação no Espaço de Exposições do Centro Cultural Fiesp até o dia 30 de junho. Trata-se de uma reunião de 29 peças, entre obras e instalações de Felippe Moraes, sendo13 delas inéditas e criadas especialmente para a mostra…
A nova mostra de Moraes, artista que atualmente reside em Portugal, onde faz doutorado pela Universidade de Coimbra, exibe um recorte de sua produção artística, que lida com noções de som e música. Formada por obras inéditas e outras já consagradas em seu repertório, a exposição apresenta trabalhos de grande porte, com estruturas de aço e processos técnicos, como afinação acústica e construções especializadas. O nome Solfejo é uma referência à escala tonal, representada pela partitura, as imagens que possibilitam ao estudante“ler” a música que será executada – proposta que coincide com os objetivos de Felippe Moraes. “Os trabalhos são dispositivos para mostrar coisas que acontecem, mas não são vistas”, explica.
O artista, que também assina a expografia, cenografia e design gráfico da mostra, trabalha com diversos materiais dependendo da necessidade poética de cada projeto. “Domino as ferramentas digitais e executo as obras em seguida, ou as terceirizo, como no caso das peças inéditas de Solfejo”, adianta.A pluralidade de materiais e recursos usados nas obrasfaz com que Solfejo proponha o máximo de experiências sensoriais com obras imersivas, como Intervalo Harmônico, formada por camas com tubos sonoros nas laterais que emitem pares de notas musicais harmônicas entre si; e Composição Aleatória, uma sequência de oito redes de descanso que, ao serem movimentadas, acionam o som de um sino – obra que reforça a importância do indivíduo num contexto de coletividadee permite a composição de uma música em grupo.
A instalação olfativaTanto Mar permite que o visitante sinta uma essência de alecrim por todo o espaço expositivo. Título homônimo ao da música composta por Chico Buarque, em 1975, faz referência ao trecho específico “manda urgentemente algum cheirinho de alecrim”. A canção faz menção à Revolução dos Cravos, que aconteceu em Portugal no mesmo período em que o Brasil passava pela ditadura militar.
Já a série Desenho Sonoro, criada em 2014, registra o efeito causado pela vibração de diferentes sons sobre uma placa de metal com areia. Os padrões foram captados pelo próprio artista em uma série de fotografias em grande escala. Com tamanhos e suportes acessíveis a pessoas de todas as estaturas, como camas, redes e tubos mais baixos, a mostra também pode ser aproveitada/acessada por crianças. Moraes reforça que a ideia de usar elementos lúdicos desperta a criança que está dentro dos adultos. “É neste sentido que a exposição dialoga também com o público infanto-juvenil.” A programação ainda conta com oficinas, visita guiada com o artista e debate ao longo do período expositivo. As informações sobre essas atividades serão divulgadas em breve, no site do Centro Cultural Fiesp .
Ciência, natureza e espiritualidade
O artista conta que sua produção se direciona para temas que unem ciência, natureza e espiritualidade: “Eu lido com o que nos ultrapassa, com o que não tem um vocabulário específico para se descrever”.Sobre esse aspecto da sua obra, Felippe Moraes complementa que o que o interessa é a relação íntima entre a sua prática artística, a razão e o espiritual, visto que esses campos estão lidando com os grandes mistérios do universo e que, a partir do momento em que a ciência não dá conta de determinados fenômenos, emerge uma transcendênciacom narrativas mitológicas, religiosas e outros recursos que procuram dar sentido ao que não tem resposta.
“A espiritualidade está sempre um passo adiante na tentativa de criar explicações para o que o conhecimento racionalainda não responde – um alimenta o outro e ambos também se confrontam”, diz o artista. Para ele, Solfejo lida justamente com o revelar dos padrões invisíveis, com o que acontece ao redor, mas não é percebido. “A revelação desses fenômenos abre a percepção para experiências sensoriais, transcendentais e mitológicas”, completa. Para o artista, que comemora este ano 10 anos de carreira, a mistura de obras do passado e do presente cria novas compreensões sobre os trabalhos mais antigos e estes acabam por alimentar os mais recentes.
Felippe Moraes (Rio de Janeiro, 1988)
É artista, pesquisador e curador independente. Atualmente, é doutorando pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e mestre pela University of Northampton, no Reino Unido. Foi vencedor do prêmio KARA 2017, levando-o a uma residência de um mês na instituição Kooshk, em Teerã, no Irã. No mesmo ano, ainda esteve na residência In Context, na Cidade de Slanic Moldova, na Romênia, onde construiu a obra pública e permanente Monumento a Euclides (2017). Em 2016, foi o primeiro colocado no prêmio ArteMonumento2016, da FUNARTE, levando à construção da obra pública permanente Monumento ao Horizonte (2016), no Caminho Niemeyer, em Niterói, no Rio de Janeiro.
Suas principais exposições individuais são:Imensurável (2018), com curadoria de Alexandre Sá na Caixa Cultural Fortaleza; Proporción [Proporção] (2018), no Espacio de Arte Contemporáneo (EAC), em Montevidéu;Cosmografia (2017), com curadoria de Julia Lima, e Ordem (2014), ambas na Baró Galeria, em São Paulo;Progressão (2016), com texto de Michelle Sommer, no MAC-Niterói;Os Elementos (2016), curada por Alexandre Sá, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro;Matter [Matéria] (2012), com texto de Raphael Fonseca, na MK Gallery, no Reino Unido e Construção (2011), na Temporada de Projetos do Paço das Artes, em São Paulo, com textos de Fernanda Lopes.
Esteve em importantes mostras coletivas como Flat Image [Imagem Plana] (2017), na Exhibit Gallery, em Londres; Bienal de Cerveira (2017), em Portugal;Coisas sem nome (2015), no Instituto Tomie Ohtake;Escala Humana, no EAC, em Montevidéu, e Trienal Frestas (2014), em Sorocaba, São Paulo. Em 2014 foi um dos finalistas do Prêmio EDP nas Artes, no Instituto Tomie Ohtake. Está em importantes coleções como do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Centro Cultural São Paulo.
Exposição Solfejo de Felippe Moraes
Espaços de Exposições do Centro Cultural Fiesp
Av. Paulista, 1313 – Cerqueira César (em frente à estação Trianon-Masp do Metrô)
Período: 3 de abril a 30 de junho
De terça a sábado, das 10h às 22h
Domingos, das 10h às 20h
Classificação indicativa: livre
Agendamentos escolares e de grupos: ccfagendamentos@sesisp.org.br
Grátis
Foto: Divulgação
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