Sesc Pinheiros recebe Jacy

Teatro documental do Grupo Carmin, de Natal, estreia no Sesc Pinheiros, no dia 19 de janeiro…

 

 

 

A partir de uma frasqueira encontrada pelo grupo com radiografias e uma agenda telefônica pertencentes a Jacy, a peça remonta a trajetória de uma mulher que atravessou a Segunda Guerra Mundial, a Ditadura Militar no Brasil, conflitos políticos no Rio Grande do Norte, viveu um amor estrangeiro e terminou seus dias sozinha em Natal.

Prestes a completar dez anos de estrada em 2017, o Grupo Carmin de Natal/RN estreia seu mais recente espetáculo, Jacy, no dia 19 de janeiro de 2017, no Sesc Pinheiros (R. Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, SP). O texto conta a história real de Jacy, cujos pertences foram encontrados em 2010, dentro de uma frasqueira, abandonada na Av. Prudente de Morais, em Natal/RN. Jacy nasceu em 1920 e na década de 1940, durante a 2ª Guerra Mundial, se apaixonou por um capitão americano. Entre os anos 1960-1970 atravessou a ditadura no coração político do Brasil e terminou seus dias, na primeira década dos anos 2000, sozinha, em Natal.

Jacy foi escrita pelos filósofos e professores Iracema Macedo (Instituto Federal Fluminense – Cabo Frio, RJ) e Pablo Capistrano (Instituto Federal do Rio Grande do Norte), que assina a dramaturgia junto com Henrique Fontes, também diretor da peça. O espetáculo circulou por 18 estados brasileiros em 2016 e foi eleito pelo jornal O Estado de S.Paulo um dos dez melhores espetáculos do Brasil em 2015.

“A peça é construída misturando ficção e realidade, mas sempre com base no que a gente encontrou. E tem alguns mistérios que até hoje não encontramos explicação. Tudo isso é relatado na peça,” disse Quitéria Kelly, atriz e co-criadora da peça.

O processo de investigação para criação da peça revelou fatos que arrepiaram seus criadores. Coincidências como o fato de Jacy ter tido seu primeiro emprego na mesma rua da Casa da Ribeira (teatro onde o grupo ensaia), na rua Frei Miguelinho, na Ribeira.

“O processo de criação foi surpreendente. A investigação feita, a partir dos vestígios que encontramos na frasqueira, revelaram fatos curiosos que têm ligação direta com a história de Natal e do Brasil, desde a 2ª Guerra Mundial, passando pela ditadura militar e chegando até ao emaranhado político que manda no estado há quase um século” disse Henrique Fontes, diretor da peça. Um desses mistérios se esconde atrás de uma pilha de recibos de correspondências, referentes a encomendas mensais postadas por Jacy para um homem, no RJ. Estas encomendas nunca pesaram mais que 20 gramas e o seu conteúdo, ninguém sabe.

Um assunto que atravessa toda a peça é a forma como a sociedade brasileira trata os mais velhos e suas histórias. De acordo com o diretor, há uma cultura de supervalorização dos mais jovens e de descarte dos mais velhos. E o que é mais assustador é a ausência de políticas públicas efetivas para o idoso.

Segundo dados do censo 2010 do IBGE, a população de idosos no Nordeste, por exemplo, cresceu de 5,1% em 1991 para 7,2% em 2010. Segundo a Fundação Perseu Abramo, responsável pela pesquisa que investiga o crescimento e a qualidade de vida dos idosos no Brasil, esse crescimento saltará de 8% para 16% ao ano, nos próximos 25 anos.

Assim, Jacy representa a vida de muitos que envelhecem e tem suas histórias jogadas, literalmente, no lixo. Ao mesmo tempo, ela relata o descaso da sociedade com os mais velhos e com o próprio destino das cidades que também envelhecem e que, em muitos aspectos, são abandonadas.

Autores do texto, dramaturgia e direção

Iracema Macedo nasceu em Natal/RN, em 1970. Formou-se em filosofia em 1991 na UFRN e concluiu o mestrado na mesma área na UFPB, em 1995. Na Unicamp, defendeu o doutorado, também em filosofia, em 2003. Durante alguns anos, viveu em Ouro Preto-MG e trabalhou na UFMG. Atualmente, é professora no Instituto Federal Fluminense, IFF-Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro.

Pablo Capistrano é professor de Filosofia e Direito no IFRN. Mestre em metafísica e Doutor em Literatura pela UFRN, participou nos anos 90 do grupo de ação cultural Sótão 277 e é autor de diversos livros. Colaborou com diversos jornais como Jornal de Hoje (Natal), A Tarde (Salvador), O Mossoroense (Mossoró), Tribuna do Norte (Natal), Diário de Natal e O Poty (Natal), O Metropolitano (Parnamirim).

Henrique Fontes é ator, diretor dramaturgo, Henrique Fontes é sócio fundador e atual Presidente da Casa da Ribeira (desde 2001). Nascido em 1975, em Manaus/AM, mora em Natal desde 1986 e trabalha profissionalmente na área cultural desde 1993. Trabalha com o Grupo Teatro Carmin desde sua formação em 2007. Como ator esteve em mais de 30 produções. Como diretor tem 11 trabalhos estreados, entre eles: Por Que Paris? (2015); Lamatown (2014); Jacy (2013), A Estrada (2013), Os Perigos de Vitoria (2013); Flúvio e o Mar (2010); A Mar Aberto (2008), Pobres de Marré (2007), entre outros. Como dramaturgo tem nove textos escritos e montados, entre eles: Desaparecidos; Flúvio e o Mar; A Mar Aberto; Pobres de Marré, entre outros.

Ficha Técnica
Textos: Pablo Capistrano e Iracema Macedo
Dramaturgia: Henrique Fontes e Pablo Capistrano
Direção: Henrique Fontes
Assistente de direção: Lenilton Teixeira
Consultoria: Marcio Abreu
Atores: Quitéria Kelly e Henrique Fontes
Videomaker: Pedro Fiúza
Designer de luz: Ronaldo Costa
Direção artística e cenografia: Mathieu Duvignaud
Trilha sonora original: Luiz Gadelha e Simona Talma
Coordenação de produção: Quitéria Kelly
Assistente de produção e desenhista: Daniel Torres
Designer gráfico: Vitor Bezerra
Fotógrafo: Vlademir Alexandre

 

 

“JACY” – Com Grupo Carmin (RN)
Sesc Pinheiros
Auditório
Rua Paes Leme, 195, 3º andar – Pinheiros – SP
Tel.: 3095-9400
Capacidade: 98 lugares
Duração: 60 minutos
Temporada: De 19 de janeiro a 18 de fevereiro
Quinta-feira a sábado, às 20h30
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Ingressos:
R$ 25,00 (inteira)
R$ 12,50 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
R$ 7,50 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10h às 18h.
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 22h; Sábado, domingo, feriado, das 10h às 19h. Taxas / veículos e motos: Credenciados plenos no Sesc: R$ 12 nas três primeiras horas e R$ 2 a cada hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 18,00 nas três primeiras horas e R$ 3 a cada hora adicional. Para atividades no Teatro Paulo Autran, preço único: R$ 12 (credenciados plenos) e R$ 18 (não credenciados).
Transporte Público: Metrô Faria Lima – 500m / Estação Pinheiros – 800m

 

O Grupo Carmin
O Grupo Teatro Carmin foi criado em janeiro de 2007, em Natal, pelas atrizes Quitéria Kelly e Titina Medeiros que já trabalhavam juntas desde o ano 2000 e tinham o desejo de pesquisar temas urbanos que pudessem ser retratados de forma cômica. A busca pelo riso não era gratuita e deveria proporcionar abertura para reflexão ou, como quis Georges Bataille, para uma atitude filosófica. Motivadas pela pesquisa proposta pelo Grupo Clowns de Shakespeare sobre moradores de rua do bairro da Ribeira, Quitéria e Titina convidaram o diretor e dramaturgo Henrique Fontes e o cenógrafo Mathieu Duvignaud para juntos aprofundarem a pesquisa sobre o universo dessas pessoas que vivem nas ruas. O processo durou quase seis meses de investigação profunda nas ruas e visitas a postos de saúde, além do trabalho de criação em sala.

O resultado da pesquisa foi a peça Pobres de Marré, que propõe um olhar sobre a vida de duas moradoras de rua que esperam a chegada de um dinheiro prometido. O espetáculo estreou em abril de 2007 e ainda se mantém em repertório. Desde a estreia, o grupo realizou mais de 60 apresentações, fez três temporadas em Natal, percorreu 15 cidades entre os estados do Nordeste e se apresentou na França. No currículo da peça estão o XIV Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, em 2007, quando ficou em 2º lugar eleito pelo júri popular; Festival Agosto de Teatro; Natal Fest em Cena; II Festival BNB de Artes Cênicas, III Semana de Teatro no Maranhão e 8ª Festa da Renascença Pernambuco Nação Cultural, os três em 2008; Projeto Ato Compacto BNB 2009 no Ceará e na Paraíba; Festival International de Théâtre de Rue d’Aurillac, na França; e, recentemente, o Festival de Teatro de Curitiba – Fringe 2013; entre outros.

Em 2009, o Grupo Carmin também foi convidado pela Prefeitura do Natal a dirigir o espetáculo natalino da cidade, quando Henrique Fontes e Quitéria Kelly assinaram a direção. O auto de Natal chamado Maria, José e o Menino Jesus, contou com a participação de 120 atores e teve mais de 12 mil espectadores em três noites de apresentação.

No ano seguinte, o grupo mergulhou em estudos sobre a exclusão social retratada em obras teatrais clássicas. O texto de A Alma Boa de Setsuan, de Bertold Brecht, levou à montagem do experimento Olha a água, apresentado por Henrique e Quitéria na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A partir daí, teve início a pesquisa sobre exclusão na vida doméstica, explorado no mais atual espetáculo do grupo, Jacy.

Em 2011, ainda motivados pela temática da segregação social, os integrantes do Carmin decidiram levantar contos infantis que abordassem o tema, levando à criação de Castelo de Lençóis, uma peça que fala da exclusão e do preconceito de classe através de mitos e contos tradicionais da realeza. Os Três Reis Magos, símbolo da cidade do Natal, foi o mote utilizado para abordar temas como a soberba, a vaidade e a ganância.

Em 2013, o Carmin estreia Jacy com grande aceitação de público e crítica. Em 2015 entra na lista das 10 melhores do jornal Estado de São Paulo e em 2016 fez apresentações em 16 estados do Brasil pelo projeto Palco Giratório do Sesc e uma temporada no Sesc Copacabana, no RJ. O grupo recebeu o prêmio Cenym como melhor Grupo de Teatro de 2016.

Ainda em 2015 estreia Por Que Paris? sobre a vida e obra de Marguerite Duras e os ataques terroristas na França. Em 2016, o Grupo Carmin entrou no seu nono ano de existência e tem Quitéria Kelly, Henrique Fontes, Daniel Torres, Pedro Fiuza, Robson Medeiros e Pablo Capistrano como colaboradores fixos e Alessandra Augusta como atriz convidada. O tema da exclusão persiste na pesquisa do grupo, buscando agora uma nova forma de comunicar através da linguagem do Teatro Documental ou documentário, a qual o grupo tem investigado mais profundamente. Para 2017, na comemoração dos seus 10 anos, o Grupo Carmin estreará uma nova obra intitulada: A Invenção do Nordeste”, a partir do livro homônimo do historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr.

Fotos: Daniel Torres

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