Nós, de Eva Furnari, com a Barracão Cultural

A Cia. Barracão Cultural apresenta o espetáculo Nós, no Parque do Povo e Jardim da Luz, respectivamente nos dias 29 e dia 30 de julho, sábado e domingo. As sessões (grátis) ocorrem na Área de Eventos dos parques em dois horários: às 11h e às 15h. A montagem narra a trajetória de Mel, uma garota que sofre bullying, mas não consegue chorar, e aparecem nós pelo seu corpo…

 

 

 

 

Nós é uma adaptação do livro homônimo de Eva Furnari com dramaturgia de Sérgio Pires e direção de Cris Lozano. No elenco: Eloisa Elena, Leandro Goulart, Lucas Nuti e William Simplício. A direção musical é de Dr Morris, a cenografia de Marco Lima e o figurino de Marichilene Artisevskis. Este é o terceiro espetáculo de rua da companhia, que já realizou os bem sucedidos O Tribunal de Salomão, em 2011, e A Condessa e o Bandoleiro, em 2014.

Nós conta a história de Mel, uma garota que nasceu em um repolho mofado, na pequena Pamongas, onde vivia feliz e rodeada por borboletas: motivo de brincadeiras e zombarias por parte dos habitantes ‘normais’ da cidade. Um dia, de tanto segurar as mágoas e o choro, que não caia nem mesmo descascando cebolas, Mel acabou com o corpo cheio de nós, cada um mais apertado que o outro. Diante disso, resolveu ir embora para um lugar distante e saiu disfarçada de geladeira. Mel não sabia que havia tantas coisas para conhecer. Cinco nós foram necessários para que ela se aventurasse. À medida que se permitiu vivenciar cada coisa diferente na jornada, seus nós foram se desfazendo e ela descobriu uma cidade onde cada um tinha seu próprio nó e ninguém ligava para isso.

O principal argumento para a Barracão Cultural montar um espetáculo a partir de um livro de Eva Furnari é sua habilidade em abordar temas sensíveis e polêmicos de forma objetiva, lúdica e fantástica. Em Nós, ela propõe uma reflexão sobre temas como diversidade, intolerância, respeito e alteridade. A relação que se estabelece entre as características peculiares de Mel e a relação com o ambiente onde vive gera “nós” em seu corpo e a obriga a realizar uma jornada de autodescoberta.

“Essa menina traz uma coisa bela e poética para o mundo, que são as borboletas, mas a consequência por ser diferente é se tornar uma pessoa deslocada e com marcas no corpo”; comenta a atriz Eloisa Elena, que vive a personagem. “Acreditamos que falar sobre os temas propostos por Eva é uma questão urgente, com potencial para encontrar ressonância entre os mais diversos públicos e estimular a convivência e o respeito”, completa Eloisa. Ela também ressalta que o espetáculo não mostra somente o lugar da dificuldade, nem retrata a resignação na dor. “Mel representa a força de vontade, a busca. Ela não esmorece no desejo de encontrar o seu lugar no mundo”.

Para a diretora Cris Lozano, “o micro-bullying, aquele que pode ser praticado quase sem perceber, não é apresentado como julgamenteo ou denúncia, mas como propulsor da autorreflexão”. Isso é colocado em cena de forma leve, em uma encenação lúdica e cheia de humor. A narrativa passa pelo realismo fantástico, deixando livre o imaginário do público. Lozano explica que a encenação busca inserir o espectador na história, fazê-lo pensar sobre como agiria diante daquela situação e também entender que não se deve tratar com naturalidade a banalização das diferenças.

O espetáculo tem um coro de vozes masculinas que, segundo a diretora, pode representar o patriarcado, mostrando como essa menina é vista, a partir de uma questão bem mais forte que a poética. “Esse coro traz a herança polifônica do coletivo masculino que espera da mulher um comportamento limitado do que não é poético”. Os atores-músicos se revezam nas personagens que vão surgindo durante a trajetória da menina: adolescentes, homens de negócios e trio de vacas malhadas, entre outros. Mas um dos garotos não se encaixa, exatamente, na posição de antagonista, ele tem afeição pela garota, mas não vai contra a posição dos colegas.

 

Trilha, cenário e figurino

Mesmo sendo realizado em espaços sem nenhuma infraestrutura teatral, o Nós traz um apurado rigor técnico e estético, com todos os elementos do teatro numa produção bem cuidada que integra com originalidade os diversos aspectos que compõem a cena: cenografia, figurinos, adereços e trilha sonora.

A trilha sonora original, criada por Dr Morris, é tocada ao vivo pelos atores. A Barracão Cultural tem o privilégio de ter como integrante um diretor musical. A cada espetáculo, a sonoridade vem sendo um dos fatores determinantes nas montagens. Em Nós, reverencia o artista popular de rua que, além de interpretar e narrar, também canta e toca os instrumentos. “Algumas canções têm papel fundamental na trama, seja dramatúgico, poético ou narrativo”, comenta Dr Morris. Ele ainda acrescenta que buscou por uma sonoridade que fosse além do popular e trouxesse originalidade e graça. “Conseguimos isso com o violão de nylon, os tambores, a marimba de porcelanato e a marímbula, uma espécie de calimba grave e grande, que foi construída pelo ator Leandro Goulart”, explica o músico.

A diretora reforça a importância da dramaturgia musical para um espetáculo apresentado em local público. “A dinâmica da música precisa atrair os olhos e ouvidos do espectador. O ritmo, a sonoridade e as letras das canções devem se sobrepor aos eventuais ruídos do ambiente de rua e seduzir as pessoas com seriedade, leveza e encanto”.

O cenário é uma microarena com uma ‘estação’ para os músicos e seus instrumentos, possibilitando ao público ver o espetáculo de vários pontos de vista, de acordo com a posição em que se encontra. “Desta forma, aproximamos as pessoas da história, com seus olhares externos, cúmplices ou não desse ato de bullying”, comenta Cris Lozano. O cenógrafo Marco Lima conta que se inspirou no repertório imagético da literatura de Eva Furnari para criar um cenário alegórico. “As ilustrações foram fundamentais para compor os elementos bidimensionais como metáforas que traduzem sua linguagem. Fizemos um recorte que transporta o universo da autora para o palco, tirando o espectador do cotidiano e situando-o em outro espaço”, explica o cenógrafo. Nada realista também é o figurino. “Temos um pezinho no circense”, brinca Marichilene Artisevskis. A figurinista diz que buscou exaltar a fantasia tanto nas vestes e adereços como nas cores utilizadas.

Ficha Técnica
Texto: Livre adaptação da obra de Eva Furnari
Dramaturgia: Sérgio Pires
Direção: Cris Lozano
Elenco: Eloisa Elena, Leandro Goulart, Lucas Nuti e William Simplício
Direção musical e canções originais: Dr Morris
Cenografia: Marco Lima
Figurinos: Marichilene Artisevskis
Coordenação técnica: Maurício Mateus
Confecção de cenografia e adereços de cenografia e figurino: Tetê Ribeiro, Lucas Luciano e Fábio Ferretti
Orientação de movimento e coreografias: Andrea Soares
Aulas de beatbox: Thiago Mautari
Aulas de saxofone: Leonardo Muniz
Construção da marimbula: Leandro Goulart
Confecção de escada e suporte dos instrumentos: Ciro Schu
Costureiras: Judite de Lima e Marinil Ateliê
Design gráfico: Cláudio Queiroz
Ilustrações do material gráfico: Marina Bethanis
Fotos de divulgação: Henk Nieman
Coordenação e facilitação dos encontros com jovens: Cláudio Queiroz
Direção de vídeo-documentário: Murilo Alvesso
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Produção executiva: Geondes Antônio
Direção de produção: Eloisa Elena
Administração: Tetê Ribeiro
Produção e realização: Barracão Cultural
Apoio: 7ª edição do Prêmio Zé Renato de Apoio à Produção e Desenvolvimento da Atividade Teatral para a Cidade de São Paulo.

 

 

 

 

Nós
Duração: 60 minutos
Classificação: Livre para todos os públicos
Gratuito

Sábado, 29 de junho, às 11h e às 15h
Parque do Povo – Mário Pimenta Camargo
Área de Eventos
Av. Henrique Chamma, 420 – Pinheiros
Tel: (11) 3073-1217

 

Domingo, 30 de junho, às 11h e às 15h
Parque Jardim da Luz
Área de Eventos
Praça da Luz, s/n – Bom Retiro
Tel: (11) 3227-3545

 

Foto: Henk Nieman

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