Espetáculo de Teatro de Sombras

A Floresta Que Habita Em Nós, da Cia Quase Cinema, é uma experiência sensorial em busca da reconexão com a natureza…
 

 

 

….Olhar para o urbano de forma poética e onírica. Olhar o outro. Olhar-se. E espantar-se, maravilhado com o que vê, ao se ver como duplo na sombra ampliada. Possíveis camadas de compreensão. No início, era só teatro de sombras. Agora as sombras dialogam com as bordas, os refugiados, os que estão à margem, os esquecidos pelo sistema. Os que insistem em sobreviver. Agora, as sombras passam a projetar outras utopias possíveis. O tema nunca é longo, mas feito de histórias fragmentadas, que cabem na íris de quem passa na rua. Ou remexem a memória dos que nem tem pra onde ir. A natureza humana, aqui, é um universo a ser projetado. Infinito circular… Wallace Puosso

A floresta que habita em nós é o novo espetáculo da Cia Quase Cinema criado durante o período de isolamento social na pandemia a partir de conversas e encontros virtuais com representantes dos povos da floresta, artistas e antropólogos. É um convite, um alerta, um chamado…

Dois dos principais males de nosso tempo como a privação do sono e a falta de cuidado com a natureza levantados pelo ambientalista indígena Kaká Werá Jecupé nos leva à incapacidade de compreensão das consequências dos nossos atos.

Você tem sonho? “E quando o canto da maritaca se calar e as onças não tiverem o que comer. E quando a terra morrer e as sementes não germinarem. E quando os rios secarem e o cheiro da morte dominar. Não haverá poesia, nem cores, nem música. Antes que seja tarde demais, vamos sonhar com as flores, falar com os pássaros, brincar com os peixes, ouvir nossos ancestrais e celebrar a vida” reflete o diretor da Cia, Ronaldo Robles.

Para os indígenas os sonhos são os meios de validação de suas hipóteses sobre o mundo e segundo as sabedorias antigas os portais para os quatro estados de consciência: a consciência dorme no reino mineral, sonha no reino vegetal, acorda no reino animal e desperta no reino humano.

Agora, o antes performativo, aponta possíveis caminhos para dialogar com uma sociedade fragmentada, imediatista, pós-pandêmica, alijada de direitos e desejos inerentes à natureza humana. O caminho possível. Aqui, agora o leitmotiv está nas mudas de plantas que remetem à floresta em estado bruto, potente, viva, que remete ao que ainda respira dentro de nós. A floresta que habita em nós. Em detalhes, cores, formas, sensações, sons e imagens.

“É preciso que a gente se reconecte com nossa essência, e através da arte, da espiritualidade, dos cantos, que a gente se conecte novamente com a terra. Plantar, diminuir o lixo, buscar uma forma de vida mais simples, buscar outras formas de troca baseadas em outras sabedorias. É pela reconexão com a terra que podemos buscar um caminho de cura. O sopro da vida existe em cada um de nós”, afirmou a ativista indígena e artista Naiara Tukano em recente entrevista.

“A floresta existe em cada um de nós, basta procurar dentro, finaliza Silvia Godoy, diretora da Cia.
Este espetáculo também pegou o caminho aberto pelo Chico Mendes e todos aqueles que lutam para preservar a vida. “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.” — Chico Mendes

 

Cia Quase Cinema
A Cia Quase Cinema da cidade de Taubaté foi fundada em 2004, nasceu do encontro de diferentes linguagens artísticas; artes cênicas, artes plásticas, cinema, performance e dança. O grupo é formado pelo núcleo com os diretores Ronaldo Robles e Silvia Godoy e artistas colaboradores; Rafael Soares, Maike Marques, Walace Puosso, Rafael de Paula, Charles Kray, Natalia Machiaveli e Mano Bap.

O teatro de sombras surge como possibilidade de expressão que dialoga com o cinema no campo das artes cênicas, é uma arte milenar que encanta adultos e crianças. Nossa pesquisa não tem como referência o tradicional teatro de sombras chinês, porque nosso diálogo é com a linguagem cinematográfica e sua técnica de composição de imagem, close, travelling e edição, tratamos o espaço cênico como elemento complexo e a cidade como parte da obra. Trabalhamos com camadas sobrepostas e todos os elementos são revelados sem hierarquia, tudo está em cena e tem a mesma potência narrativa e simbólica. As imagens provocam a memória adormecida através dos sentidos da visão e audição.

Levamos as sombras do teatro para as ruas e a arquitetura que encontramos em diferentes lugares se apresentam como site specific. Pesquisamos um teatro de imagens em movimento que intervém no fluxo da cidade, no cotidiano dos habitantes e transforma o ambiente convidando o espectador a experimentar uma diferente poética espacial.

 

Filiações Estéticas
O nome Quase Cinema é emprestado de um conceito criado pelo artista Hélio Oiticica, o nome da companhia é uma homenagem em memória ao artista. O conceito trata do cinema de artista que une duas linguagens: artes plásticas e cinema.

Ainda como referência importante que atravessa nosso processo: os parangolés, cosmococas e os penetráveis do artista são obras emblemáticas que permitem pensar o espaço como lugar da poesia da imagem.
Interessa-nos o labirinto, a complexidade, o mito da caverna, a interdisciplinaridade, os conceitos que trazem a potência das imagens simbólicas e o devir.

O teatro de Tadeusz Kantor, a arte cinética, o expressionismo alemão, o cinema Noir, as intervenções urbanas, a pesquisa dos performers Renato Cohen e Otávio Donasci, as animações de Lotte Reiniger e os grafites que colorem a cidade também atravessam nossa estética. A teoria da complexidade e do caos tratada pelo Prof. Jorge de Albulquerque Vieira, o Seitai Ho difundido pelo professor Toshi Tanaka e o budismo atravessam nosso fazer artístico pois unimos arte, ciência e vida numa única experiência lúdica e imagética das sombras.

O termo teatro de sombras nos parece estranho, como se fosse uma roupa que não entra no corpo. Buscamos nestes 18 anos de pesquisa contínua um termo que contemple nossa aventura no campo das artes cênicas.

Projeto contemplado pelo prêmio PROAC Aldir Blanc histórico de realização

Ficha Técnica
Espetáculo criado durante a pandemia no momento de isolamento social; os artistas conceberam sem que houvesse encontros presencias. O casal de diretores e performers Ronaldo Robles e Silvia Godoy fizeram os ensaios na sede da companhia e o compositor Mano Bap virtualmente. Processo que inclui filmes, livros, poesias, textos, fotos e encontros virtuais com indígenas, antropólogos e artistas.
Direção e roteiro: Ronaldo Robles e Silvia Godoy
Assistente de direção: Wallace Puosso
Trilha sonora original ao vivo: Mano Bap
Produção: Flavia Fernandes
Cenário e silhuetas: Ronaldo Robles e Silvia Godoy
Light designer: Silvia Godoy
Agradecimentos: Daniel Munduruku, Camila Gauditano, Andrea Duarte, Carla
Dias, Rosi Waikhon e Jaciara Augusto Martim

 

 

 

 

 

 

A Floresta Que Habita Em Nós, da Cia Quase Cinema
Apresentações inéditas de estreia:

Dia 03 de dezembro, às 19h30
Comunidade de Heliópolis
Ra Santa Angela de Merici, 10 – viela, casa 32- próximo ao Cinefavela – São Paulo

Dia 04 de dezembro, às 20h
Biblioteca Nelson Ferreira Pinto
Rua Cônego Costa Bueno,4 (espaço externo localizado ao lado da Igreja Matriz)
São Luiz do Paraitinga – SP

Dia 05 de dezembro, às 19h30
Sítio do Pica Pau Amarelo
Av. Monteiro Lobato, s/n – Chácara do Visconde – Taubaté – SP

*Uso obrigatório de máscaras em todas as apresentações*
Classificação livre para todos os públicos

 

Foto: Divulgação

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