Coletivo dos Anjos convida a refletir sobre contradições sociais e raciais em espetáculo que faz circulação pela cidade de São Paulo

Com idealização de Eder dos Anjos, direção de Aysha Nascimento e dramaturgia de Victor Nóvoa, espetáculo é livremente inspirado em ‘Esperando Godot’ e cria reflexões sobre as contradições sociais e raciais brasileiras…

 

 

 

 

Tendo como ponto de partida a premissa proposta pelo dramaturgo irlandês Samuel Beckett em Esperando Godot, o Coletivo dos Anjos cria uma série de reflexões sobre as lutas das pessoas pretas e as contradições sociais e raciais brasileiras em A Fuzarca dos Descalços. Com direção de Aysha Nascimento e a dramaturgia assinada por Victor Nóvoa, o trabalho foi idealizado por Eder dos Anjos, que está em cena ao lado de Salloma Salomão e dos músicos Ito Alves e Juh Vieira, que tocam ao vivo a trilha sonora em diálogo constante com a dramaturgia.

O projeto foi selecionado no 24º Cultura Inglesa Festival para sua criação em 2019, agora retorna a cena circulando pela Cidade de São Paulo, em apresentações gratuitas, através da 17ª Edição do Prêmio Zé Renato. As primeiras apresentações acontecem no Teatro Flávio Império (dias 3 e 4/02); Teatro Arthur Azevedo (dias 7 e 8/02); Teatro Cacilda Becker (dias 14 e 15/02) e Teatro Alfredo Mesquita (dias 24 e 25/02).

Na trama, Atsu e Baakir estão do outro lado da cerca. Eles não sabem se estão presos ou do lado de fora, apartados de um mundo ao qual não têm nenhum acesso. Ambos são corpos marginalizados que compartilham sonhos, cicatrizes e dores. Mesmo nas situações mais violentas e oníricas, eles permanecem juntos, tentando compreender e romper com tudo aquilo que os segrega da sociedade.

A peça é apenas livremente inspirada na obra de Beckett, já que tem como proposta romper com o pensamento niilista do pós-guerra ocidental, fortemente presente no texto original. Para isso, a nova dramaturgia problematiza essa questão da espera, partindo da premissa de que a população negra não tem esse privilégio de aguardar por algo inalcançável.

À medida que coloca em cena dois personagens masculinos de idades bem diferentes, Fuzarca dos Descalços também trata da questão da afetividade negra e da importância da polifonia na construção de um novo processo de humanização desses corpos. “A encenação vai trazer o lugar do amor, em que dois homens possam ter um diálogo e uma reflexão sobre o afeto, possam ser afetuosos um com o outro para além da sua sexualidade. E, para falar sobre essa questão da masculinidade negra, uma referência muito importante para mim foi o livro Representação e Raça, da Bell Hooks”, conta Aysha.

Outros temas discutidos pelo espetáculo são as possibilidades de reconstrução dos povos negros, as relações sociais que se estabelecem com a negritude e como as pessoas precisam construir juntas uma nova nação. E, para acentuar esse efeito de empatia e espelhamento no público, os espectadores precisam tirar os sapatos ao entrar na apresentação e ficar descalços, tal como os personagens. E os calçados da plateia também são ressignificados de diversas formas ao longo da montagem.

Ficha Técnica
Idealização, concepção e direção geral: Eder dos Anjos. Direção Artística: Aysha Nascimento. Dramaturgia:Victor Nóvoa. Elenco: Eder dos Anjos e Salloma Salomão. Músicos em cena: Juh Vieira e Ito Alves. Musicista Stand-in: Carla Ribeiro. Iluminação: Danielle Meireles. Cenografia e figurino: Thays do Vale. Designer gráficos:Cesar Kcha e Lucas Souza. Operação de som: João Hsia. Contraregra: Renan Vinícius. Fotos: Amanda Barreto. Logística: Thiago Soares. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Produção executiva: Gabriela Morato. Coordenação de produção: Cícero Andrade. Realização: Coletivo dos Anjos e Prêmio Zé Renato, Secretaria Municipal de Cultura.

 

 

 

 

 

 

 

 

A Fuzarca dos Descalços
Duração: 60 minutos
Classificação etária: 12 anos
Ingressos: Gratuito, com retirada de ingressos na bilheteria 1 hora antes do espetáculo.

 

Teatro Flávio Império
R. Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaiba, São Paulo
Telefone: (11) 2621-2719
Dias 3 e 4 de fevereiro de 2024
Sábado, às 20h e domingo, às 18h.

Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo
Telefone: (11) 2604-5558
Dias 7 e 8 de fevereiro de 2024
Quarta e quinta, às 21h.

Teatro Cacilda Becker
R. Tito, 295 – Lapa, São Paulo
Telefone: (11) 3864-4513
Dias 14 e 15 de fevereiro de 2024
Quarta e quinta, às 21h.

Teatro Alfredo Mesquita
Av. Santos Dumont, 1770 – Santana, São Paulo
Telefone: (11) 2221-3657
Dias 24 e 25 de fevereiro de 2024
Sábado, às 21h e domingo, às 19h,

 

Sobre o Coletivo dos Anjos
Criado em 2014 na cidade de Jandira, o Coletivo dos Anjos trabalha a partir de duas frentes de pesquisa. A primeira delas busca dar voz a personagens e histórias que, de alguma, forma representam figuras que estão à margem de algo, assim como a própria cidade de Jandira está à margem da capital. A segunda vertente tem como proposta levar à população textos baseados em obras de grandes autores da literatura e dramaturgia clássica universal, trazendo também novas referências vindas de diretores conhecidos do cenário teatral nacional.

A primeira montagem do grupo foi A Gaivota (2014), de Anton Tchekhov. Com direção de Diego Mosckhovich, a encenação usou a voz do personagem Treplev para discutir, através de sua insatisfação com as formas estabelecidas e sua indignação com a espetacularização, o lugar da arte e o ofício do artista. Em seu segundo projeto, intitulado Ser tão seco – rapsódia Graciliana em um ato e uma andança (2015), com direção de Luiz Carlos Laranjeiras, o coletivo se aprofundou na obra Vidas Secas, do grande escritor Graciliano Ramos. A encenação, em formato para a rua, trouxe à tona a história de luta de uma família migrando de um lugar para o outro, buscando sobreviver em meio a um mundo injusto, revelando também histórias de pessoas que vieram de outras cidades para morar em Jandira.

Em 2017, o coletivo realizou seu terceiro espetáculo, Sobre Meninos e Pipas, com direção de Karen Menatti, da Cia do Tijolo. Em cena, quatro atores e dois músicos contam algumas histórias sobre meninos e meninas que questionam os regulamentos, assim como histórias em que a manutenção das regras vigentes é repetida. Através de um suposto mundo imaginado, os atores criaram, a partir do texto Aquele que diz sim, de Bertold Brecht, um espetáculo que convida o público a refletir se é realmente possível subverter alguma regra pré-estabelecida.

 

Foto: Amanda Barreto

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