Com direção e dramaturgia de Silvana Garcia, montagem do coletivo Damas Produções trata de diversos temas que orbitam a realidade das mulheres. Temporada no Teatro Cacilda Becker celebra o mês da visibilidade lésbica comemorado em agosto, além de seis anos de apresentações…
Tendo como ponto de partida a peça A Mais Forte, de August Strindberg, Senhora X, Senhorita Y propõe uma subversão do clássico e dá voz ao protagonismo da mulher. Sucesso de público e crítica em São Paulo, o espetáculo do coletivo Damas Produções faz uma circulação por seis cidades do interior do Estado de São Paulo, além da reestreia na capital paulista. Em São Paulo as apresentações gratuitas acontecem de 29 de agosto a 8 de setembro, quinta-feira a sábado às 21h e domingo às 19h, no Teatro Cacilda Becker. Logo após a sessão do dia 29 de agosto o elenco realiza um bate-papo com o público e no dia 31 de agosto, das 14h às 18h, as integrantes do coletivo ministram uma oficina teatral.
O espetáculo, que já passou por Cubatão, Ribeirão Preto e Pindamonhangaba, também faz apresentações em Bragança Paulista e Registro. A temporada itinerante acontece com apoio do Edital Lei Paulo Gustavo SP – Difusão Cultural.
Em Senhora X, Senhorita Y duas atrizes (Ana Paula Lopez e Sol Faganello), e uma performer sonora (Camila Couto), se lançam em um jogo pelo qual intercambiam diversos papéis, explorando com humor ácido as construções heteronormativas do feminino sugeridas por Strindberg. Indo mais longe: elas desafiam o autor pela exposição de um disparador imprevisto: o corpo lésbico reivindicando o protagonismo da cena.
Os espectadores, então, acompanham esse caleidoscópio de mulheres em uma sobreposição retórica de vozes. A ideia é colocá-las em cena sem julgamentos, abrindo espaço para a pluralidade de pensamentos. “É um jogo muito performativo. As atrizes Ana Paula Lopez e Sol Faganello transitam tanto entre papéis quanto entre si mesmas. Ou seja, tem momentos em que a voz é das atrizes e não das personagens”, detalha a performer sonora Camila Couto.
Os papéis das mulheres
Na peça A Mais Forte, Strindberg põe em confronto duas mulheres, a Senhora X e a Senhorita Y, porém dá voz apenas a uma delas, à mulher do lar, àquela que, mesmo supostamente traída, sai vitoriosa porque tem a seu favor a solidez da instituição do casamento; é ela quem serve e, ao mesmo tempo, domina o marido. Ambas são atrizes, porém, no texto, limitam-se aos papéis de mulher e amante, e só existem porque estão referidas a um homem.
Por ser um coletivo de mulheres, com convicção feminista, a Damas Produções se dispôs em confronto com a ficção strindberguiana. Senhora X, Senhorita Y não é a peça de Strindberg, e sim de uma paráfrase dela. A situação é similar, um mesmo cenário, uma mesma situação de início, mas, desta vez, Senhorita Y tem voz. Senhora X e Senhorita Y são duas mulheres que se opõem e se combinam, trocam constantemente de papéis, atravessando o tempo, falando delas na intimidade, mas também delas no mundo.
“Nós olhamos para o texto e entendemos que não queríamos montá-lo como o clássico. Nosso desejo era partir dele para questionar e revelar essas múltiplas vozes femininas que temos hoje em dia. Todos os embates que tivemos na sala de ensaio reverberaram na nossa dramaturgia”, aponta a atriz Sol Faganello.
A diretora e dramaturga Silvana Garcia explica que em Senhora X, Senhorita Y, as artistas se debruçaram sobre alguns dos papéis que a mulher desempenha na sociedade contemporânea, investigando aspectos muitas vezes contraditórios de sua inserção social e política, de seus investimentos afetivos e dos agenciamentos simbólicos que a cercam. “O foco é a construção do feminino – o feminino domesticado, subalterno – do modo como ele se revela por meio da relação entre mulheres. Para desafiar o autor ainda mais, rompemos o padrão da heteronormatividade trazendo para a cena o corpo lésbico: o universo da cena se amplia, já não são mais apenas duas, ou três, mas muitas vozes.”
Vozes plurais
Ao acompanhar Senhora X, que traz consigo o imaginário feminino conservador, e Senhorita Y, com a construção de uma mulher independente e feminista, numa sobreposição dialética de vozes, o público se depara com um imprevisto impensado por Strindberg, a afirmação por parte de uma das atrizes de que é lésbica e a mudança de perspectivas a partir desta afirmação: como continuar o jogo performativo e metateatral, falar sobre as expectativas sob o feminino depois de um corpo lésbico pedir o protagonismo na cena?
As cenas são costuradas com um humor ácido, debochado e ingênuo, uma marca do coletivo Damas Produções. Para o grupo, o riso aumenta a dimensão do problema, alertando o público para aquilo contra o qual devemos lutar. “O riso também é uma forma de nos identificarmos e nos desidentificarmos com as personagens rapidamente, de um jeito escorregadio”, afirma a atriz Ana Paula Lopez.
Senhora X, Senhorita Y trata de diversos temas que rodeiam a realidade da mulher em suas diversas fases de vida: expectativas de comportamento, maternidade, sexualidade, violência de gênero, entre outros. Leva para a cena o debate de questões relevantes relacionadas à ampliação dos direitos da mulher e da lésbica, da perspectiva de como a construção do feminino se dá na relação entre mulheres, com a sedimentação de valores (sociais, estéticos, filosóficos) que impedem o pleno desenvolvimento da consciência do ser mulher e preservam para ela um lugar de subalternidade.
Sinopse
Sob o pretexto de representar a peça A mais forte, de August Strindberg, duas atrizes e uma performer sonora se lançam em um jogo pelo qual intercambiam diversos papéis, explorando com humor ácido as construções heteronormativas do feminino sugeridas pelo texto. Indo mais longe: elas desafiam o autor sueco pela exposição de um disparador imprevisto: o corpo lésbico reivindicando o protagonismo da cena. O que diria Strindberg disso tudo?
Ficha técnica:
Direção Geral e Dramaturgia – Silvana Garcia. Elenco – Ana Paula Lopez, Sol Faganello e Camila Couto. Stand-in – Helena Miguel. Texto – Silvana Garcia, Ana Paula Lopez e Sol Faganello. Performance e Dramaturgia Sonora – Camila Couto. Direção de Movimento – Ana Paula Lopez. Direção de Arte – Sol Faganello. Iluminação – Sarah Salgado. Operação de Luz – GIVVA e Jessica Catharine. Técnica de Palco – Juliana Jurado. Costureira – Silvana Carvalho. Designer Gráfica – Manoela Silva e Natalia Sayuri. Fotografia do Espetáculo – Camila Picolo. Produção Audiovisual – Sol Faganello | Polvo. Mídias Digitais – Camila Couto. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Direção de Produção – Sol Faganello. Coordenação do Projeto – Camila Couto. Produção Executiva – Maria Carolina Ito. Produção e Realização – Damas Produções.
Senhora X, Senhorita Y
Teatro Cacilda Becker
Rua Tito, 295 – Lapa, São Paulo
Temporada: de 29 de agosto a 8 de setembro
Quinta-feira a sábado, às 21h
Domingo, às 19h (sessões dos dias 31 de agosto e 7 de setembro acessíveis em libras).
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Gratuito.
Oficina
Dia 31 de agosto, sábado, 14h às 18h.
Inscrições:
https://docs.google.com/forms/d/1Y1k7x5NDeTRX8f4IvLexRT-FSpMMejbASAndcbNSTI/edit
Sobre a Damas
A Damas Produções é uma companhia de mulheres multiartistas, fundada no ano de 2015 em São Paulo. Desde lá vêm se dedicando à produção e criação de espetáculos de teatro, trabalhos audiovisuais e ações formativas para o público adulto e infantil, com o foco em discussões de gênero e o protagonismo das mulheres. Formada pelas artistas e pesquisadoras Ana Paula Lopez, Camila Couto e Sol Faganello, em todos seus trabalhos contam com a parceria de uma equipe de mulheres e pessoas queer, desde o processo de criação, produção, até à técnica. As Damas atuam, criam, dirigem, coordenam, escrevem, movimentam, cantam, produzem e conquistam seus lugares no mundo!
Site – damasproducoes.com
Instagram e Facebook – @damasproducoes
Youtube – Damas Produções
Foto: Camila Picolo
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