Teatro da Conspiração chega ao TUSP com peça sobre história trágica de 50 órfãos do Brasil

Com uma proposta que busca refletir questões da sociedade brasileira, o Teatro da Conspiração apresenta seu novo espetáculo: Tão Somente Meninos…

 

 

 

A montagem faz uma reflexão sobre uma história tenebrosa do Brasil envolvendo a trajetória real de 50 meninos órfãos e o uso de trabalhos forçados em fazendas de membros da Ação Integralista Brasileira. A estreia acontece na sexta-feira, 27 de maio, às 21h, no TUSP. A dramaturgia é de Solange Dias e a direção é de Cássio Castelan. No elenco, estão Alessandra Moreira, Dudu Oliveira, Edi Cardoso e Márcio Ribeiro. A temporada é de quinta a domingo: quinta a sábado, às 21h, e domingos, às 19h, até 26 de junho. Os ingressos podem ser reservados pelo Sympla.

A trama traz um encontro de 50 “meninos velhos” em volta de um poço, onde história, desejos, medos e sonhos dessas vidas são colocados à tona. Para a criação da dramaturgia, o coletivo se inspirou na tese de doutorado Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-45)”, defendida em 2011 pelo professor e historiador Sidney Aguilar Filho na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, baseada na investigação de farta documentação e entrevistas com pessoas que tiveram envolvimento direto ou indireto com o episódio dos meninos, inclusive três sobreviventes, que na época da pesquisa, estavam beirando os 90 anos de idade.

 

 

“Os meninos simplesmente não tinham nome, eram chamados por números e sofreram um processo de desumanização. No espetáculo criamos um encontro ficcional e mágico entre eles e fizemos questão de resgatar seus nomes: Miro, Zequinha, Zico e Olímpio representam a vida dos 50 órfãos, trazendo uma reflexão sobre suas dores, permeando momentos poéticos e lúdicos. Apesar de ser algo que ocorreu entre as décadas de 30 e 40 do século passado, a trama é uma luz ao que acontece atualmente no Brasil com os discursos de meritocracia, de desqualificação da vida, racismo e autoritarismo”, conta Solange Dias.

A história de 50 meninos órfãos é real: eles tinham de nove a onze anos e a maioria negros. Todos foram retirados do Educandário Romão de Mattos Duarte (Rio de Janeiro), sob a guarda do Juizado de Menores do Distrito Federal, e levados para uma propriedade privada em Campina do Monte Alegre (São Paulo). Por uma década, essas crianças foram submetidas, sem nenhuma remuneração, nem estudo, a uma condição sub-humana em longas jornadas de trabalho agrícola e pecuário, em fazendas de membros da Ação Integralista Brasileira, um movimento político brasileiro ultranacionalista, conservador e tradicionalista católico de extrema-direita, inspirado no fascismo italiano e no nazismo alemão.

Com uma dramaturgia poética, a peça conta com quatro intérpretes que narram as histórias de seus personagens, variando entre os tempos de infância e da velhice. O cenário traz poucos elementos e vai para uma linha não-realista, onírica, ao simbolizar um poço, espaço em que muitos dos órfãos eram colocados de castigo como forma de punição.

O espetáculo é centrado no trabalho do elenco utilizando elementos do teatro dança e partituras de ação. A música também tem papel importante ao mostrar as camadas dos personagens a partir de canções tradicionais infantis e cantos de trabalho que ditam o ritmo árduo do dia a dia.

Para a criação do espetáculo, foram utilizadas também outras referências. “Nos inspiramos em várias fontes da realidade brasileira, de uma sociedade que subjuga os corpos na exploração do trabalho, em uma época em que ainda temos notícias de trabalhos em situação de semiescravidão. O sistema de opressão e as questões históricas estão em evidência na montagem, em que arte nos faz olhar e refletir sobre as nossas feridas”, enfatiza a dramaturga.

A montagem foi selecionada no PROAC 01/20 na categoria produção e temporada de espetáculos inéditos de teatro. Consequentemente, realizou uma temporada online entre novembro/dezembro em 2021 em parceria com Oficina de Atores Nilton Travesso, Cia do Nó (Santo André), Cia. Do Flores (São Bernardo do Campo), Cia. Feijamkarroz (Ribeirão Pires), Cia. Quartum Crescente e Cia. Cordelística (Mauá), e Estação Cultura de São Caetano do Sul.

Ficha Técnica
Dramaturgia: Solange Dias
Direção: Cássio Castelan
Elenco: Alessandra Moreira, Dudu Oliveira, Edi Cardoso e Márcio Ribeiro
Stand-by: André Pastore e Denise Guilherme
Direção Musical: Letícia Góes
Direção de Movimento: André Pastore
Cenários e Figurinos: Guto Togniazzolo
Iluminação: Mauro Martorelli
Operação de luz: Mauro Martorelli e Cassio Castelan
Operação de som: Cassio Castelan
Produção audiovisual: Rolo B. Cine
Registro em foto: Arô Ribeiro e Léo Xymox
Arte Gráfica: Pedro Penafiel
Produção: Maju Tóffuli
Assessoria de Imprensa e Redes Sociais: Renato Fernandes.

 

 

 

 

 

 

 

Tão Somente Meninos
TUSP
Rua Maria Antônia, 294, Consolação (650m da Estação Higienópolis-Mackenzie, aprox. 1km das estações Santa Cecília e República)
Temporada: 27 de Maio a 26 de Junho
Quinta a domingo, quinta a sábado, às 21h
Domingos, às 19h
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 30,00 (Inteira) e R$ 15,00 (Meia)
Vendas: Sympla 

 

Teatro da Conspiração
O Teatro da Conspiração, ao longo de seus 20 anos de existência, vem se consolidando como um coletivo na busca de um rigor técnico do trabalho do intérprete e da construção da cena, além do aprimoramento da escrita de dramaturgias inéditas em produções de diferentes formatos e estéticas.

Em seu repertório investigam-se diversas temáticas, entre elas, a história recente do país em Geração 80 (2002) e Tito – É melhor morrer do que perder a vida (2007), questões sociopolíticas em Cantos Periféricos (2003), o infantil A Princesa e a Costureira (2016) e o juvenil Os Livros de Jonas (2018).

Foto Arô Ribeiro

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