Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes no Sesc Ipiranga

Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes integra a programação da mostra OUNJE – Alimento dos Orixás (programação aqui) que acontece no Sesc Ipiranga, no período de 19 de junho a 25 de agosto. A exposição faz uma imersão artística na culinária e na cultura das religiões afro-brasileiras…

 

 

 

 

O Núcleo Teatral Filhas da Dita estreia o espetáculo Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes no dia 12 de julho (sexta, às 21h), no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Com direção e dramaturgia de Antonia Mattos, a montagem faz somente três apresentações, seguindo até o dia 14, no Teatro da unidade.

Para refletir sobre como a África se manifesta no dia a dia das moradoras de Cidade Tiradentes, o grupo encarou o desafio de ‘afrografar’ o bairro – referência ao termo ‘afrografias’ da poetisa e ensaísta Dra. Leda Maria Martins, que coloca em evidência e consciência a nossa herança africana. O trabalho do Núcleo Filhas da Dita mapeou esse legado ancestral por vários ângulos: ao próprio redor, junto a parentes, pessoas próximas e até desconhecidas que caminham pelo bairro.

A partir da investigação proposta, Canto das Ditas coloca em cena histórias de mulheres negras de Cidade Tiradentes que se entrecruzam com histórias de Yabás (orixás femininas). A montagem busca o reflexo das histórias do cotidiano em um espelho ‘mítico’ das personagens sagradas.

A diretora Antonia Mattos explica que os depoimentos colhidos pelo grupo aparecem no texto e na dramaturgia de forma não linear, fragmentada “A narrativa é espiralada, pois procura se relacionar com um tempo mítico, da memória e da ancestralidade. As personagens reais correspondem, de forma arquetípica, às personagens míticas. Recorremos ao ‘espírito ancestral feminino’, às ‘grandes mães da humanidade’, às yabás para contar e cantar as histórias dessas mulheres, as Ditas, que fundaram Cidade Tiradentes”.

As atrizes que interpretam as quatro mulheres – Bendita/Nanã, Marta/Iemanjá Maria/Iansã, e Joana Nega Su/Obá – são Ellen Rio Branco, Lua Lucas, Luara Sanches e Thábata Letícia, respectivamente. Segundo Antonia, a poética cênica é atravessada por elementos e saberes ancestrais, num tempo/espaço espiralado que aponta para um movimento rumo às reminiscências de um passado sagrado, para fortalecer o presente e deslumbrar o futuro. A origem da humanidade na África e a fundação de Cidade Tiradentes são contadas simultaneamente: o passado sagrado se revela no presente e passado recente.

A origem do bairro passa pela força dessas mulheres negras que alí chegaram, se instalaram e fizeram a história local. E são delas as histórias contadas na encenação Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes, onde a música tem papel fundamental, trazendo a voz e o canto dessas mulheres em um cenário lúdico que se estabelece entre o ritual e o urbano contemporâneo. “Tempos e lugares diferentes mostram que, apesar de toda a repressão sofrida, as mulheres sempre se reuniram em grupos para buscar alternativas, para desafiar o sistema patriarcal e mudar sua condição, seja na sociedade secreta africana de Eleko, seja na Casa Anastácia (Centro de Defesa e Convivência da Mulher) em Cidade Tiradentes”, reflete Antonia Mattos.

“São evocadas as mães, as avós, as netas e filhas que ainda nem nasceram para exaltar essa ancestralidade sagrada: o poder feminino da mulher negra. Pedimos licença às ‘Grandes Mães Pássaros’ e saudamos nossa ancestralidade africana e afro-brasileira, por meio de gestos, música, canto, narrativas e oralituras que trazem milênios de existência e dão pistas para o futuro”. Depoimento das atrizes do Núcleo Teatral Filhas da Dita.

“Só quando ‘chegou’ aqui foi que a gente percebeu que tinham construído só os prédios mesmo, ‘né’?! Não tinha mais nada ‘pra’ gente aqui. Foi quando eu percebi que se a gente quisesse alguma coisa, tinha que pôr a mão na massa. Foi isso que a comunidade fez.” Depoimento de Dona Geralda Marfisa, moradora de Cidade Tiradentes, há 34 anos.

O grupo – O Núcleo Teatral Filhas da Dita nasceu no Centro Cultural Arte em Construção, em 2007, e vem mantendo um processo contínuo de criação artística. Em seu repertório estão os espetáculos: Sonho de Tatiane – uma Poética sobre Juventudes (2017), A Guerra (2013) e Os Tronconenses (2007). Em 2015, brotou a faísca de um desejo: a construção do fazer artístico novo, mas que mantivesse a memória progenitora. “Afinal, se somos Filhas, nossas mães têm cara, voz e corpo nos nossos processos. Dessa constatação desemboca um estudo aprofundado sobre a feminilidade e suas subjetividades com recorte de raça/etnia”, relatam os integrantes do grupo. Atualmente, com a realização de Fragmetos Afrografados de Cidade Tiradentes, buscam visibilizar narrativas que constantemente foram, e ainda são negligenciadas. Nesses anos de trabalho é evidente o aprofundamento de uma prática artística com e no território e a articulação em rede com outros coletivos periféricos.

Ficha Técnica
Direção e Dramaturgia: Antonia Mattos
Elenco: Ellen Rio Branco, Lua Lucas, Luara Sanches, Thábata Letícia, Cláudio Pavão e Rafael Pantoja
Direção musical: Jonathan Silva
Concepção de luz: Antonia Mattos e Fernando Alves
Cenário e figurino: Eliseu Weide
Assessoria de Imprensa: Verbena Comunicação
Produção: Núcleo Teatral Filhas da Dita
Realização: Sesc

 

 

 

 

Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes
Com: Núcleo Teatral Filhas da Dita
Mostra: OUNJE – Alimento dos Orixás
Sesc Ipiranga
Teatro
Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga
Tel: 3340-2000
Capacidade: 200 lugares
Duração: 90 minutos
Dias 12, 13 e 14 de julho
Sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 18h
Classificação: 14 anos
Ingressos:
R$ 20,00 (inteira)
R$ 10,00 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
R$ 6,00 (credencial plena do Sesc: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).

 

 

Foto: Luciana Ponce

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