A Melancolia de Pandora estreia no Sesc Belenzinho

O espetáculo estreia no dia 15 de julho, com direção de Steven Wasson, e reúne referências e ideias de diversas personagens míticas e arquetípicas personificadas na mente de uma mulher solitária.

Uma mulher que deseja apenas saber se suas memórias são reais e a sua jornada para descobrir quem realmente ela é são o mote de A Melancolia de Pandora

Com texto e direção de Steven Wasson e colaboração de Corinne Soum, a montagem traz no elenco os atores Bete Coelho, Djin Sganzerla, Ricardo Bittencourt e André Guerreiro Lopes, que assina a codireção e por seis anos foi membro do Theatre de L’Ange Fou em Londres.

O artista norte-americano Steven Wasson e a francesa Corinne Soum foram os últimos assistentes de Etienne Decroux, “pai da mímica moderna”. Os dois são diretores da companhia teatral Theatre de l’Ange Fou, com mais de 30 anos de existência, e do recém-criado White Church Theatre Project, nos Estados Unidos.

A Melancolia de Pandora é uma peça de teatro de movimento absurda, cheia de ironia, drama e humor, pontuada por um texto poético. A montagem reúne três companhias distintas – Theatre de L’Ange Fou e as brasileiras BR116 e Lusco-Fusco – com o intuito de unir forças e talentos, além de contar com ideias, referências e influências oferecidas pelas singulares características artísticas de cada uma. A ideia de juntar as três companhias partiu da atriz Bete Coelho, que viu a oportunidade de potencializar o encontro com um espetáculo visual e com uma camada contemporânea, além de atravessar temáticas e dialogar com o trabalho dos três grupos.

O anjo Pandora

Para Steven Wasson A Melancolia de Pandora apresenta referências a diversos personagens da literatura clássica, além de buscar inspirações nas tragédias, nos contos fantásticos e seus mitos. No início do século 20, o Doutor Rudolph Ahriman (André Guerreiro Lopes) ergue-se solitário no panteão dos “Deuses Alienistas”, explorando o submundo da psique humana. Imaginando-se como um “libertador” da mente humana, Doktor Ahriman é conhecido por sua teoria da “re-personificação” e destruição dos mitos como um calmante psicológico para o homem mitologicamente perturbado. “O maior inimigo pessoal de Ahriman é Deus e ele acredita que Deus o teme, por isso coloca em seu caminho obstáculos e mitos, recusando a se apresentar ao grande e misterioso Doutor. Para Ahriman, este Deus é um charlatão, uma não existência, um mito, uma doença”, explica o autor e diretor.

A paciente atual do Doutor Ahriman é uma mulher sem nome, sofrendo, ele pensa, de uma imaginação excessivamente ativa. Conduzida por um anjo, chamado Pandora (Djin Sganzerla), a mulher tenta reconstruir seus estilhaços de memória, já que passou a maior parte de sua vida na cama, com medo de sair dos limites de seu quarto. Ela se lembra vagamente de uma época em que amava um jovem rapaz, que a amava também, mas que foi perdido para sempre em alguma guerra esquecida. Para o Doutor, a mulher está perdida na Terra da Melancolia, desejando apenas saber se suas memórias são reais e, portanto, saber quem é.

A saga para responder à pergunta “Quem sou eu?” vai levar a mulher por uma jornada de descoberta de quem ela é ou quem não é. “A terapia do Doutor vai conduzi-la através da busca por seu amor perdido, atravessando cenas de amor jovial, festas, infernos administrativos, burocracia, guerra, perda, morte e transfiguração. Enquanto as memórias da mulher se revelam e desdobram, o confronto final do Doutor com seu arqui-inimigo Deus se aproxima, ou assim ele pensa”, conta a atriz Bete Coelho, que interpreta essa misteriosa mulher.

A figura “chapliniana” do mordomo Max (Ricardo Bittencourt), fiel escudeiro do Doutor Ahriman, fecha o rol de personagens. O serviçal, alter ego de Ahriman, está disposto a assumir todos os personagens necessários para a pesquisa do Doutor, mas ele se apaixona facilmente e acredita em finais felizes.

Ilusão de Ótica

Com cenografia de Steven Wasson e Beto Mainieri, adereços de George Silveira e figurinos de Cássio Brasil, A Melancolia de Pandora tem uma estrutura toda criada para provocar efeitos de ilusão de ótica no público.

Gregory Slivar concebeu a paisagem sonora, dando um ar misterioso para a trilha, que varia de uma leveza quase infantil a uma atmosfera mais escura e assustadora. Os sons se misturam com vozes, sussurros, corvos grasnando, o chilrear dos pássaros matinais, o vento, chuva, trovões, sons de guerra, portas rangendo, passos, cavalos a galope, risos e o ritmo incessante de uma máquina de impressão.

Elemento importante na encenação, as vídeo-projeções criadas pelo artista Gabriel Fernandes, integrante da Companhia BR116, transforma o placo em um quadro onírico e muitas vezes sombrio, como um filme noir, e exterioriza para todos os seus cantos o que se passa na intrigante mente dos personagens, fazendo um retrato psicológico da ação.

Ficha Técnica

Dramaturgia: Steven Wasson com colaboração de Corinne Soum
Tradução: Marcos Renaux
Concepção e Direção: Steven Wasson
Codireção: André Guerreiro Lopes
Elenco: Bete Coelho, Djin Sganzerla, André Guerreiro Lopes e Ricardo Bittencourt
Direção de Imagens: Gabriel Fernandes
Figurinos: Cássio Brasil
Cenografia: Steven Wasson e Beto Mainieri
Adereços: George Silveira
Iluminação: Wagner Antonio
Direção de Cena: Rafael Bicudo
Direção Musical: Gregory Slivar
Direção de Produção: Fá Almeida
Produção: Diorama Produções & Eventos
Realização: Sesc São Paulo

 

A Melancolia de Pandora
Sesc Belenzinho
Teatro
Rua Padre Adelino, 1000 Belenzinho – SP
Tel.: (11) 2076-9700
Capacidade: 392 lugares
Estreia dia 15 de julho, sexta-feira, às 21 horas
Temporada até 7 de agosto:
De quinta-feira a sábado às 21 horas
Domingo às 18 horas
Duração: 70 minutos
Classificação etária: maiores de 10 anos
Ingressos :
R$ 40,00 (inteira)
R$ 20,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante); (meia: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentado e pessoa com deficiência); R$ 12,00 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes).

Acesso para deficientes físicos
Horário de Atendimento do Sesc Belenzinho – De terça a sexta-feira das 9h às 21h30 e sábado, domingo e feriado das 9h às 19h30 (ingressos à venda em todas as unidades do SESC).. Estacionamento:
R$ 10,00 a primeira hora e R$ 2,50 por hora adicional e R$ 4,50 a primeira hora e R$ 1,50 por hora adicional (credencial plena). Valor promocional para espetáculos noturnos pagos a partir das 17h mediante apresentação de ingresso – R$ 11,00 e R$ 5,50 (credencial plena).

Fotos: Jennifer Glass

 

Theatre de l’Ange Fou
O Theatre de l’Ange Fou e a International School of Corporeal Mime (anteriormente Ecole de Mime Corporel Dramatique) foram fundados em Paris em 1984 por Steven Wasson e Corinne Soum, os últimos assistentes de Etienne Decroux, “pai de Mímica Moderna”. Transferidas para Londres em 1995, a Escola e a companhia estão agora permanentemente estabelecidas nos Estados Unidos com The White Church Theatre Project. Theatre de l’Ange Fou já criou mais de 20 peças originais, bem como adaptações, variando de duetos até trabalhos com grande elenco: The Little Dictator – parts I & II, Beyond the Garden, Crusade, Entangled Lives, The Government Inspector, The Orpheus Complex, Across the Seven Seas, e as mais recentes, A Promethean Dream, Etienne Decroux – The Father of Modern Mime, Waiting for Ulysses, A Strange Day for Mister K, Memory of Dust …, abordando diferentes aspectos das grandes questões humanas. Impressões da mente, os absurdos da vida e questões decorrentes são uma constante fonte de inspiração tanto para os diretores como para os atores. Usando a Mímica Corporal como base de seus trabalhos criativos, a construção da dramaturgia de suas peças toma a forma de uma jornada, aonde as personagens vão se transportando para variados espaços e existências, alguns reais, alguns imaginários. O mundo do Theatre de l’Ange Fou, o mundo visionário do contraste entre luz e escuridão, da metamorfose, é preenchido por uma família de arquétipos inventados em ambientes desconhecidos embora familiares. Através de suas várias produções, o Theatre de l’Ange Fou explora as infinitas possibilidades de interação entre o movimento corporal e o texto falado, a música e o cinema. Paralelamente a esse desenvolvimento artístico próprio, Steven Wasson e Corinne Soum, em 1992, assumiram o desafio de reintroduzir para o público o Repertório de Etienne Decroux com sua reconstrução e apresentação pelo Theatre de l’Ange Fou da maioria de suas peças mais importantes (incluindo La Meditation, Les Arbres, L’Usine…) condensadas em The Man Who Preferred to Stand, e mais recentemente Passage of Man on Earth, Resonance, A Promethean Dream, Etienne Decroux – The Father of Modern Mime. Esse foi o começo do processo de transmissão que resultou no alicerce dos atuais ensinamentos do White Church Theatre Project.

Cia BR116
A Cia BR116 nasceu de um encontro feliz entre pessoas de longas e reconhecidas trajetórias teatrais que, além de ter o teatro como o seu foco fundamental, reconhecem na contracenação (em seus significados mais amplos) o caminho mais rico para a criação. Bete Coelho, experiente atriz e diretora com vários prêmios, trabalhou com grandes diretores, como Zé Celso, Antunes Filho, Gerald Thomas, Jô Soares, Paulo Autran, Bob Wilson e Gabriel Villela. O ator Ricardo Bittencourt, um dos fundadores do Grupo Los Catedrásticos e um dos mais atuantes atores baianos de sua geração, também premiado, atuou em dezenas de espetáculos dos mais variados estilos e diretores, além de ter trabalhado por 10 anos no Teatro Oficina. Gabriel Fernandes, cineasta formado pela FAAP, nos seus muitos anos no Teatro Oficina especializou- se na direção de imagens de espetáculos teatrais unindo o cinema e o teatro. A união desses três artistas deu o impulso inicial para a formação de uma Rede de parceiros e colaboradores capitaneada pela advogada Cris Olivieri, da Olivieri e Associados, também presidente da Cia BR116, por Maurício Magalhães, presidente da Agência TUDO e pela Produtora Fá Almeida, Diretora Executiva da Diorama Produções e Eventos. Com apoio destes e de diversos outros parceiros, a Cia criou o primeiro espetáculo, O Homem da Tarja Preta, estreia do psicanalista Contardo Calligaris no Teatro. A BR116 traz em suas criações, espetáculos que primam pela lapidação das palavras com seus múltiplos signos e sentidos, além de investir na dramaturgia contemporânea contundente e provocativa e na contínua pesquisa imagética. Entre os espetáculos do repertório estão: Terceiro Sinal e Típico Romântico, de Otavio Frias Filho; Cartas de Amor para Stalin, do espanhol Juan Mayorga e direção de Paulo Dourado; Adeus Doutor, de Betty Milan; Cacilda!!!, de Zé Celso e Antígona, de Aninha Franco, entre outros.

Cia Lusco-Fusco
A Cia Lusco-Fusco é um núcleo de criação teatral que pesquisa a intersecção entre as linguagens do teatro, cinema e artes visuais para investigar temas ligados à contemporaneidade. Fundada em 2007 por André Guerreiro Lopes e Djin Sganzerla, a Cia tem o ator e sua fisicalidade como centro de sua pesquisa. A companhia inclui em seu repertório os espetáculos teatrais Ilhada em Mim – Sylvia Plath, com dramaturgia de Gabriel Mellão, indicado ao Prêmio APCA 2014 de Melhor Direção; O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência, a partir das obras Inferno e Um Sonho de A. Strindberg (2013), eleito o 2º Melhor Espetáculo do ano pelos críticos no Guia da Folha; O Belo Indiferente, de Jean Cocteau (2011); Estranho Familiar, a partir do conto O Espelho de Guimarães Rosa (2010); Tragicomédia de um Homem Misógino, de Evaldo Mocarzel (2009); Um Sonho, de A. Strindberg (2007) e o filme O Voo de Tulugaq (2010), premiado como Melhor Filme da Crítica no 14ºFestival Luso-Brasileiro, Portugal, e apresentado do NY Film Festival Lincoln Center, Wexner Center for the Arts, Ohio, Festival do Rio, entre outros.

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