A partir de 18 de maio, o Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros recebe a temporada de Ubu Rei, texto de Alfred Jarry, com Marco Nanini, e Cia. Atores de Laura, com Rosi Campos como atriz convidada, produção de Fernando Libonati e direção de Daniel Herz…
Apesar de hoje ser considerado um clássico, o texto de Jarry é um ícone do Teatro Moderno e influenciou movimentos que viriam a seguir, como o Surrealismo, o Dadaísmo e o Teatro do Absurdo. Em um flerte constante com o non-sense, o texto mostra a saga do covarde Pai Ubu, que usurpa a Coroa Real e, ao lado de Mãe Ubu (Rosi), se envolve nas mais diversas situações nesta busca desenfreada e voraz pelo poder.
‘É uma história de voracidade desenfreada, de personagens sem qualquer freio ético ou equilíbrio. A atualidade do texto é tão grande que não precisamos fazer qualquer pontuação sobre isso na montagem’, conta Daniel Herz, que fez algumas leituras com Nanini e a companhia ao longo do último ano e todos foram unânimes ao eleger ‘Ubu Rei’. A peça ganhou adaptação de Leandro Soares, que também assinou a versão de ‘A Importância de Ser Perfeito’ (2014), dirigida por Herz.
‘Eu vi a montagem de ‘A Importância…’ no Galpão Gamboa [no Rio de Janeiro] e fiquei louco. A partir de então, começamos a nos aproximar e Daniel chegou com uma série de textos, que tivemos tempo de ler e pensar em cada possibilidade de trabalho. Depois de ler ‘Ubu’, ninguém mais teve dúvidas de que seria ele’, lembra Nanini. ‘Poucas vezes, temos a possibilidade de fazer um texto que diz exatamente o que queremos falar neste momento. Tudo se casou perfeitamente’, completa Herz.
Ubu Rei: Um Anti-Herói Covarde E Despudorado
Daniel Herz conta que Jarry utilizou muitas referências de Shakespeare em toda a sua obra. No caso de ‘Ubu’ existe a inspiração básica em ‘Macbeth’, com a figura de Lady Macbeth/Mãe Ubu, que induz o marido a conspirar contra o Rei e conquistar o poder. Longe da apolínea poesia shakespeariana, desta vez entram em cena elementos como o grotesco e o absurdo.
Quando estreou, em 10 de dezembro de 1896, o texto chocou a plateia francesa por conta de seus palavrões e da arrojada linguagem cênica, ao quebrar a solenidade e a pompa que dominavam o cenário teatral da época. Sob uma chuva de vaias, o espetáculo fez apenas duas apresentações e saiu de cartaz. Ao longo da vida, Jarry reescreveu a peça, que somente foi reconhecida pela crítica após a sua morte precoce, aos 34 anos.
Anos mais tarde, ‘Ubu Rei’ seria considerado um marco na História do Teatro, tanto por sua estrutura dramatúrgica quanto por seu protagonista. ‘Ele é um anti-herói, o primeiro anti-herói que apareceu nos palcos. Ele é um déspota despudorado, assassino, mentiroso, mas de quem você acaba gostando. É um tipo de personagem que desafia e que gosto muito de visitar’, reflete Nanini.
Para Daniel Herz, o grande desafio da encenação atual é justamente trazer de volta o frescor e a provocação do original. Nesta empreitada, ele contará com uma ficha técnica de peso que inclui Bia Junqueira (cenografia), Antônio Guedes (figurinos) e Aurélio de Simoni (iluminação).
Com produção de Fernando Libonati, a montagem traz ainda a presença de Rosi Campos como atriz convidada. Curiosamente, ela já interpretou o mesmo papel em ‘Ubu, Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes’ (1985), montagem do Teatro do Ornitorrinco para a obra de Jarry, com direção de Cacá Rosset. Outros quatro jovens atores se juntam aos Atores de Laura (Ana Paula Secco, Leandro Castilho, Marcio Fonseca, Paulo Hamilton e Verônica Reis) neste trabalho: Cadu Libonati, Tiago Herz, João Telles e Renato Krueger.
A companhia – que fez uma série de oficinas e aprendeu a tocar diversos instrumentos – é responsável por toda a trilha sonora executada ao vivo. Membro do grupo, Leandro Castilho assina a Trilha Original, a Direção Musical e também está em cena.
Ficha Técnica
Marco Nanini em Ubu Rei
De Alfred Jarry
Direção: Daniel Herz
Atriz Convidada: Rosi Campos
Com a Cia. Atores de Laura: Ana Paula Secco, Leandro Castilho, Marcio Fonseca, Paulo Hamilton e Verônica Reis, Cadu Libonati, João Telles, Tiago Herz e Renato Krueger.
Produzido por Fernando Libonati
Adaptação: Leandro Soares
Cenografia: Bia Junqueira
Figurinos: Antônio Guedes
Iluminação: Beto Bruel
Direção Musical: Leandro Castilho
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Design Gráfico: Gringo Cardia|
Produção: Pequena Central
Ubu Rei
Sesc Pinheiros
Teatro Paulo Autran
Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros – SP.
Tel.: 3095-9400
Capacidade: 1010 lugares
Duração: 90 minutos
Temporada: De 18 de maio a 25 de junho.
Quintas, sextas e sábados, às 21h
Domingos e feriados, às 18h
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos.
Ingressos:
R$ 50,00 (inteira)
R$ 25,00 (meia entrada: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
R$ 15,00 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes)
Obs.: as sessões dos dias 20 e 21/5 integram a programação da Virada Cultural e terão ingressos gratuitos, distribuídos em data a ser divulgada, com limite de dois ingressos por pessoa
Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h.
Domingos e feriados das 10h às 18h.
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h30; Sábado, das 10h às 21h30; domingo e feriado, das 10h às 18h30. Taxas / veículos e motos: Credenciados plenos no Sesc: R$ 12 nas três primeiras horas e R$ 2 a cada hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 18,00 nas três primeiras horas e R$ 3 a cada hora adicional. Para atividades no Teatro Paulo Autran, preço único: R$ 12 (credenciados plenos) e R$ 18 (não credenciados).
Transporte Público: Metrô Faria Lima – 500m / Estação Pinheiros – 800m
Marco Nanini
Com a estreia de ‘Ubu Rei’, Marco Nanini reafirma valores fundamentais em sua trajetória profissional, marcada por um repertório de autores que sempre fugiram do óbvio e pela constante busca por novos caminhos a cada trabalho. Protagonista da anárquica farsa escrita em 1896 por Alfred Jarry, Pai Ubu – um dos primeiros anti-heróis do teatro – vem se juntar a uma vasta galeria de personagens imortalizados por Nanini nas últimas cinco décadas, em sua produtiva carreira teatral, cinematográfica e televisiva.
O currículo de Marco Nanini não deixa dúvidas: estamos diante de um intérprete de exceção. A vastidão de seu repertório de personagens é tão grande quanto a vontade de buscar novos caminhos e novos parceiros artísticos para os seus projetos teatrais.
Entre os autores, ele já emprestou corpo e voz a clássicos de Molière (‘O Burguês Ridículo’), Edward Albee (‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’), Dias Gomes (‘O Bem Amado’) e Arthur Miller (‘A Morte do Caixeiro Viajante’), assim como já se lançou em textos contemporâneos de Nicky Silver (‘Os Solitários’, ‘Pterodátilos’), João Falcão (‘Uma Noite na Lua’), Jô Bilac (‘Beije Minha Lápide’), Gerald Thomas (‘Um Circo de Rins e Fígados’). Trabalhou ainda com textos de Oduvaldo Vianna Filho (‘Mão na Luva’), Augusto Boal (‘O Corsário do Rei’), Mauro Rasi (‘Doce Deleite’) e Flávio Márcio (‘Tiro ao Alvo’).
Desde a década de 1970, passou a produzir os próprios espetáculos e conquistou a autonomia necessária para escolher e desenvolver seus projetos teatrais. Depois de ‘O Mistério de Irma Vap’ (texto de Charles Ludlan e direção de Marília Pêra) – um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, com inacreditáveis onze anos em cartaz – ele firmou parceria com o produtor Fernando Libonati e, juntos, criaram a produtora Pequena Central.
Como ator, ele recebeu todos os principais prêmios da cena cultural brasileira. Entre os troféus que acumula, estão os prêmios Molière, Shell, APTR (incluindo Prêmio Especial pelo Conjunto da Obra), APCA, Apetesp, Bravo (Artista do Ano), Mambembe, Sharp, Qualidade Brasil, Quem, Contigo, Ibeu, Governador do Estado e Faz Diferença.
Cia. Atores De Laura
Se as companhias teatrais são cada vez mais raras no Brasil, o que dizer de um grupo que permanece há 25 anos junto e com basicamente a mesma formação por todo este tempo? Fundada em 1992 a partir do encontro de seus integrantes na Casa de Cultura Laura Alvim, a companhia se notabilizou por um trabalho que privilegia a potência de criação do ator.
‘Procuramos estimular sempre a potência de cada um de criar, de poder inventar e sugerir. Só acredito no teatro desta forma democrática, em que o ator não é somente alguém que executa, mas é, fundamentalmente, um criador’, resume Daniel Herz.
Os mais de vinte espetáculos montados refletem a preocupação com a pesquisa de novos autores e temáticas. Entre a produção de textos inéditos e a releitura de autores consagrados, se destacam as versões da companhia para a obra de Nelson Rodrigues (‘Decote’), Molière (‘As Artimanhas de Scapino’) e Shakespeare (‘O Conto do Inverno’).
Recentemente, o grupo liderou as indicações para os principais prêmios teatrais e conquistou elogios da crítica pelas bem-sucedidas montagens de ‘O Pena Carioca’, sobre a obra de Martins Pena.
Alfred Jarry
Alfred Jarry se tornou conhecido não somente pelos textos, mas também por seu excêntrico estilo de vida. Aluno precoce, escreveu com 15 anos de idade a sua primeira obra, ‘Os Poloneses’, cujo principal personagem (Ubu Rei) se transformou em um marco no teatro surrealista.
Dois anos depois, se mudou para Paris, com a intenção de ingressar na Escola Normal Superior, mas não conseguiu passar no exame de admissão. No dia 10 de dezembro de 1896, ‘Ubu Rei’, sua peça mais importante, estreou no teatro. Inicialmente escrita para satirizar o aspecto rude e grosseiro de um professor do universo acadêmico, a peça influenciou decisivamente movimentos artísticos como o Dadaísmo, o Surrealismo e o Teatro do Absurdo, marcando as próximas gerações com sua visão estética vanguardista e sarcástica da nova sociedade burguesa que se iniciava.
Escreveu também poesia simbolista e um romance, ‘O Supermacho’. Foi autor do livro ‘Gestos e Opiniões do Doutor Faustroll, Patafísico’, obra que só foi publicada postumamente. Neste livro, Jarry desenvolveu uma esdrúxula filosofia baseada na superação da metafísica e na desconstrução do real em direção ao absurdo.
Acometido de tuberculose e com a saúde já debilitada pelo uso abusivo de álcool e drogas, Alfred Jarry morreu aos 34 anos e deixou numerosos escritos, no campo da poesia, da crítica, do ensaio e do teatro.
Fotos: Carlos Cabera
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