Encenado em arena, espetáculo fala sobre um homem em conflito com sua sexualidade e identidade e divido entre um antigo amor e uma nova e inesperada paixão. A montagem tem estreia presencial e gratuita na Oficina Cultural Oswald de Andrade…
Considerado um dos maiores autores do teatro britânico contemporâneo, Mike Barlett tem mais um de seus premiados textos encenados no Brasil. Trata-se de Cock, com direção de Nelson Baskerville, que tem sua temporada de estreia entre os dias 2 e 18 de dezembro, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. As apresentações são gratuitas e acontecem de segunda a sexta, às 20h; e aos sábados, às 18h.
A peça rendeu a Mike Bartlett o Olivier Award (2010), na categoria “Outstanding Achievement”, a maior honraria do teatro inglês. A montagem brasileira foi idealizada por Andrea Dupré e Daniel Tavares, que também estão no elenco ao lado de Hugo Coelho e Marco Antônio Pâmio.
“Estamos sempre pesquisando a dramaturgia contemporânea em busca de bons textos e adoramos o teatro inglês. Quanto ao Bartlett, já vínhamos alimentando a vontade de montá-lo há um bom tempo. Chegamos a ler o texto em 2013, mas os direitos autorais não estavam disponíveis na época. Em 2019, fizemos uma nova tentativa e finalmente conseguimos, mas fomos interrompidos pela pandemia”, conta Andrea Dupré.
Sobre como a pandemia influenciou a montagem, Daniel Tavares acrescenta: “A peça é muito focada nas relações, nos encontros, no desejo e no amor. Para contar essa história é quase impossível não ter beijo, abraço, corpos próximos. E diante de todo distanciamento social que vivemos, essas ações aparentemente tão cotidianas parecem ter se tornado mais potentes e ganharam outras camadas e significados. Mais do que nunca vimos como somos mais felizes quando estamos próximos uns dos outros”.
O espetáculo acompanha o turbulento processo de descoberta da identidade, da sexualidade e do desejo de John, que namora há sete anos com um homem. Quando ele e seu companheiro decidem dar um tempo, o protagonista se apaixona por uma mulher, algo novo em sua vida.
Cheio de angústias e sentimentos conflitantes, John é pressionado a decidir entre o amor de seu antigo namorado e de sua nova parceira. Mas a maior luta do protagonista é para entender quem ele realmente é e o que sente. Esse conflito é ainda mais agravado pelos próprios desejos de John e pela pressão social para que ele se enquadre em rótulos pré-determinados.
“Cock”, em inglês, é uma palavra com múltiplos sentidos. Significa galo, pau/pênis e também é uma gíria pra descrever alguém de personalidade arrogante. A peça brinca com todos esses sentidos. Conhecida como “The Cockfight Play”, a obra dramatúrgica começou a ser escrita durante um intercâmbio do autor no México, país da lucha libre e onde ainda existem as brigas de galos. De alguma forma, Bartlett conectou o ritual das rinhas – nas quais em um pequeno palco, duas criaturas se atacam, lutam, e se destroem – com o ritual do teatro. E a partir dessa imagem, ele começou a construir essa trama centrada em embates cortantes e emocionais.
Nessa disputa, em que cada personagem tenta convencer os demais sobre seu ponto de vista, a plateia é colocada com muita delicadeza no papel de voyer e é convidada a pensar sobre as questões debatidas. E esse exercício de empatia com a situação dos quatro personagens é acentuado pelo fato de que o texto não traz respostas prontas.
A encenação
A montagem de Nelson Baskerville segue essa sugestão do autor de posicionar o público em uma arena em cenário criado por Chris Aizner, com uma grande luminária de Wagner Freire. “Veremos no palco esses personagens chocando-se entre si, expondo suas angústias, seus medos, seus amores e seus saberes das próprias paixões. Iremos até o limite de aproximação entre plateia e personagens, para que ela veja seus suores, ouça suas respirações, também sofra por eles e possa torcer para que se machuquem o menos possível, porque é evidente que vai doer. O amor é transgressivo e dói”, comenta o diretor.
Quanto aos figurinos, criados por Marichilene Artisevskis, outra sugestão de Bartlett será seguida: caracterizar essas figuras sem muitas definições convencionais. Isso é extremamente importante em uma peça que questiona justamente a categorização das pessoas. Outro elemento importante da trama é a trilha sonora original composta por Dan Maia, marcando algumas transições de cenas e o início dos três grandes blocos que compõem o texto.
“A ideia é que haja em cena um jogo absolutamente vivo e preciso dos atores para que os diálogos cheguem ao público (que está praticamente dentro da cena) com o máximo de verdade e honestidade”, comenta o encenador.
Sobre Mike Bartlett
Mike Bartlett é um dos mais proeminentes dramaturgos ingleses da atualidade. Já foi autor residente do National Theatre e do Royal Court Theatre de Londres. Ele também é roteirista de TV e escreveu várias séries de sucesso na Inglaterra. Sua escrita é afiada, inteligente e possui uma comunicação clara, bem-humorada e direta com os públicos jovem e adulto.
A maioria de suas peças ganhou grande destaque na cena teatral internacional e o autor também foi reconhecido com importantes prêmios, principalmente na Inglaterra. Com “King Charles III” ganhou o Critic’s Circle Award e o Olivier Award na categoria Best New Play e foi indicado ao Tony Award na mesma categoria. “Love Love Love” ganhou Best New Play no Theatre Awards UK. Ele também ganhou os prêmios Writer’s Guild Tinniswood e Imison pela peça “Not Talking”, e o Old Vic New Voices Award por “Artefacts”.
No Brasil, peças como “Bull”, “Contrações” e “Love Love Love”, todas com estilos e temáticas diferentes, fizeram grande sucesso. A cada novo texto apresentado, fica mais evidente para o público brasileiro o porquê do jovem dramaturgo ser considerado um dos mais importantes autores da contemporaneidade.
Ficha Técnica:
Texto: Mike Bartlett.
Tradução: Andrea Dupré.
Direção: Nelson Baskerville.
Elenco: Andrea Dupré, Daniel Tavares, Hugo Coelho e Marco Antônio Pâmio.
Iluminação: Wagner Freire.
Figurino: Marichilene Artisevskis.
Cenário: Chris Aizner.
Trilha Sonora Original: Daniel Maia.
Preparador Corporal: Mauricio Flores.
Cenotécnico: Cesar Rezende.
Técnico de Luz E Som: Leandro Di Cicco.
Acessibilidade Audiovisual: Nara Marques.
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli.
Midias Digitais: Inspira comunicação – Felipe Pirillo e Vanessa Scorsoni.
Fotos: Pedro Bonacina.
Idealização: Andrea Dupré e Daniel Tavares.
Administração – Fenetre Produções.
Produção: Contorno Produções.
Produtora Executiva – Laura La Padula.
Assistente de Projetos: Bianca Bertolotto.
Assistente de Produção e Comunicação: Carolina Henriques.
Direção de Produção: Jessica Rodrigues e Victória Martinez.
O espetáculo Cock – Briga de Galo foi contemplado pela 10ª edição do Prêmio Zé Renato para a Cidade de São Paulo, instituído pela Lei nº 15.951/2014
Cock – Briga de Galo, de Mike Bartlett,
com direção de Nelson Baskerville
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Sala 03
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro
De 2 a 18 de dezembro
De segunda a sexta, às 20h
Sábados, às 18h
Ingressos: Grátis, distribuídos 1h antes de cada sessão
Duração: 120 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Foto: Pedro Bonacina
1 comentário em “Premiada peça Cock, do autor inglês Mike Bartlett, ganha montagem dirigida por Nelson Baskerville”Adicione o seu →