“Vidas Medíocres ou Almas Líricas” no Espaço Cia da Revista

Peça “Vidas Medíocres ou Almas Líricas”, montagem que reúne obras do dramaturgo Anton Tchekhov a sambas dos anos 40 e 50, ganha nova temporada na capital paulista…

 

 

 

 

 

Após o sucesso no período que ficou em cartaz no Espaço Pequeno Ato, a Cia Alvorada promove retorno do espetáculo aos palcos, desta vez no Espaço Cia da Revista.

Sob olhares e espíritos curiosos, “Vidas Medíocres ou Almas Líricas” chamou a atenção de público e crítica ao apresentar uma mescla de cenas baseadas em quatro textos do dramaturgo russo Anton Tchekhov – além de trechos de cartas e contos do autor – com a atmosfera poética proposta por sambas das décadas de 40 e 50. Este retrato da primeira temporada da peça, que tomou as dependências do Espaço Pequeno Ato entre abril e maio deste ano, superou expectativas, estimulando diretor, atores e produtores a promoverem um novo período em cartaz, desta vez no Espaço Cia da Revista, às quartas e quintas, até 26 de setembro.

A escolha pelo envolvimento lírico de suas produções teatrais com o samba de raiz se tornou uma marca registrada da Cia Alvorada. Seu primeiro espetáculo, encenado em 2017, recebeu o título de “É Samba na veia, é Candeia” e contava a trajetória de Antônio Candeia Filho (1935/1978), um popular sambista portelense, e teve participação do Coletivo Terreiro de Mauá. Tchekhov, entretanto, foi o ponto de partida para a montagem de ‘Vidas Medíocres ou Almas Líricas’. Entretanto, ao reconhecer em sua obra questões universais e contemporâneas, embora escritas originalmente há cerca de 120 anos, os sambas surgiram naturalmente na mente do diretor, Leonardo Karasek . As letras e melodias que falam do destino, da melancolia e da natureza da vida encaixavam-se bem na prática de leitura e encenação de Tchekhov e, com isso, a construção foi ganhando vida. A partir desta similaridade, mesmo que distante no espectro de tempo e espaço, induziu o diretor à reflexão que dá a tônica do espetáculo: “Afinal, seria a tristeza a essência primária da alma lírica humana?”.

Com esses questionamentos em mente deu-se início a carpintaria cênica e a criação da identidade visual da peça, que também teve inspiração em outro russo, o diretor de cinema Andrei Tarkovsky, vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema de Cannes em 1980 com o filme “Stalker”, de 1979. “Neste espetáculo, o público depara-se com esses espectros, fragmentos do passado, objetos abandonados, musgo, poeira, ferrugem, fotografias gastas pelo tempo… Signos que remetem à perenidade e à atemporalidade”, afirma o diretor.

Em relação às provocações que a peça levará ao palco, Karasek exemplifica. “Se o personagem Pétia, de ‘O Jardim das Cerejeiras’, realça que tudo que acontece neste mundo terreno ‘não passa de gesticulação’, de uma espécie de entretempo entre o nascimento e a morte onde criamos expectativas, frustrações, desejos, alegrias e rancores em relação à vida, por outro lado nós amamos, odiamos, casamos, trabalhamos, viajamos, fazemos arte, filosofamos. Nesse contexto, a pergunta central desta produção é: será que isso tudo vale a pena? Será que isso tudo tem algum sentido? Esses espectros passam a sentir necessidade de dialogar e não importa, esta é a nossa única vida e seguimos nela”, complementa. Ainda de acordo com o diretor, a poética desta encenação reside na enfatização do eu lírico e o eu dramático. O homem social e o homem subjetivo. A partir disso, abrem-se caminhos para se refletir sobre a solidão, este sentimento que ronda a humanidade como uma sombra e é tema recorrente numa época de ilusões e idealismos desfeitos.

Para além das motivações e propósitos cênicos iniciais, a continuidade do trabalho em nova temporada ganha estímulos relacionados ao atual momento do país: “Trata-se de um movimento de valorização da cultura em contrapartida ao que prega a política implantada pelo governo atual. É preciso valorizar tanto o erudito quanto o popular, ainda mais num país que tem grande parte de suas raízes culturais provenientes de cenários de pobreza. Também é necessário que haja o estimulo à reflexão, tão desprezada na era do pragmatismo”, diz Karasek.

O elenco da peça nesta nova temporada conta com o músico Aloysio Letra e os atores Tales Jaloretto, Rita Teles Vanise Carneiro e Flávio Gerab.

Ficha Técnica
Direção: Leonardo Karasek
Assistente de Direção: Taís de Paula
Produção executiva: Rita Teles
Texto: Anton Tchekhov
Elenco: Aloysio Letra, Tales Jaloretto, Rita Teles, Vanise Carneiro, Flávio Gerab
Direção Musical e Preparação Vocal: Aloysio Letra
Produção: Núcleo Coletivo das Artes Produções
Cenário e Figurino: Kleber Montanheiro
Preparadores de Elenco: Imara Reis e Pedro Lopes
Preparação Corporal e Coreografia: Sandro Mattos
Iluminação: Dedê Ferreira
Criação gráfica: Zeca Damaso
Direção e Produção de Vídeo: Contra-plongée (Cauê Teles e Marie Cabianca)
Plano de Comunicação Virtual: Eduardo Araújo
Assessoria de Imprensa: Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo

 

 

 

 

 

 

“Vidas Medíocres ou Almas Líricas”
Espaço Cia da Revista
Alameda Nothmann 1135 – Santa Cecília
Capacidade: 85 pessoas
Duração: 70 minutos
Temporada: até 26 de setembro de 2019
Quartas e quintas-feiras, às 20h30
Classificação etária: 12 anos
Ingressos:
R$ 40,00 inteira
R$ 20,00 meia entrada (idoso ,estudante, professor e classe artística)

 

A Companhia Alvorada
Companhia criada em 2017 pelo diretor Leonardo Karasek. Tem por objetivo pesquisar o sentido literário e filosófico dos textos e das palavras, trabalhar além das formas cênicas, priorizando o sentido das palavras e situações. Segundo seu fundador, “não temos medo de ser considerados passadistas por centrarmos nosso trabalho no texto e no sentido das imagens. Primamos pela valorização da história, do mito, a da reflexão sobre a condição humana. Preocupações que norteiam-se com questões do que com o diálogo obrigatório com as fronteiras do teatro ou renovação de suas formas. Pretendemos voltar a valorizar a fantasia e levar o espectador a um tempo e espaço, na maioria das vezes bem determinado”. A companhia tem como referência os grandes produtores de saber intelectual no teatro e na literatura, como Stanislavsky, Tchekhov, Ibsen, Shakespeare, Brecht, Moliére, Balzac, Proust, Dostoievsky e Machado de Assis. “Gostaríamos de retomar a produção de textos clássicos no Brasil, fazer uma verdadeira companhia de repertório. Nosso trabalho também inclui a pesquisa e a inserção, nos nossos espetáculos, de temas brasileiros que nos rodeiam, como o samba, o choro, o forró, o candomblé, o Carnaval e as festas populares”, diz. A primeira produção foi a peça “É Samba na Veia, É Candeia”, sucesso de crítica e público. Em sua segunda produção, a peça “Vidas Medíocres ou Almas Líricas” a companhia apresenta uma narrativa com textos e contos de Tcheckov e Sambas das décadas de 1930 e 1940. Para ele, atualizar questões universais pode significar, também, a aproximação com o redor e o passado. Nesse contexto, a globalização apenas é descartada quando mostra-se unilateral. Em suas propostas, a companhia defende pautas de direitos humanos, o fim dos preconceitos de qualquer espécie e o combate à desigualdade social no Brasil.

 

Núcleo Coletivo de Artes
Tem como objeto fomentar e difundir arte, cultura e educação, sobretudo com foco em questões que envolvem matrizes africanas e manifestações da diáspora africana no Brasil. Produções notórias: Seminário Internacional “Fronteiras em Movimento” – CCBB (2012), Seminário “A Morte & A Vida em Debate” – CCBB (2006), Intolerância Solidariedade no Mundo Contemporâneo – CCBB (2004). Sarau Afrikanse (2018), participou na produção de eventos com o Grupo de Articulação Política Preta (2016/2017), Mulheres Negras em Marcha (2017/2018). Quanto à projetos na educação: “Oficinas de Vivência Teatral” – Fundação Julita (desde 2014), Escola Nacional de Teatro (2015/2016), Secretaria Municipal da Cultura de SP (2017/2018). Assina as produções artísticas e executivas dos espetáculos: “Agosto na Cidade Murada” (2018), “É Samba na Veia, É Candeia” (2017/2018), “A Volta para Casa” (2015/2016), “Vênus de Aluguel” (2014), “Contando África em Contos” (desde 2016), além da produção de diversos artistas, lançamento de livros e exposições de artes plásticas.

 

Foto: Sergio Fernandes

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