Narrativa digital com três episódios é inspirada no argumento do espetáculo Poema Suspenso para uma Cidade em Queda e tem direção de Luiz Fernando Marques (integrante do Grupo XIX). As apresentações, ao vivo, contarão com uma ilha de edição online, que fará inserções e sobreposições de imagens, multitelas e efeitos…
Uma pessoa cai do topo de um prédio e não chega ao chão. Os anos passam e este corpo não consuma a queda e a vida das pessoas nos apartamentos desse edifício fica presa numa espécie de buraco negro pessoal, onde cada um vive uma experiência que não finaliza. A fábula contemporânea sobre a sensação de suspensão e paralisia geral do mundo moderno foi levada ao palco em 2015 pela Cia. Mungunzá de Teatro com o nome de Poema Suspenso para uma Cidade em Queda. Após cinco anos e em diálogo com o momento atual de isolamento social, a Cia. Mungunzá recria a narrativa principal do espetáculo para a linguagem visual e estreia em três episódios a narrativa digital Poema em Queda-Live.
A Roteirista da sua vida e o Homem que morava dentro do sofá é o primeiro episódio de Poema em Queda-Live e chega ao público dia 16 de agosto, domingo, às 21h30, no Youtube/SESCSP e no Instagram/SESCAOVIVO. Depois a narrativa digital faz duas apresentações – dias 18 e 20 de agosto, terça e quinta-feira, às 22h30 – no canal do Youtube/SESCBOMRETIRO e emenda temporada com sessões dias 23, 25, 27, 28, 29 e 30 de agosto 1º e 3 de setembro, sempre às 22h, nas plataformas da Cia. Mungunzá de Teatro (Youtube e Facebook). Os outros dois episódios devem estrear nos meses de setembro e outubro pela plataforma Mungunzá Digital.
Com direção de Luiz Fernando Marques (integrante do Grupo XIX de Teatro) e dramaturgia de Verônica Gentilin, que integra o elenco criador ao lado de Leonardo Akio, Lucas Bêda, Marcos Felipe, Pedro Augusto, Sandra Modesto e Virginia Iglesias, Poema em Queda-Live sintetiza a perspectiva de seis personagens fabulares sobre a queda de um corpo e mescla à perspectiva subjetiva dos atores sobre o momento de suspensão atual. O videoartista Flavio Barollo se une ao elenco e direção utilizando diversas tecnologias existentes, como softwares de Live Streaming, Vídeo Mapping, manipulação ao vivo de imagens, para de forma inovadora combinar a essência do teatro à diversas formas de artes digitais. Todas as ações acontecem na plataforma de videochamadas Zoom e são transmitidas para outras plataformas.
Cada janela um universo
Para Verônica Gentilin, que assina a dramaturgia, a Cia. Mungunzá de Teatro, estimulada pela suspensão dos espetáculos teatrais no período de isolamento social, busca com Poema em Queda-Live inaugurar outro campo de experiência, que possa perdurar após esse período abrindo mais um campo de linguagem para artistas de todas as áreas. “Nosso espetáculo de 2015 dialoga muito forte com que estamos vivendo atualmente e tinha uma gama de personagens que poderemos olhar mais profundamente. A ideia agora é entrar em cada janela daquele prédio. Cada janela, um universo com começo, meio e fim. Serão seis pontos de vista sobre a queda de um corpo que nunca chegou ao chão. Seis formas subjetivas de encarar essa paralisia pelo enquadramento de uma janela”, explica ela.
Poema em Queda-Live é dividido em três episódios com foco em duas personagens em cada um. “As histórias todas se entrelaçam e todos os personagens aparecem nos episódios, mas cada uma será recortada e aprofundada na imersão de dois universos por vez”, adianta Verônica. O primeiro episódio A Roteirista da sua vida e o Homem que morava dentro do sofá (Verônica Gentilin e Lucas Bêda) e joga foco na menina que roteiriza a vida das pessoas entediadas de si mesmas e as devolve num filme fantástico e do homem que nunca conseguiu finalizar a mala de seu pai para mandá-lo embora de casa. A menina roteiriza a morte do pai enquanto consuma a queda do corpo e o homem, para guardar esse pai, constrói um universo dentro de um sofá onde tenta vestir as peças de roupa que não conseguiu colocar na mala. Da mesma forma que o homem tenta vestir partes do corpo desse pai que se foi, a menina tenta vestir um luto que lhe aperta.
A Mulher que pariu o pai e o Fazedor de abandonos (Virginia Iglesias e Leonardo Akio) é o episódio dois e apresenta as histórias de uma mulher que engravidou na adolescência e nunca pôde contar ao pai. Por isso ela enfaixou sua barriga e não deixou o bebê nascer e de um homem que sempre é abandonado por pessoas e, para cada abandono, um bebê chorando aparece. A mulher guarda o bebê dentro de si como um relicário e o bebê, por não conseguir nascer, começa a falar dentro da barriga de outra mulher. O bebê quer contar ao avô morto que ele está preso dentro da barriga e pede socorro a um avô fantasma enquanto o homem nina seus abandonos. Já o episódio três A Mulher que espera e Aquele que vê (Sandra Modesto e Marcos Felipe) mostra uma mulher que engravidou de palavras não ditas, sonhos não vividos, bebês não nascidos. Uma mulher que engravidou de nãos. E um homem que, para ser, precisa vestir a pele do outro. Ele transita como um fantasma através de todas as histórias buscando a parte que lhe cabe de cada uma.
Ampliar e não substituir
O diretor Luiz Fernando Marques, o Lubi, que também dirigiu a montagem Poema Suspenso para uma Cidade em Queda em 2015, conta que desde o início do isolamento social pensava no espetáculo pela sensação da cidade em suspensão que ele trazia. “A montagem de 2015 dialogava muito com as artes plásticas e com a tecnologia, já que era encenada em um andaime de cinco metros de altura. Hoje, Poema em Queda-Live dialoga com o audiovisual e traz novas camadas de tecnologia.”
Lubi enfatiza que a ideia agora é de ampliar e não substituir nenhuma linguagem. “No momento em que os artistas de muitas áreas não podem se manifestar ao vivo na presença do público, as formas de arte digitais estão disponíveis para se integrar ao trabalho visceral de nós artistas do palco, a fim de construir uma experiência que nos aproxime calorosamente das pessoas. Uma experiência ainda sem nome definido, que estamos descobrindo juntos neste cenário”, acredita ele.
Para dar conta desta demanda a Cia. Mungunzá de Teatro convidou o videoartista Flavio Barollo para esta empreitada, que uniu seus conhecimentos e criou uma mesa de composição, como uma ilha de edição ao vivo. “Mesclamos a linguagem da videoarte com as tecnologias de streaming e as de vídeo conferência, fazendo com que cada ator em suas casas possa criar poéticas de vídeo através de sua câmera de celular ou computador. Na plataforma criada, consigo manipular e fazer composições artísticas dos vídeos dos atores ao vivo, câmeras da plateia, imagens pré-gravadas e também de arquivo”, adianta.
Ficha Técnica
Argumento e Produção Geral – Cia. Mungunzá de Teatro. Dramaturgia – Verônica Gentilin. Direção – Luiz Fernando Marques. Elenco – Leonardo Akio, Lucas Bêda, Pedro Augusto, Marcos Felipe, Sandra Modesto, Verônica Gentilin e Virginia Iglesias. Videoartista – Flavio Barollo. Fotografia e Produção Audiovisual – Bruno Rico e Pedro Augusto. Encenação Digital – Cia. Mungunzá de Teatro, Flavio Barollo e Luiz Fernando Marques. Trilha Sonora – Gustavo Sarzi. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta
Poema em Queda-Live
Episódio 1 – A Roteirista da sua vida e o Homem que morava dentro do sofá
Estreia dia 16 de agosto, domingo, às 21h30, no Youtube/SESCSP e no Instagram/SESCAOVIVO. Apresentações dias 18 e 20 de agosto, terça e quinta-feira, às 22h30, no canal do Youtube/SESCBOMRETIRO.
Temporada – dias 23, 25, 27, 28, 29 e 30 de agosto 1º e 3 de setembro, sempre às 22h, nas plataformas da Cia. Mungunzá de Teatro (Youtube e Facebook).
Recomendado para maiores de 14 anos
Duração – 30 minutos
Grátis
Sobre a Cia. Mungunzá
A Cia. Mungunzá de Teatro iniciou suas atividades em 2008, com uma pesquisa realizada em parceria com o diretor Nelson Baskerville, em torno do teatro épico de Bertolt Brecht, que gerou o espetáculo Por que a criança cozinha na polenta?. Entre 2008 e 2010, a peça realizou temporadas em São Paulo e participou de festivais em todo o Brasil, recebendo mais de 30 prêmios. Entre 2011 e 2013, também com a direção de Nelson Baskerville, a companhia realizou o premiado Luis Antonio–Gabriela, que narrava a história de transformação do irmão de Nelson Baskerville na travesti Gabriela. Concebido na perspectiva do teatro-documentário ou documentário cênico, Luis Antonio-Gabriela fez temporadas em São Paulo, além de circular por todo o Brasil e fazer apresentações em Portugal recebendo vários prêmios, entre eles o Shell e o APCA, o da Cooperativa Paulista de Teatro e o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Em 2015 estreia Era uma Era, que inaugura o repertório infantil da Cia. e no mesmo ano, o grupo leva aos palcos Poema Suspenso para uma Cidade em Queda, onde desdobra o tema da família em uma pesquisa sobre os relicários pessoais dos atores e pedaços de histórias, que se unem a experiências universais.
Em 2017 A Cia inaugura o Teatro de Contêiner Mungunzá, formado por 11 contêineres marítimos em um antigo terreno abandonado no bairro da Luz, centro da cidade de São Paulo. Vencedor do Prêmio APCA na categoria especial de teatro e um dos indicados ao Prêmio Shell de inovação pelo uso arquitetônico inédito voltado para o teatro, inserido na região degradada do centro da capital paulista, o Teatro de Contêiner Mungunzá recebeu, em dois anos, 549 apresentações teatrais (113 espetáculos diferentes). No ano seguinte, o grupo estreia Epidemia Prata, com direção de Georgette Fadel, que comemora 10 anos do coletivo e devolve ao público de forma engajada e poética a experiência vivida em um ano no centro de São Paulo, desde a criação do espaço na região da Luz. Também em 2018, a Cia. lança o livro-arte sobre os 10 anos do grupo – Mungunzá: Obá! Produção Teatral em Zona de Fronteira… – com assinatura do pesquisador teatral Alexandre Mate e colaboração de José Cetra. No início de 2020, Epidemia Prata é encenado na Índia no Festival Internacional de Teatro de Kerala e em maio a Cia. Mungunzá de Teatro lança a Mungunzá Digital, uma plataforma virtual com uma programação eclética de conteúdos artísticos, culturais e sociais, pesquisas e projetos de variados artistas, criando um vasto acervo que abre espaço para conversas e aprofundamento nas obras e conteúdos dispostos.
Foto: Mariana Bêda
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