A montagem do clássico de Garcia Lorca estreou no Sesc e comemora os 35 anos da companhia…
A Casa de Bernarda Alba, espetáculo escolhido pelo grupo Os Satyros para celebrar a sua (r)existência de 35 anos, chega ao espaço da companhia, na Praça Roosevelt, para temporada de 31 de agosto a 10 de novembro, com sessões de quinta a domingo. A montagem teve sua estreia no Sesc 14 Bis no final de julho. A peça escrita pelo renomado dramaturgo espanhol Federico García Lorca, concluída em 1936, poucos meses antes de sua morte, trata da obra e vida de Bernarda Alba, uma mulher autoritária e controladora, que vive com suas cinco filhas em uma casa na Espanha rural, após a morte de seu segundo marido, que desencadeia, um período de luto de oito anos.
Durante este tempo, as mulheres são proibidas de sair de casa ou se relacionar com homens, tornando o ambiente opressivo. Esta série de tensões é o pano de fundo para rivalidades e conflitos que surgem entre as irmãs que anseiam por liberdade e amor. O espetáculo conta com três formações, com as personagens sendo interpretadas por elenco somente feminino, somente masculino e misto, que se revezam ao longo da temporada, cada um apresentando uma versão de elenco diferente e oferecendo uma perspectiva única sobre os temas abordados.
Este posicionamento sobre gêneros possibilita uma reinterpretação dos papéis das personagens, abrindo espaço para novas leituras sobre o enraizamento do patriarcado em nossa sociedade, proporcionando uma reflexão mais aprofundada sobre o conservadorismo, o machismo estrutural e o lugar imposto ao feminino. A montagem, sob direção de Rodolfo Garcia Vázquez, fundador da companhia, ao lado de Ivam Cabral, traz uma abordagem contemporânea à obra.
Sinopse
A Casa de Bernarda Alba mergulha nas complexidades das relações familiares e sociais, abordando assuntos como poder, repressão, desejo e liberdade. A peça tem direção de Rodolfo García Vázquez, co-fundador da companhia criada em 1989.
Ficha Técnica
Direção Artística: Rodolfo García Vázquez. Assistente de Direção: Renatto Moraes. Elenco: Alessandra Rinaldo, Alex de Felix, André Lu, Anna Paula Kuller, Augusto Luiz, Diego Ribeiro, Eduardo Chagas, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Gabriel Mello, Guilherme Andrade, Heyde Sayama, Isa Tucci, Isabela Cetraro, Julia Bobrow, Juliana Moraes, Karina Bastos, Luís Holiver, Mariana França, Neni Benavente, Raul Ribeiro, Tammy Aires, Vitor Camargo, Vitor Lins, Wil Campos. Pesquisa: Ivam Cabral. Tradução: Rodolfo García Vázquez. Adaptação: Ivam Cabral. Cenógrafo: Caio Rosa. Aderecista: Elisa Barboza. Iluminação: Flavio Duarte. Desenho de som: Thiago Capella e Felipe Zancanaro. Canções originais: André Lu. Trilha sonora original: Felipe Zancanaro. Voz off: Ivam Cabral. Berimbau gravado: Zé Vieira. Operação de luz: Flavio Duarte. Operação de som: Felipe Zancanaro. Técnicos de palco: Gabriel Cabeça e Jota Silva. Preparação vocal: André Lu. Direção de coreografia e flamenco: Neni Benavente. Figurino: Senac Lapa Faustolo /Curso livre de criação e desenvolvimento de figurino /Docentes: Maíra D. Pingo e Fábio Martinez/ Alunos:Beatriz Angelica Jacob Ferrazzi, Bruna Afonso de Oliveira, Catherine da Silva Mello Alves Branco, Cris Cordeiro, Daniela Aguiar, Gabriel Angelo Morgante de Caires, Gabriela Reis dos Santos, Isabela Cristina Nunes Favaron, Isaque Oliveira Magalhaes, Julia Lie Imamura, Karina Giannecchini Gonçalves, Levy Alves de Souza, Luana Freitas Prates, Luciano Santana Oliveira, Marcos Vinicius Araujo dos Santos, Natalia Giovenale, Vanessa Cardozo Teixeira, Yasmin Gaspar Martins Silva Santos. Produtor: Fabio Martins. ProdutoraAssistente: Maiara Cicut. Fotógrafo de perfil: André Stefano. Fotógrafo de cena: Cristiano Pepi. Idealização: Os Satyros.
A Casa de Bernarda Alba
Espaço dos Satyros
Praça Franklin Roosevelt, nº 214, Consolação – São Paulo
De 31 de agosto a 10 de setembro
De quinta a sábado, às 20h
Domingos, às 18h.
Sessões com acessibilidade em Libras e audiodescrição:
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$60,00 (inteira) / R$ 30,00 (meia) / R$ 5,00 (moradores da Praça Roosevelt)
Os Satyros, 35 anos de história
Para o filósofo alemão Boris Groys, o trabalho atual do artista contemporâneo é o seu currículo. Parece-me uma analogia perfeita para a produção teórica e artística de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, que hoje colige teatro, cinema, ativismo urbano, pedagogia e psicanálise.
Quando fundaram Os Satyros, em 1989, por mais sonhadores e workaholics que fossem, dificilmente poderiam imaginar que o coletivo iria produzir 145 espetáculos, a serem encenados em 36 países, que receberiam todos os prêmios nacionais e inúmeros internacionais, capitaneariam a criação de duas escolas, revitalizariam o histórico Cine Bijou. Tampouco que seriam processados pela Associação da Moral e dos Costumes Escoceses, chocada com radicalidade da montagem A Filosofia na Alcova no Festival de Edimburgo de 1993; ameaçados de morte por “atrapalhar” o movimento de traficantes na Praça Roosevelt do início do século; sufocados pela gentrificação que quase os expulsou da região que eles mesmos ajudaram a revitalizar. Foram muitas aventuras, experiências, histórias boas e ruins que consolidaram uma mitologia em torno do grupo.
O repertório da companhia é vasto, transitando por diversos gêneros: commedia dell’arte (Aventuras de Arlequim, 1989); teatro libertino (Sades ou Noites com os Professores Imorais, 1990); farsa (A Proposta, 1991); decadentismo (Saló, Salomé, 1991); pós-dramático (Hamlet-Machine, 1996); tragédia (Electra, 1997); simbolismo (Cosmogonia – Experimento nº 1, 2005); drama histórico (Liz, 2009); docudrama (Roberto Zucco, 2010); performatividade (Cabaret Stravaganza, 2011); metateatralidade épica (Inferno na Paisagem Belga, 2012), crítica social alegórica (Trilogia das Pessoas); matrizes identitárias (Cabaret Transperipatético, 2018); teatro digital (A Arte de Encarar o Medo, 2020), apenas para citar alguns exemplos.
Esses modelos, evidentemente, não representam índices estanques, mas, sim, expedientes ressignificados à luz das pesquisas do grupo, com foco, nas últimas duas décadas, seja em cena ou na produção intelectual de Cabral e Vázquez (por meio de livros e artigos), nas tipologias da narratividade, no teatro ciborgue e nas questões de gênero e decolonialidade.
Foto: Cristiano Pepi
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