Hip-Hop Blues – Espólio das Águas no Sesc Santana

Quando a pandemia pelo novo Coronavírus começou, em 2020, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos iniciava as comemorações dos 20 anos de atividades continuadas…

 

 

 

 

Atravessados e tocados pelas devastações e consequências causadas pela pandemia e pelo momento político crucial em que nos encontramos, o coletivo estreia agora mais uma peça, a 18ª de seu repertório, de forma presencial.

A temporada de Hip-Hop Blues – Espólio das Águas acontece de 25 de março a 24 de abril de 2022 no Sesc Santana – sextas e sábados às 21h; domingos e feriados às 18h. A venda pela Web inicia no dia 22/03 às 14h e no dia 23/03 às 17h inicia a venda presencial em toda rede Sesc, semanalmente.

“Esse espetáculo é resultado de um processo pós-pandêmico em diálogo com a reflexão sobre os 20 anos de pesquisa continuada do Núcleo Bartolomeu. Ele foi se desconstruindo do que era inicialmente, uma narrativa única, e como um mosaico agregou depoimentos propostos à luz de tudo o que estávamos e continuamos vivendo individual e coletivamente” fala Claudia Schapira, diretora e dramaturga do espetáculo.

 

Enxurrada
A ideia da peça começou a ser construída em 2020 quando a obra “Os Sete Pecados Capitais dos Pequenos Burgueses” de Bertold Brecht, serviu como uma espécie de disparador para a criação do espetáculo. Conforme o processo foi avançando, com a chegada da pandemia e os questionamentos trazidos por ela, Hip-Hop Blues – Espólio das Águas começou a tomar novos rumos. O rio Mississipi presente na obra de Brecht como percurso é transposto para os rios soterrados da cidade de São Paulo, que transbordantes em dias de chuva, trazem memórias à superfície.

“O rio nunca pára, não adianta tentar apreender o inapreensível. Nos inspiramos nos percursos dos rios de São Paulo trazendo isso para a peça, criando situações que mostram o afogamento e a necessidade constante de mergulhar para ir buscar sensações, sentimentos e trazê-los à superfície”, explica Claudia Schapira.

Partindo de depoimentos pessoais do elenco, que foram confrontados com questões contemporâneas ligadas ao eurocentrismo presente na sociedade brasileira, o Núcleo Bartolomeu entrou num intenso processo de construção-desconstrução-reconstrução, até chegar no que se verá no palco do Sesc Santana.

“A cheia veio, os rios subiram, transbordaram, desceram e deixaram como espólio memórias d’água. Essas memórias são a matéria prima com a qual fomos trabalhando entretecendo as narrativas” fala Claudia Schapira.

 

Mais detalhes sobre a encenação
Depois da encenação de último espetáculo “Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias” baseado em um dos textos mais propositivos de Brecht, Hip-Hop Blues – Espólio das Águas traz uma faceta mais processual e performática do Núcleo, que procura elaborar cenicamente os confrontos com a palavra, a forma, a representação, a linguagem, dentre tantas outras questões que nos desafiam nesse tempo que nos tocam viver.

O texto costurado por Claudia Schapira, a partir de fragmentos de memórias coletivas, assimilando depoimentos do elenco, ora comentam a realidade, ora desenvolvem pequenas narrativas que se relacionam com ela criando um tecido polifônico que reverbera a impossibilidade de um discurso unificado.

A música exerce papel central em Hip Hop Blues, confluindo grande parte dos textos. “O blues é apresentado como visão de mundo, como forma de resistência e de protesto. Como ágora capaz de abrigar todas as diásporas, todos os levantes e de dar contorno ao momento desafiador pelo qual estamos passando; que lança mão do ritmo e da poesia como se fosse reza, como se fosse lamento, também reivindicação e luta, sem abrir mão do poder transformador da celebração” diz Claudia Schapira.

O cenário proposto por Marisa Bentivegna procura trazer para a cena o elemento água – e em diálogo com a iluminação de Matheus Brant e as imagens de Vic Von Poser – cria uma instalação que interpela a narrativa interferindo em seu curso. A dramaturgia sonora, as partituras de movimento, o vocal e os figurinos, somam-se a esse contexto materializando a experiência do atravessamento pelas águas.

Além dos quatro membros-fundadores do Núcleo – Claudia Schapira, Eugênio Lima, Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’ Alva -, o espetáculo ainda conta com Cristiano Meirelles, Dani Nega, Nilcéia Vicente e Daniel Oliva, artistas-aliados que já colaboraram com coletivo Bartolomeu em outras produções. Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, Aretha Sadick e Zahy Guajajara, se juntam ao elenco formando a narrativa com a adição do vídeo, trazendo vozes que fortalecem o discurso na busca da construção de outras realidades possíveis.

“Estamos em um momento onde precisamos ouvir e interagir com diferentes discursos, outras narrativas que não só as nossas. Nesse sentido, convidar artistas que trouxeram essas vozes não só ampliou, mas também fortaleceu um vislumbre que se renova em direção ao futuro”, diz Schapira.

 

Os 20 anos e o trabalho durante a pandemia
O Núcleo Bartolomeu de Depoimentos completou 20 anos de criação e de atuação contínua com a construção da linguagem do teatro hip-hop e ganha comemoração com diversas atividades programadas ao longo de 2021 e 2022.

Durante esses dois últimos anos, o coletivo ofereceu diversas atividades virtuais e gratuitas ao público – rodas de conversas, oficinas, campeonatos de slam, releituras dramáticas por outros coletivos aliades e espetáculos audiovisuais (Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Aquilombados no Oficina e Hip-Hop Blues).

Essas duas décadas de intenso trabalho originaram não só uma cartografia que mescla linguagem e trajetória do grupo, mas também reflexões e um importante olhar para o futuro na formação de novos imaginários.

Dentre as comemorações dos 20 anos , está previsto para o início de maio o lançamento de “A Palavra como Território – Antologia Dramatúrgica do Teatro Hip-Hop”, reunindo 14 peças do Núcleo Bartolomeu com apresentações de convidades como Zé Celso Martinez Correa, Jé Oliveira, Georgette Fadel, entre outros.

Este projeto foi realizado com apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

Ficha Técnica
Direção: Claudia Schapira Dramaturgia: Claudia Schapira e elenco Concepção Geral: Núcleo Bartolomeu de Depoimentos Atores/Atrizes-MC’s: Cristiano Meirelles, Dani Nega, Eugênio Lima, Luaa Gabanini, Nilcéia Vicente e Roberta Estrela D’Alva Guitarra: Daniel Oliva Direção musical: Dani Nega, Eugênio Lima e RobertaEstrela D’Alva Músicas: Núcleo Bartolomeu e elenco Assistência de direção: Rafaela Penteado Cenografia: Marisa Bentivegna Criação e operação de luz: Matheus Brant Assistência de iluminação: Guilherme Soares Criação e operação de vídeo: Vic Von Poser Assistência de cenografia: César Renzi Cenotecnia: César Rezende Assistência de vídeo: Beatriz Gabriel Direção de movimento: Luaa Gabanini Técnica de spoken word e métricas: Roberta Estrela D’Alva e Dani Nega Técnica de canto blues: Andrea Drigo Técnica de sapateado: Luciana Polloni Danças urbanas: Flip Couto Participações especiais vídeo: Adeleke Adisaogun Ajiyobiojo, Aretha Sadick e Zahy Guajajara Participações especiais áudio: Matriark e Reinaldo Oliveira Pensadores-provocadores convidados: Luiz Antônio Simas, Luiz Campos Jr. e Celso Frateschi Engenharia de Som: João de Souza Neto e Clevinho Souza Intérprete Libras: Erika Mota e equipe Figurinos: Claudia Schapira Figurinista assistente e direção de cena: Isabela Lourenço Costureira: Cleuza Amaro Barbosa da Silva Direção de produção, administração geral e financeira: Mariza Dantas Direção de Produção Executiva: Victória Martinez e Jessica Rodrigues [Contorno Produções] Assistência de produção: Carolina Henriques e Helena Fraga Coordenação das redes sociais: Luiza Romão Assessoria de Imprensa e Coordenação de Comunicação: Canal Aberto – Márcia Marques, Carol Zeferino e Daniele Valério Programação Visual e Desenhos: Murilo Thaveira Fotos divulgação: Sérgio Silva

Agradecimentos
Lu Favoreto, Estúdio Nova Dança Oito, Pequeno Ato, Galpão do Folias, Lucía Soledad, Marisa Bentivegna, Colégio Santa Cruz – Raul Teixeira, Périplo Produções

 

 

 

 

 

 

Hip-Hop Blues – Espólio das águas
Sesc Santana
Av. Luiz Dumont Villares, 579, Jardim São Paulo
Tel.: 11 2971-8700
Capacidade: 330 lugares
Duração: 1h30
Temporada: 25 de março a 24 de abril de 2022
Sexta e Sábado às 21h
Domingo e Feriado* às 18h
Dia 15/4 (sexta) não haverá espetáculo
Dia 22/4 (também sexta) haverá duas sessões, às 16h e às 21h
Quinta-feira, 21/04, feriado de Tiradentes, haverá sessão, às 18h
Recomendação etária: 12 anos
Valor:
R$ 40,00 – Inteira
R$ 20,00 – Meia (concedida para estudantes, maiores de 60 anos, credenciados do Sesc na categoria plena, professores da rede pública e portadores de deficiência).
Prefira o transporte público: Jd. São Paulo – 850m | Parada Inglesa – 1.250m

A venda pela Web inicia no dia 22/03 às 14h e no dia 23/03 às 17h inicia a venda presencial em toda rede Sesc. Nesse momento, de pandemia, as vendas estão sendo liberadas semanalmente, não sendo possível por enquanto comprar ingressos para as demais datas da temporada, essa orientação pode mudar ao longo desse mês, mas nesse momento estamos trabalhando a venda dessa forma.

*É necessário apresentar comprovante de vacinação contra COVID-19. Crianças de 5 a 11 anos devem apresentar o comprovante evidenciando uma dose, pessoas a partir de 12 anos, das duas doses (ou dose única), além de documento com foto para ingressar nas unidades do Sesc no estado de São Paulo.

 

O Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
O Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, formado por Claudia Schapira, Eugênio Lima, Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’Alva, nasceu no ano de 2000 e tem como pesquisa de linguagem o diálogo entre a cultura hip-hop, com a contundência da autorrepresentação como discurso artístico, e o teatro épico e seus recursos: o caráter narrativo, apoiado por uma dramaturgia que se configura depoimento do processo histórico; como instrumento que elucida uma concepção do mundo, e coloca o ator-narrador em face de si mesmo como objeto de pesquisa; como homem mutável; em processo, fruto do raciocínio, da reflexão.

Estreou em 2000 Bartolomeu, O Que Será que Nele Deu, o primeiro espetáculo do Núcleo, dirigido por Georgette Fadel e inspirado no romance de Herman Melville “Bartleby, O Escriturário”. Acordei Que Sonhava, uma livre adaptação de “A Vida É Sonho”, de Calderón de la Barca, foi o segundo espetáculo da companhia, estreado em 2002, dirigido por Claudia Schapira.

Entre os anos de 2002 e 2003, o Núcleo desenvolveu Urgência nas Ruas – obras-manifesto, intervenções pelas ruas de São Paulo. Esse projeto foi o primeiro a ser contemplado pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Em 2006 estreia Frátria Amada Brasil – Pequeno Compêndio de Lendas Urbanas, espetáculo inspirado na Odisseia de Homero.

5 x 4 – Particularidades Coletivas, de 2008, gerou cinco espetáculos: Encontros Notáveis, 3×3 – Três DJs em busca do vinil perdido, Manifesto de Passagem – 12 Passos em Direção à Luz, Vai te Catar! e Cindi Hip-Hop – Pequena Ópera Rap.

Em 2009, o Núcleo iniciou Pajelança de Kuarup no Congá, que depois de quase três anos de intensa pesquisa resulta no espetáculo Orfeu Mestiço, uma Hip-Hópera Brasileira.

Antígona Recortada estreou em 2013 e em 2014, BadeRna, último espetáculo realizado na sede do grupo, que foi demolida pela Ink Incorporadora e todos seus associados.

No Teatro de Arena Eugênio Kusnet, realizou a Ocupação Arena Urbana – De onde viemos, para onde voltamos (em 2015) que contou com a temporada de três obras inéditas: Memórias Impressas, Olhos Serrados e 1, 2, 3 – Quando acaba começa tudo outra vez (que marcou a incursão do grupo no universo do teatro infantil).

Em maio de 2016, estreou Cassandra – Na calada da voz, uma performance teatral, trazendo à luz a violência infringida através dos tempos ao discurso feminino.

Além dos espetáculos, o Núcleo criou vários projetos, em 2008, ZAP! Zona Autônoma da Palavra, o primeiro poetry slam (campeonato de poesia) brasileiro, que deu origem ao SLAM SP e ao SLAM BR e, em 2009, DCC – Dramaturgia Concisa e Contemporânea, um espaço dedicado à criação e debate sobre produção de textos cênicos curtos e inéditos.

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Foto: Sergio Silva

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