Espanha, Brasil e Chile estão na programação de dança do MIRADA

MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, evento bienal realizado pelo Sesc que acontece de 8 a 18 de setembro de 2016 em Santos, traz três espetáculos e cinco performances para Santos.

 

Prestigiada no circuito internacional devido à consistência de sua produção contemporânea, a Espanha é o país homenageado em 2016 e em dança estará representada por “Libertino”, de Marcos Vargas & Chloé Brûlé, espetáculo de flamenco sintetizado em música e dança de raízes ciganas da Andaluzia, acompanhado por palmas, sapateado e violão.

Já a representação brasileira se faz presente com “Monotonia de Aproximação e Fuga para 7 Corpos”, do Grupo Cena 11 Cia. de Dança, de Florianópolis (SC). A coreografia de Alejandro Ahmed inspira-se na estrutura da composição musical clássica denominada fuga e faz uso da dança e do mover para instaurar uma instância na qual para se afirmar o mesmo é preciso ser sempre outro.

Presença frequente nas edições anteriores do MIRADA, o Chile envia também criadores de ponta. Entre eles a coreógrafa Javiera Peón-Veiga, que com “Acapela” busca unir público e bailarinos numa experiência artística destinada a resignificar os sentidos da respiração. A ação vital para qualquer ser vivo é a razão de ser dessa obra.

 

Espetáculos

 

Espanha

Libertino
O flamenco está no coração do espetáculo. Sintetizado em música e dança de raízes ciganas da Andaluzia, acompanhado por palmas, sapateado e violão, é o baile que garante a voltagem dramática no novo trabalho da Compañía Marco Vargas & Chloé Brûlé, de 2015, marco dos dez anos de estrada. Baile na acepção espanhola da evolução coreográfica, no caso, a dupla que dá nome à companhia e contracena com um ator e um cantor.

A dança, o canto e a poesia são norteadores para refletir sobre a liberdade. Uma gaiola é dos poucos objetos de cena e serve à metáfora da liberdade. Sob a penumbra e o refúgio de uma cela, um poeta é tomado por situações, personas e emoções invocadoras da memória. Ele é questionado, provocado e desafiado a decidir entre seguir isolado ou abrir-se ao fluxo da vida. Os criadores anseiam por uma atmosfera de poema sensorial escrito por meio de vozes, sonoridades, silêncios, respirações e pulsações que revelem o efeito libertador da expressão artística.

Direção, coreografia e baile: Marco Vargas e Chloé Brûlé Direção adjunta: Evaristo Romero Texto e interpretação: Fernando Mansilla Cantor: Juan José Amador Composição musical: Gabriel Vargas Desenho de luz: Carmen Mori Cenografia: Antonio Godoy Figurinos: La Aguja en el Dedo * Um espetáculo da Compañía Marco Vargas & Chloé Brûlé, em coprodução com El Mandaito Producciones, Ochocochenta IxD e Agencia Andaluza de Insituciones Culturales.

Libertino
Marcos Vargas & Chloé Brûlé
Teatro Brás Cubas
Av. Senador Pinheiro Machado, 48 – Vila Mathias – Santos
Duração: 60 minutos
Sábado, 10 de setembro, às 22h
Domingo, 11 de setembro, às 22h
Classificação: 14 anos
Ingressos:
R$ 40,00
R$ 20,00
R$ 10,00

 

Brasil

Monotonia de Aproximação e Fuga para Sete Corpos
Interligações, contrapontos, modulações e polifonias são nuanças da forma de composição musical denominada fuga. À semelhança da peça instrumental ou vocal, a dança e o mover instauram uma instância na qual para se afirmar o mesmo é preciso ser sempre outro. Sendas para o espetáculo de 2014 da companhia catarinense que há 22 anos desenvolve pesquisa e formação continuadas.

O corpo performa com o ambiente (Bach na trilha) um constante moldar-se às condições de existência. A interdependência de opostos já não é aqui apenas uma condição entre os corpos, mas, sim, entre tudo o que configura um modo de existir. Som, luz e movimento são codependentes e autores dessa experiência performativa de construção de mundo.

Sempre confluindo teoria e prática em sua lida técnica particular, o Grupo Cena 11 Cia. de Dança propõe que existir pode ser dançar. Um ato de emergência daquilo que surge das relações no tempo, com o poder de revelar novos caminhos e universos possíveis, compartilhados com o público que ocupa uma arena no palco, ou seja, no mesmo plano dos artistas.

Criação, direção e coreografia: Alejandro Ahmed Direção de trilha sonora, iluminação e direção de montagem: Hedra Rockenbach Criação, pesquisa e performance: Aline Blasius, Edú Reis, Jussara Belchior, Karin Serafin, Marcos Klann, Mariana Romagnani, Natascha Zacheo Piano (J.S. Bach, Fuga nº 22): Alberto Heller Assistência de ensaio: Malú Rabelo Assistência de criação e direção: Mariana Romagnani Assistência de direção, ensaio e figurino: Karin Serafin

Monotonia de Aproximação e Fuga para Sete Corpos
Grupo Cena 11 Cia. de Dança (SC)
Teatro Brás Cubas
Av. Senador Pinheiro Machado, 48 – Vila Mathias – Santos
Duração: 50 minutos
Terça-feira, 13 de setembro, às 22h
Quarta-feira, 14 de setembro, às 22h
Classificação: 14 anos
Ingressos:
R$ 40,00
R$ 20,00
R$ 10,00

 

Chile

Acapela
Um globo inflado abriga público e bailarinos na experiência artística destinada a ressignificar os sentidos da respiração. A ação vital para qualquer ser vivo é a razão de ser da obra em dança, disposta a estimular o sujeito a perceber sua maneira de estar no mundo e, às vezes, reinventá-la. O espaço silencioso, sensorial, pode ser ilustrado como uma instalação-pulmão e seu movimento duplo e contínuo de inspiração e expiração. A sonoridade do fôlego é sutil, um sopro permanente.
A coreógrafa Javiera Peón-Veiga fala no motor invisível dos estados de consciência, na descoberta do potencial revolucionário a suportar o tecido fisiológico, as camadas emotivas, psíquicas e energéticas. Em Acapela (2015), a investigação passa por um corpo sonoro e vibrátil. Como ativar outros modos de comunicação levando em conta a animalidade e o ritmo?
Com estudo ou residência artística na Inglaterra e na França, Javiera elege fontes diversas como as artes marciais orientais e técnica de meditação. Ela é conhecida em seu país por trazer novo alento à coreografia contemporânea.
Foto: Fabián Cambero

Direção: Javiera Peón-Veiga, Criação e Interpretação: Macarena Campbell, Carolina Cifras, Angélica Vial, Ariel Hermosilla, Emilio Edwards e Claudio Muñoz, Desenho Cênico: Antonia Peón-Veiga, Claudia Yolín, Desenho Sonoro: Angélica Vial, Produção Geral: Susana Tello Projeto Financiado Pelo Fondo Nacional De Desarrollo Cultural Y Las Artes de Chile (Apoio, Intercâmbio e Difusão Cultural 2016), Fondart Nacional Concurso 2014. Projeto Acolhido pela Ley de Donaciones Culturales de Chile

Acapela
Javiera Peón-Veiga
Ginásio Sesc Santos
Rua Conselheiro Ribas, 136 – Aparecida – Santos
Duração: 70 minutos
Sábado, 17 de setembro, às 18h
Domingo, 18 de setembro, às 18h
Classificação: 14 anos
Ingressos:
R$ 40,00
R$ 20,00
R$ 10,00

 

Intervenções

 

Brasil

Cadeia Velha
É um algoritmo de ocupação, criado no contexto do projeto Ocupação #32, SESC Santos. É uma estrutura aberta que permite transitar lógicas específicas a diferentes espaços, gerando respostas singulares. É o interesse pela condição transitória de todas as coisas, um entendimento sobre identidade e território como fluxo, um estudo de ocupação como possibilidade de re-existência. Diante da impossibilidade da permanência, a conduta performativa assume o paradoxo em looping: permanecer para mudar – mudar para permanecer.

O espaço é entendido como corpo, não moldura. Parede, teto, mão, mesa, cadeira, olhos, luz, chão, são colocados em perspectiva horizontal. O que se tem em comum, materialidade, se torna uma via concreta de relação entre corpos em direção à soma: 1 +1 =3. No trânsito entre função e ficção abre-se um espaço de transcendência da vulgaridade das coisas, em um campo de experimentação onde uma cadeira é uma cadeira e não é uma cadeira.
Foto: Camila Picolo, Juliana França, Diego Ribeiro

Direção compartilhada: Juliana França e Alejandro Ahmed Performance: Juliana França Design de Som: Tom Monteiro Sistema cenográfico e de figurino: Dani Spadotto Coprodução: SESC SP – Projeto Ocupação #32 SESC Santos Colaboração: Carolina Sudati, Diogo Damasio, Bruna Paiva e Diego Ribeiro

Cadeia Velha
Juliana França & Alejandro Ahmed
Cadeia Velha
Rua Amador Bueno, s/nº. Centro – Santos
Domingo, 11 de setembro, às 17h
Segunda-feira, 12 de setembro, às 17h
Duração: 50 minutos
Classificação: 18 anos
Grátis

 

a situação DA brasileira

A proposta é refazer a performance para vídeo de Geraldo Anhaia Mello, A
Situação (1978). Sobre a obra de referência, pode-se dizer que, diante da câmera e por aproximadamente nove minutos, um personagem devidamente vestido com terno e gravata repete a seguinte frase: “a situação poética, social, econômica e cultural brasileira”, enquanto toma goles de cachaça.

No decorrer da performance, o efeito da aguardente faz com que personagem e frase – identificados inicialmente com a figura e texto de um âncora de telejornal – seja transformado, deixando aparecer certa condição que ironiza a mensagem ideológica presente na proposição. Propõe-se como mudança fundamental na ação primeira o acréscimo da partícula “da”, junção da preposição “de” e artigo feminino “a”, antes de “brasileira” (na frase que o artista repetia). Dessa forma: a situação politica, social, econômica e cultural da brasileira.

Acrescenta-se assim, a situação ideológica que foi desmontada a goles de cachaça por Anhaia Mello – nos idos de 1978, época da ditadura militar – uma atenção especial a figuras pouco visíveis na frase original. Altera-se esta formulação genérica para algo mais particular que procura chamar atenção ao que seria especifico historicamente a figuras femininas, tanto aquelas biologicamente identificadas, assim como todas as outras que ao desconstruírem sua condição de gênero, raça, civilização, religião, etc, se associam a uma resistência minoritária no mundo.

A artista se compromete a tomar a cachaça e proferir a frase atualizada ate que não mais aguentar manter “A situação”, assim como fez Mello. O enquadramento da câmera, indumentária e outros aspectos explorados no vídeo de referência serão mantidos.

Performer: Grasiele Sousa

a situação DA brasileira
Grasiele Sousa
Cadeia Velha
Rua Amador Bueno, s/nº. Centro – Santos
Sábado, 17 de setembro, às 19h
Duração: indefinida
Classificação: 14 anos
Grátis

 

Brasil / Portugal

 

F2M2M2F
A questão de gênero é refletida de maneira pluridimensional neste trabalho da Cia. Excessos, do Porto (Portugal). O título assemelha-se mais a uma fórmula química e alude aos processos de transição hormonal e/ou cirúrgica quanto às mudanças de feminino para masculino (female to male, ou F2M) e vice-versa. Dois performers de sexos biológicos opostos posicionam-se frente a frente, corpos quase encostados, tendo à altura dos rostos um espelho de dupla face, sobre o qual cada artista carimba um beijo que dura cerca de uma hora. Os figurinos são igualmente subvertidos: ele traja roupas e acessórios tidos por femininos e ela, o contrário. A imagem proporcionada através desta ação transforma os dois beijos narcisistas em ilusões de múltiplas constituições de gênero e de variadas construções corpóreas dos sujeitos que deambulam pelo espaço.
Foto: Ana Santos

Concepção: Tales Frey Com: Tales Frey e Majú Minervino Realização: Cia Excessos.

F2M2M2F
Tales Frey
Sesc Santos
Área de Convivência
Rua Conselheiro Ribas, 136. Aparecida – Santos
Sexta-feira, 9 de setembro, às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos
Grátis

F2M2M2F
Tales Frey
Cadeia Velha
Rua Amador Bueno, s/nº. Centro – Santos
Sábado, 10 de setembro, às 17h.
Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos
Grátis

 

Brasil

Descrição de Imagem/Estudo de Paisagem

“Quem ou o quê pergunta pela imagem?”, indaga, a certa altura, o texto projetado sobre a tela branca reinante ao fundo do palco, cuja superfície é pintada ao vivo pela performer. Os traços em preto e branco aninham montanhas, árvores, pássaros e casas. A atriz não representa, antes, concentra-se na ação de pintar, à altura do chão ou com o auxílio de uma escada para alcançar as nuvens.

Nemer-Jentzsch concebe o trabalho a partir da peça que o dramaturgo alemão Heiner Müller escreveu em 1984, Descrição de Imagem, inspirado no desenho de uma estudante de cenografia esboçado como o retrato de um sonho. A encenação é minimalista. Simultaneamente, sobrepõe-se outra paisagem, a sonora. O que se vê ou se lê não necessariamente correspondem. Ao fim da performance, a pintura pronta é arrancada da parede e amassada, como a lembrar ao espectador da efemeridade do evento cênico e da existência humana.

Texto: Heiner Müller Concepção e Performance: Márcia Nemer-Jentzsch Trilha Sonora Original: Luisa Puterman. Realização: Bobik&Sofotchka.

Descrição de Imagem/Estudo de Paisagem
Márcia Nemer-Jentzsch
Cadeia Velha
Rua Amador Bueno, s/nº. Centro – Santos
Sexta-feira, 9 de setembro, às 19h.
Duração: 50 minutos
Classificação: Livre
Grátis

Descrição de Imagem/Estudo de Paisagem
Márcia Nemer-Jentzsch
Sesc Santos
Área de Convivência
Rua Conselheiro Ribas, 136. Aparecida – Santos
Segunda-feira, 12 de setembro, às 17h
Duração: 50 minutos
Classificação: Livre
Grátis

 

Não Alimente Os Animais
Calçando salto vermelho, andar por 15 minutos no interior de uma caixa de areia para gatos, em movimentos circulares. A bandeja possui espaço diminuto, cerca de dois passos para lá, dois para cá. Assim deriva o procedimento de ação de Jack Soul Revenge Girl, persona da performer Jaqueline Vasconcellos, pesquisadora de artes do corpo e realizadora de experimentos performáticos diversos acerca da violência contra a mulher. O que virá tem a ver com o corpo enquanto alteridade do outro, o corpo como zoológico, animal e jaula. O corpo como estereótipo social.
Levada a locais públicos, a performance costuma catalisar as piores ofensas desferidas cotidianamente a boa parte das mulheres passantes nas ruas brasileiras. Agressões hipocritamente escudadas no álibi do decote. A ação busca alimentar os humanos com a excitação da autocrítica quanto ao machismo.
Foto: Rodrigo Munhoz

Com: Jaqueline Vasconcellos | a.k.a. Jack Soul Revenge Girl Produção e Fotografia: Rodrigo Munhoz.

Não Alimente Os Animais
Jack Soul Revenge Girl
Sesc Santos
Área de Convivência
Rua Conselheiro Ribas, 136. Aparecida – Santos
Quinta-feira, 15 de setembro, às 21h30h
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Grátis

Não Alimente Os Animais
Jack Soul Revenge Girl
Cadeia Velha
Rua Amador Bueno, s/nº. Centro – Santos
Sexta-feira, 16 de setembro, às 19h.
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Grátis

Fotos: Divulgação

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