Com direção do português Paulo Campos dos Reis, o texto revela um personagem de um ator que, depois de ter sido recusado para um papel no filme sobre o escritor, resolve criar uma peça na qual mistura sua obra e vida. A estreia da temporada brasileira acontece dia 1º de agosto, no auditório da Biblioteca Mário de Andrade…
A peça integra as comemorações oficiais do Centenário do Nascimento de José Saramago, vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1998, promovidas pela Fundação Saramago, em Lisboa, com apresentações nos dias 29 e 30 de setembro e 01 de outubro
Provavelmente Saramago é um solo inédito interpretado por Vinícius Piedade cuja trama gira em torno de um ator que, depois de ser preterido num casting para um filme sobre Saramago, resolve montar um espetáculo teatral no qual, ao mesmo tempo que revela a sua decepção com o cinema, partilha, com o público, as suas interpretações sobre a vida e obra de Saramago. Na direção de Paulo Campos dos Reis, a cada nova tentativa de adaptação cênica, o ator revê suas ideias e tramas, cruzando ficção e realidade em um labiríntico jogo de espelhos.
A estreia acontece dia 1º de agosto, no Auditório da Biblioteca Mário de Andrade, e segue até dia 29, sempre às segundas-feiras, às 19h. No fim de setembro e início de outubro, o trabalho se apresenta na Fundação Saramago, em Lisboa, como parte das comemorações do centenário do escritor português – é o único espetáculo brasileiro a fazer parte da efeméride.
No texto, assinado em parceria entre Vinícius Piedade (Brasil) e Paulo Campos dos Reis (Portugal) – atores, encenadores e dramaturgos (como o personagem do espetáculo) –, o ficcional e o documental se misturam e procuram um diálogo com José Saramago com o objetivo de refletir, hoje, sobre a recepção da sua obra. A partir dessa ideia, os dois artistas colocam a questão: “Como nos posicionamos como artistas, como cidadãos, como seres humanos em relação a sua mundividência e convicções? Eis a pergunta a que Provavelmente Saramago tenta (ensaia) responder.”
“A ausência da quarta parede estabelece uma relação dialógica entre o ator e o público, pedindo de empréstimo, à gramática da verosimilhança do teatro documental, o emprego de um registo de discurso autobiográfico. Ilusório, todavia. Ou parcialmente. O relato do sujeito da enunciação mistura realidade e ficção estabelecendo a figura do ator como uma personagem metateatral. Este dispositivo de credibilização do discurso permite, por outro lado, a mais valia de sintetizar e de fazer ressoar, num só ator, as palavras de tantos outros, especialmente quando este se refere a determinado passo, com verrinosa ironia, aos estereótipos associados à profissão”, revela o diretor Paulo Campos dos Reis.
O ator Vinícius Piedade completa que o espetáculo, por meio do exemplo de Saramago, associa o ato de criação artística à ideia de trabalho e de resiliência – a consolidação do seu percurso como romancista começará, pouco ortodoxamente, depois dos sessenta anos de vida. Em contraponto, o espetáculo respinga e valoriza aspectos da sua anterior “extraordinária biografia ordinária”.
Ponto de Partida
Provavelmente Saramago nasceu do encontro de dois criadores teatrais da lusofonia: Paulo Campos dos Reis (diretor português) e Vinícius Piedade (intérprete brasileiro). Os artistas, que se conheceram e se reencontraram em diferentes Festivais de Teatro lusófonos (em Angola, em Cabo Verde e em Portugal), logo perceberam que a conexão artística viria pela obra do escritor, referência para ambos. E desse anseio teatral/literário nasceu a ideia da coprodução.
Paulo e Vinícius, que assinam o roteiro/texto/dramaturgia, constroem um espetáculo teatral que poderia definir-se como eles mesmo dizem “o modo como um leitor dialoga pessoal e intimamente com uma persona e obras literárias”.
“O resultado é, ao mesmo tempo, uma celebração da obra de Saramago e uma confirmação do profundo impacto que a sua vida e obra causam na experiência de quem o descobre”, diz Vinícius Piedade.
Um retrato provável
Em cena, o ator interpela o público e fala da sua experiência profissional e do seu desejo irresistível de compor um espetáculo sobre a figura de Saramago e sua obra. A tarefa, no entanto, resulta difícil de concretizar; quanto mais fundo pesquisa e lê, mais pontos de contato encontra entre a sua biografia e os temas que o “dossiê Saramago” convoca. Em tudo, a sua mundividência se identifica com a de Saramago e a todo o instante se apropria de Saramago para falar de si mesmo.
Com o público, o ator vai partilhando as suas diversas possibilidades de mise-en-scène – ensaiando, por exemplo, adaptações de excertos dos romances de Saramago – sem, no entanto, se contentar com o resultado de nenhuma. “Para justificar a sua permanente deriva, aponta para ideia de que Saramago é tão prolixo que qualquer retrato que se lhe queira fixar nunca será senão pessoal e intransmissível; será sempre, apenas, um ‘retrato provável’”, revelam os autores.
“No palco, a cena é praticamente enxuta de elementos cênicos. Será este espaço despojado (e, deste modo, pronto e aberto para o jogo das possibilidades) que o ator/contador preencherá com o seu José Saramago pessoal, representado. Aqui, quando cenas sínteses evocam alguns romances de Saramago, a encenação privilegia a criação de imagens simples e depuradas que convidam o espectador para um jogo simbólico e de imaginação”, finaliza o diretor.
Ficha artística e técnica
Texto: Paulo Campos dos Reis e Vinícius Piedade
Direção: Paulo Campos dos Reis
Interpretação: Vinícius Piedade
Iluminação: Paulo Campos dos Reis e Vinícius Piedade
Figurino: Piedad (Ana Maria Piedade)
Fotografia: Danilo Ferrara
Vídeo: Nara Ferriani
Design gráfico: Pedro Velho
Operação de som e luz: Márcio Baptista
Direção de Produção: Ricardo Soares (Portugal) Vinícius Piedade (Brasil)
Coprodução: Vinícius Piedade (Brasil) e Musgo Produção Cultural (Portugal)
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto (Márcia Marques)
Provavelmente Saramago
Biblioteca Mário de Andrade
Rua da Consolação, 94 – República
De 01 a 29 de agosto de 2022, todas as segundas-feiras, às 19h
Entrada gratuita (retirar ingressos uma hora antes)
Duração: 70 minutos
Classificação: 12 anos
Vinícius Piedade
É ator, diretor e escritor. Autor dos livros Trabalhadores de Domingo (contos), Essas Moças que me Causam Vertigens (contos), Meu Mundo Irreal (contos), 4 Estações (dramaturgia), Identidade (dramaturgia) e Cárcere (dramaturgia). Escreveu e dirigiu ao lado de Roberto Skora o longa-metragem Lasanha de Berinjela premiado em mais de quinze festivais pelo mundo. Criou ao lado de Evas Carretero o projeto Take Único, uma websérie com episódios independentes sempre em plano-sequência. Desenvolve uma pesquisa continuada em teatro solo, tendo criado cinco espetáculos, como Carta de um Pirata, Cárcere e Hamlet Cancelado. Com seus espetáculos em repertório, já percorreu todas as regiões do Brasil e outros vinte países, como Índia, China, EUA, Alemanha, França, Turquia, Espanha, Portugal, Rússia, Lituânia, Angola e Argentina.
Paulo Campos dos Reis
Encenador, escritor de cena e programador cultural. É diretor artístico do colectivo Musgo Produção Cultural, de Sintra. Frequentou o mestrado de Artes Performativas – Escritas de Cena, na Escola Superior de Teatro e Cinema, Portugal. Tem um Curso de Encenação de Teatro Musical, ministrado por Gottfried Wagner, na Associação Internacional de Música da Costa do Estoril. Ultimamente, vem dirigindo espetáculos de teatro com textos de autores portugueses/de língua portuguesa (sobretudo), em Portugal e em contexto internacional – Angola, Brasil, Cabo Verde e Macau. Programador de “Culto”, série audiovisual que mescla poesia, dança contemporânea e música, em Oeiras e na RTP Palco. É autor de “Autógrafo Seguido de Autocolantes” (Quasi) e “Habilitações Literárias” (Volta d’mar), ambos de poesia/prosa.
Musgo Produção Cultural
A Musgo é uma estrutura de criação teatral fundada em Sintra, Portugal, em 2012. Tem um apoio anual da Câmara Municipal de Sintra e da Fundação Cultursintra e apoios pontuais da DGArtes – Ministério da Cultura. Possui, atualmente, cinco eixos de programação: 1) produção própria: apresentação de espetáculos de teatro de repertório dramatúrgico sobretudo em língua portuguesa; 2) co-produções com outras estruturas de criação; 3) internacionalização: co-organiza o Festival Salencena, Cabo Verde, e apresenta espetáculos em contexto internacional (Angola, Brasil, Cabo Verde e Macau) com o apoio do Instituto Camões ou outras instituições ou estruturas de criação; 4) Formação escolar: dá formação em contexto de trabalho (estágio profissional) a alunos de teatro. 5) Edição «Musgo Livro», revista/livro que reúne material dramatúrgico sobre o seu reportório (imagens ou textos informativos, literários e ensaísticos inéditos) – disponível aqui: www.musgo.org.pt.
Foto: Danilo Ferrara
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