Como parte das comemorações pelos 100 Anos da Vila Maria Zélia, o grupo apresenta o espetáculo Teorema 21, nos dias 15, 22 e 29 de abril…
Ao entrar na Vila Maria Zélia, localizada no Belenzinho, Zona Leste de São Paulo, parece que voltamos no tempo. Datada de 1917, foi a primeira vila operária do Brasil e ainda conserva parte de sua arquitetura original. É na vila, tombada pelo Patrimônio Histórico em 1992, que o Grupo XIX de Teatro desenvolve seu trabalho de residência artística desde 2004, num intenso processo de pesquisa, difusão e formação graças ao trabalho contínuo do grupo em colaboração com a comunidade.
Com direção de Luiz Fernando Marques e Janaina Leite e dramaturgia de Alexandre Dal Farra, o espetáculo foi livremente inspirado na obra Teorema, do italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Cineasta, escritor e poeta, Pasolini é considerado um artista visionário e fazia duras críticas ao consumismo. Teorema 21 está indicado ao Prêmio Governador do Estado 2017, na categoria Teatro.
Na trama, uma família retorna ao seu antigo lar. Ao buscar encontrar novas possibilidades de existência nesse ambiente antigo, recriam as suas relações e experimentam novas formas de contato. O núcleo familiar é constituído por um patriarca, a mãe, o filho e a filha. Vive na casa, ainda, a criada Emília. Tudo parece estável. Mais do que isso, estagnado. A chegada de um estrangeiro ameaça transformar a estrutura dessa família. A ação acontece na casa onde a família morou há alguns anos e agora volta sem nenhum motivo aparente.
A peça é encenada ao entardecer na antiga escola de meninas, hoje desativada, localizada dentro da Vila Maria Zélia, um lugar quase sem teto, com as paredes em ruinas, em meio aos escombros. Ao entrar no espaço e ocupar as cadeiras giratórias dispostas aleatoriamente, o público é inserido no interior da sala de estar e pode girar as cadeiras para escolher o melhor ângulo para cada cena.
Para Luiz Fernando Marques é uma tentativa de falar sobre um mal estar geral que estamos vivendo. “A obra de Pasolini é muito importante, muito presente na peça, é a alegoria da burguesia. Só que no inicio dos anos 60 essa burguesia estava assentada numa classe e de certa forma representada pela estrutura familiar. Em Teorema 21 é como se essa classe burguesa, ou essa ideologia tivesse se esparramado para todas as classes. E esse sistema, essa engrenagem gira em qualquer lugar, seja dentro da família, dentro de um partido politico ou até mesmo dentro de um grupo de teatro. O estrangeiro chega para romper com esse sistema, mas a engrenagem se mostra forte o suficiente para se impor perante ele.”
Para o diretor a peça poderia se passar em qualquer cidade do mundo. “A burguesia é igual em todos os lugares. Temos a sensação de que esse capital mesmo desgastado, em crise não consegue ser desmontado. Ele não se destrói, ele permanece.”
Teorema 21, parte ainda de outras referências como os filmes Dente Canino (Giorgos Lanthimos, 2009), Funny Games (Michael Haneke, 1997) e o Saló (1975), do próprio Pasolini. Saló foi o último e um dos seus mais polêmicos filmes. Numa entrevista publicada seis dias após seu assassinato, Pasolini disse ao jornalista: “Pretendo que você olhe em torno e se dê conta da tragédia. Qual é a tragédia? A tragédia é que não existem mais seres humanos, existem estranhas máquinas que se batem umas contra as outras.””
Essa é a quarta parceria entre o dramaturgo Alexandre Dal Farra com o diretor Luiz Fernando Marques: Nada Aconteceu, Tudo Acontece, Tudo está Acontecendo (Grupo XIX de Teatro, 2013), Bruto (Núcleo de Dramaturgia do Sesi, 2015) e Orgia ou de Como os Corpos Podem Substituir as Ideias (Teatro Kunyn, 2015).
Ficha Técnica
Realização Grupo XIX de Teatro
Dramaturgia: Alexandre Dal Farra
Direção: Janaina Leite e Luiz Fernando Marques
Elenco: Bruna Betito, Janaina Leite, Juliana Sanches, Paulo Arcuri, Rodolfo Amorim e Ronaldo Serruya
Produção Executiva: Vanessa Candela
Cenografia: Luiz Fernando Marques e Rodolfo Amorim
Figurinos: Juliana Sanches
Contra-regra: Luciano Morgado
Vídeo: Luiz Fernando Marques
Assistência de Figurino e adereços: Gabriela Costa
Provocadores do processo: Eleonora Fabião, Miwa Yanagizawa, Luis Fuganti e Bruno Jorge
Preparação Corporal (parkour): Diogo Granato
Produtor Multimídia: Jonatas Marques
Teorema 21
Vila Maria Zélia
Rua Mário Costa 13 (Entre as ruas Cachoeira e dos Prazeres) – Belém – SP.
Tel.: (11) 2081-4647
Capacidade: 40 lugares.
Duração: 75 minutos.
Temporada: Dias 15, 22 e 29 de abril
Sábados, às 16h
Classificação etária: 18 anos.
Acesso para deficientes físicos.
Ingressos: Grátis
Reservas: sympla
Bilheteria: retirada de ingressos com 1 hora de antecedência.
Em caso de chuva não haverá espetáculo. Esta atividade é publica e gratuita garantida pela Lei de Fomento ao Teatro para cidade de São Paulo.
Estacionamento: gratuito.
Luiz Fernando Marques é formado em audiovisual pela Umesp e estudou na Escola de Arte Dramática da USP. Desde 2001, integra o Grupo XIX de Teatro, sendo diretor e cocriador de todos os espetáculos do grupo: Hysteria, Hygiene, Arrufos e Marcha para Zenturo. Fora do XIX, criou e dirigiu as peças “Negrinha”, contemplada pelo ProAC Produção, Circulação e Petrobras Circulação; “Dias raros”, com o Teatro da Travessia, com apresentações em São Paulo, Londrina e Montpellier, na França; “Festa de Separação: um documentário cênico”, que cumpriu temporada de oito meses em São Paulo e Rio de Janeiro; e “Dizer e não pedir segredo”, do Teatro Kunyn, dentro do ProAC LGBT. Desde 2008, é orientador do Núcleo de Direção da Escola Livre de Teatro de Santo André.
Fotos: Jonatas Marques / André Cherri
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