Sucesso de público e de crítica, Um Inimigo do Povo, de Ibsen, faz sessões gratuitas em São Paulo

A peça desembarca para apresentações no Teatro Paulo Eiró, Teatro Alfredo Mesquita e Teatro Cacilda Becker. Em 2022, a montagem teve indicações ao Prêmio Shell nas categorias de Melhor Direção para José Fernando Peixoto de Azevedo; Melhor Atriz para Clara Carvalho; e indicação da APCA como Melhor Ator para Rogério Brito…

 

 

 

 

 

Recentemente, José Fernando Peixoto de Azevedo foi indicado ao Prêmio Shell com o espetáculo Ensaio Sobre o Terror

Com uma radicalização das questões políticas propostas pelo clássico teatral Um Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen (1828-1906), José Fernando Peixoto de Azevedo se inspira no cinema para uma montagem mais moderna para a obra do dramaturgo norueguês. O espetáculo parte para 24 sessões gratuitas em teatros municipais, a partir de março de 2024: Teatro Paulo Eiró (De 14 a 31 de março), Teatro Alfredo Mesquita (De 4 a 14 de abril) e Teatro Cacilda Becker (De 18 a 21 de abril). As sessões são sempre quintas, sextas e sábados, às 20h30, e domingos, às 19h.

O elenco é formado por Angela Ribeiro, Augusto Pompeo, Cesar Baccan, Lilia Regina, Lucas Scalco, Raphael Garcia, Rodrigo Scarpelli, Rogério Brito, Sérgio Mastropasqua e Thiago Liguori.

Com uma crítica extremamente atual, o texto de Ibsen acompanha o drama do médico Thomas Stockmann, que é ameaçado pelos interesses econômicos e a corrupção do poder público ao descobrir e denunciar que as águas de sua cidade – cuja principal atividade é um balneário e termas – estão contaminadas.

O anúncio gera um enorme conflito quando os empresários locais mobilizam, com apoio da imprensa, a opinião pública contra o protagonista, transformando o herói da cidade em um inimigo do povo – a massa forjada nos confrontos de poder. E tudo ganha uma proporção ainda maior porque ele é irmão do prefeito e casado com a filha adotiva de um grande empresário.

A encenação de José Fernando Peixoto de Azevedo acentua a exposição pública do médico fazendo com que o episódio ganhe ares de terror. Para contribuir com essa atmosfera, o trabalho tem como referência cinematográfica o clássico A Noite dos Mortos Vivos (1968), do estadunidense George A. Romero, que traz um protagonista negro tentando sobreviver em um país onde as pessoas da classe média branca se transformam em zumbis, por conta de uma epidemia. Nessa sociedade armada e organizada em milícias, que quer eliminar a todo custo os mortos-vivos, o personagem vivido pelo ator Duane Jones acaba “confundido” com uma das criaturas e é assassinado.

E o diálogo com o audiovisual não para por aí. Assim como em outros trabalhos dirigidos por Azevedo, como a bem-sucedida montagem de As Mãos Sujas (2019), de Sartre, a nova peça traz para o palco um dispositivo em que a câmera contracena com os atores, desdobrando-se na materialidade da imagem, em jogo.

A discussão proposta pelo dramaturgo norueguês ainda é radicalizada pela presença de atores negros no elenco –, trazendo para a cena a dimensão dos conflitos raciais que nos tomam no tempo presente e também contribui para a discussão sobre a presença de artistas negros no teatro brasileiro.

“A racialização dos corpos em cena potencializa, certamente, aspectos de um debate sobre as dimensões do racismo no Brasil, e nos faz ver que a trajetória de mobilidade social numa sociedade em que a violência é estrutural, quase sempre é vivida como um filme terror. A pandemia apenas evidenciou esse teor, quando cada vez mais vimos o sentido efetivo de uma sociedade confinada: aqui, desde sempre, populações inteiras são marcadas, cercadas e alvejadas pela violência do Estado a serviço do capital; cercadas e assassinadas ao vivo”, comenta o diretor.

Todas essas questões são acentuadas pelo impacto do momento em que vivemos, já que a contaminação das águas proposta pela peça escrita em 1882 pode ser facilmente comparada à pandemia de Covid-19 e as nefastas disputas políticas e econômicas em torno da catástrofe, diariamente televisionadas. Sucesso de público e crítica, o espetáculo fez temporada no Teatro Aliança Francesa, Itaú Cultural e Festival Mirada.

 

Sinopse
Um médico se vê em meio a uma trama de interesses econômicos e corrupção, quando descobre a contaminação das águas, numa cidade que vive de seu balneário e termas. As disputas se desdobram num conflito a um só tempo particular e público.

Ficha Técnica
Texto: Henrik Ibsen
Tradução: Pedro Mantiqueira
Revisão de tradução: Karl Erik Schøllhammer
Dispositivo de cena e Direção: José Fernando Peixoto de Azevedo
Elenco: Angela Ribeiro, Augusto Pompeo, Cesar Baccan, Lilia Regina, Lucas Scalco, Raphael Garcia, Rodrigo Scarpelli, Rogério Brito, Sérgio Mastropasqua e Thiago Liguori
“Ponto” em jogo: Tatah Cardozo
Direção Musical e Live-Electronics: Thiago Liguori
Câmera e edição de imagens: André Voulgaris
Desenho de luz: Gabriel Greghi e Wagner Pinto
Figurino: Anne Cerutti
Assistente de Direção: Lucas Scalco
Preparação corporal: Tarina Quelho
Cenotécnico: Douglas Caldas
Operador de luz: Gabriel Greghi e Jonas Ribeiro
Fotos: Ronaldo Gutierrez
Programador Visual: Rafael Oliveira
Operação de Luz: Guilherme Orro
Operador de Som: Silney Marcondes
Relações Públicas: Cynthia Rabinovitz
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes
Estágio de direção: Tatah Cardozo
Diretor de Produção: Cesar Baccan
Produtor Executivo: Marcelo Ullmann
Assistente de Produção: Lúcia Rosa e Rebeca Oliveira
Produção e Realização: Baccan Produções e Kavaná Produções

 

 

 

 

 

Um Inimigo do Povo
Horários: Quintas, sextas e sábados, às 20h30, e domingos, às 19h.
Ingressos gratuitos. Reserve pelo sympla ou retire uma hora antes da peça na bilheteria.
Sympla: https://www.sympla.com.br/evento/um-inimigo-do-povo/2353002
Duração: 160 minutos, com um intervalo de 10 minutos
Classificação: 12 anos

Teatro Paulo Eiró
Av. Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro – São Paulo (Próximo ao metrô Adolfo Pinheiro, linha lilás)
Telefone: (11) 5546-0449
De 14 a 31 de março

Teatro Alfredo Mesquita
Av. Santos Dumont, 1770 – Santana – São Paulo
Telefone: (11) 2221-3657
De 04 a 14 de abril
Estacionamento gratuito no local.

Teatro Cacilda Becker
R. Tito, 295 – Lapa, São Paulo
Telefone: (11) 3864-4513
De 18 a 21 de abril

 

Foto: Ronaldo Gutierrez

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