Produzido e gravado pelo multiartista durante o período mais severo de isolamento social, novo trabalho traz reflexão sobre as conexões com o passado e a relação com sua filha…
Conectar-se ao passado pode fortalecer os laços com o presente. Esse é o ponto de partida do clipe de “Um Dia Só”, o primeiro da carreira de um dos compositores mais atuantes e influentes da nova cena da MPB, Marcelo Fedrá. A novidade, disponível no Youtube e nas redes sociais do multiartista, vem da canção composta por ele em parceria com Renato Frazão, que integra o seu álbum solo inaugural, “Gravidades”.
A relação do homem com o tempo é assunto central da letra da música, que, entrelaçada ao clipe, conta a história familiar de Fedrá através da casa em que vive há 15 anos, onde já viveram seus bisavós, avós e seu pai. Passando por várias etapas, como a morte da sua avó, os anos da casa vazia, a sua deterioração e renascimento, ele se aproveita dessa temática para criar um paralelo entre o legado deixado por sua avó e a renovação despertada por sua filha, Lavínia Fedrá, de 6 anos, protagonista do clipe.
Todas as imagens foram capturadas pelo próprio artista em 2020, no período de confinamento máximo por conta da pandemia de Covid-19. Cinco meses ininterruptos que representam o maior convívio com sua filha, sem os escapes da vida cotidiana, que divide essa relação com atividades escolares, sociais, de trabalho, entre outras. Nesse contexto, ele transcende a relação primária de cantor e compositor da canção para ser também realizador do clipe em todas as suas etapas, do desenvolvimento do roteiro, do texto introdutório, até a edição do clipe.
– Eu vivo há 15 anos nessa casa onde viveram meus avós, meu pai e onde agora vive minha filha. Quanto mais eu cuido da casa, mais amo minha avó. Um amor que se dá através da vida que dela restou. Nessa casa, viveram também meu tio e seus 2 quadros que jamais saíram daqui. Meu tio não era pintor, mas pintou dois quadros em 1968. Eu adoro fazer parte dessa história familiar e, ainda que meu pai não trate sobre isso, sei que sente como eu – recorda.
Reflexões sobre a paternidade
A experiência da paternidade é o elemento condutor de “Gravidades”, primeiro álbum solo de Fedrá. Após lançar três projetos coletivos, “Mundo Grande”, de 2012, “Ás, Nove”, de 2016, e “O Bem do Tempo”, de 2018, no novo trabalho, o cantor e compositor apresenta reflexões sobre as questões existenciais que acompanham os diferentes cenários da vida. Com melodias que propiciam uma imersão intuitiva, ele cria um eixo central capaz de alinhar todo repertório, que começou a ser desenvolvido no final de 2014, pouco antes de saber que seria pai.
– A partir dessa experiência, percebi que a ideia simbólica em torno da palavra ‘gravidade’, que remete ao macro, serviu precisamente para remeter o micro quando percebi na minha filha, no feto, meu principal eixo centralizador. Corrobora a ideia de que íntimo e externo, micro e macro são facetas mais próximas do que parecem – reflete.
O álbum apresenta nove faixas que ganharam notoriedade nas vozes de diversos intérpretes, como “Sem Palavra”, vencedora do festival “TOCA > Toda Canção”, prêmio que rendeu um dueto com o cantor e compositor Pedro Luís. Das 9 faixas do disco, 8 já foram impressas pelas vozes de intérpretes da sua geração. Além disso, conta com nomes de peso da cena musical. Elísio Freitas é o diretor musical e toca guitarra em todas as faixas com André Vasconcellos no baixo, Lucio Vieira na bateria, Bernardo Aguiar na percussão e Yuri Villar na flauta e no saxofone. O repertório compreende apenas canções em parceria e reúne os autores Renato Frazão, Thiago Amud, Demarca, Thiago Thiago de Mello e Mauro Aguiar. A galeria de participações especiais é composta pelos talentos de Cesar Lacerda, Pedro Sá Morais e Juliana Linhares, Ilessi, Marcela Mangabeira, Luisa Lacerda, Pedro Ivo Frota, Thiago Thiago de Mello e Renato Frazão.
Início no mundo do samba e faceta cinematográfica
A trajetória artística de Fedrá vem sendo construída há mais de duas décadas. Carioca, começou a tocar violão de forma intuitiva aos 16 anos e já aos 17 tocava na noite, em grupos de pagode e samba. Conviveu com esse universo de forma intensa e definitiva, dividindo o palco com figuras importantes como Jamelão e Neguinho da Beija-Flor. Na universidade, teve um contato definitivo e transformador com a MPB, a música erudita e aqueles que seriam seus principais parceiros musicais, estabelecendo-o como poeta e compositor.
Além de ser autor de todas as canções dos seus quatro projetos autorais, colabora ativamente na consolidação da obra de diversos intérpretes com dezenas de suas canções gravadas, sendo algumas títulos de álbuns, como “Flor”, de Daíra Saboia, “Paisagem Invisível”, de Deya Mota, e “Mundo Afora: Meada”, de Ilessi. Convidado a compor para o projeto “Músicas Para Saudar Jorge Amado”, da Orquestra Revelia, foi tema da revista “Sala 126”, da editora Multifoco, publicação que compreendeu entrevista, biografia e um CD gravado ao vivo.
Foi gravado por uma galeria extensa de artistas, como Ilessi, Pietá, Dorina, Nelson Angelo e Novelli, Muato, Aline Paes, Paula Santoro entre outros, e parcerias marcantes com Pedro Luís, Maurício Detoni, Marília Schanuel, Demarca, Raquel Reis e Diogo Tomás. Multifacetado, atua também na cinematografia com a sua produtora, a EFEDRA, que já realizou mais de 500 produções desde 2013.
Instagram: @marcelofedra
Foto Marcelo Fedrá e sua filha, Lavínia: acervo pessoal do artista
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